domingo, 13 de fevereiro de 2011

Mubarak renúncia. Egípcios terão que lutar por mudanças para valer

. Mubarak renúncia, um dia após não querer largar o osso e ter dinheiro bloqueado na Suíça, foi descartado pelos militares e EUA. Militares assumem o poder e tentam desmontar as mobilizações. Mas os militares e seus interesses econômicos permanecem apegados ao poder e vão querer repactuar o sistema político preservando-se. Juventude e trabalhadores egípcios terão de manter pressão por mudanças pra valer e não há alternativa à legitimidade da força e voz do povo.

Mudança para valer
Marcos Oliveira e Sergio Souto, 11/02/2011

A revolução sustentada pelo povo egípcio, nos quase 20 dias em que ocupou as ruas do país, não pode ser apropriada e diluída por qualquer aventureiro ou potências que, durante cerca de 30 anos, sustentaram política, militar e financeiramente a ditadura de Mubarak. A energia e bravura mostrada pelos diferentes atores sociais que enfrentaram o governo, dificilmente, aceitaram que, mais uma vez, prevaleça o conselho de Tancredi ao príncipe Salina, em O leopardo, de Luchino Visconti: "Algo precisa mudar, para que tudo permaneça igual." Os egípcios, como confirmar o crescimento das multidões nas ruas, após concessões de oposicionistas vacilantes à ditadura decadente, querem a mudança do modelo, não apenas do ditador de plantão.



MILITARES SUBSTITUEM MUBARAK PROMETENDO NÃO IGNORAR A VOZ DAS RUAS
Monitor Mercantil, 11/02/2011

A renúncia do ditador egípcio, Hosni Mubarak, depois de 18 dias de uma revolução que varreu o país, não encerra o processo de mudanças no Egito. O reconhecimento foi feito pelo Conselho Supremo das Forças Armadas do Egito, para o qual "não há alternativa à legitimidade do povo".

Esse sentimento fez-se sentir também na renúncia do vice-presidente, Omar Suleiman, que o regime desejava que controlasse o processo. Esse papel será ocupado pelo Conselho, indicado pelo próprio Mubarak, no curto documento em que anuncia sua saída.

As renúncias foram anunciadas em comunicado na rede estatal de televisão, um dia depois de Mubarak insistir em permanecer no poder. A resistência do ditador a largar o osso fez aumentar as manifestações nas ruas, fortalecidas por greves deflagradas em várias setores, inclusive no Canal de Suez.

O Conselho prometeu detalhar, em breve, as medidas para democratizar o país, Na primeira declaração após a renúncia de Mubarak, os militares expressaram seu agradecimento "a todos os mártires que sacrificaram a vida" a favor da liberdade do país.

A declaração foi lida pelo porta-voz militar, Ismail Etman, e diz ainda que as Forças Armadas estão conscientes do "momento histórico" que vive o Egito.

Os militares afirmam estarem conscientes da gravidade da renúncia e também dos pedidos da nação por mudanças. Os militares afirmaram que o Conselho Supremo das Forças Armadas avalia a situação para tomar as medidas necessárias. E reiteraram "não haver alternativa à legitimidade do povo". O Conselho, porém, agradeceu, em comunicado, a Mubarak "pelo seu trabalho patriótico durante a guerra e a paz".

Os bancos suíços anunciaram terem bloqueados todos depósitos de Mubarak e familiares naquele país.

Egípcios terão de manter pressão por mudanças
Monitor Mercantil, 11/02/2011

Brasília - Embora seja um "bonito marco" na história do Oriente Médio, a renúncia do presidente do Egito, Hosni Mubarak, deve ser encarada como o início de um longo processo político que desencadeará novos conflitos sociais. A opinião é do professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) Bernardo Kocher: "Mubarak foi descartado, mas os militares e seus interesses econômicos permanecem apegados ao poder e vão querer repactuar o sistema político preservando-se", afirmou à Agência Brasil.

E destacou que Mubarak - ex-comandante da Força Aérea - e seus dois últimos antecessores governaram com o apoio dos militares.

Com a renúncia de Mubarak e do vice Omar Suleiman, o governo será exercido pelo Conselho Supremo das Forças Armadas até novembro. Só então tomará posse o candidato que vencer as eleições de setembro. A transição será comandada pelo ministro da Defesa, marechal Mohamed Sayed Tantawi, de 79 anos.

"O papel dos militares na política e na economia egípcia é muito profundo e a população não vai poder descansar porque as forças que mantiveram Mubarak e seus antecessores no poder são as mesmas que agora vão controlar o país temporariamente."

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