quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mubarak e FMI não largam o osso


Mubarak e FMI não largam o osso
Monitor Mercantil, 01/02/2011

Pelo menos um milhão de pessoas foram às ruas, no Cairo, para exigir a renúncia de Mubarak


Com 1 milhão nas ruas, ditador não renuncia e fundo quer continuar "colaborando" 
Enfrentando uma manifestação com 1 milhão de pessoas que pediam, nas ruas, sua saída do poder, o ainda presidente do Egito, Hozni Mubarak, limitou-se a anunciar, em pronunciamento na TV estatal, que não vai concorrer a novo mandato nas eleições de setembro, mas recusou-se a renunciar ao mandato.
Na sua ótica particular, os gigantescos protestos da última semana pela sua saída variaram de "manifestações pacíficas a um ataque à estabilidade do país, manipuladas por interesses políticos". "Exauri minha vida servindo ao povo, e decidi não mais concorrer a um novo mandato", disse Mubarak, acrescentando ainda que "morrerei em solo egípcio, que jurei defender", indicando que não pretende largar o osso.
De acordo com a imprensa norte-americana, horas antes do pronunciamento, Mubarack ouviu do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que não deveria se candidatar a mais uma reeleição.
Mas não é só veterano ditador que não quer largar o poder. Dominique Strauss-Kahn, diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), cujas impopulares políticas ajudaram a mobilizar a população contra Mubarak, afirmou que a instituição vai ajudar a "reconstruir" a economia do Egito.
Strauss-Kahn se disse preocupado com o agravamento dos desequilíbrios globais, referindo-se às tensões políticas em Egito, Tunísia e Congo. Segundo ele, esses desequilíbrios ameaçariam a "frágil" recuperação econômica.
Os dois pronunciamentos reafirmaram o distanciamento entre Mubarak e o FMI e a revolução em desenvolvimento nas ruas do Egito.
Ignorando o toque de recolher, a oposição reuniu 1 milhão de pessoas nas ruas das principais cidades do país. Deste cedo, manifestantes tomaram conta do centro do Cairo. Os gritos de protesto estão em toda parte, assim como cartazes e fotos pedindo a renúncia de Mubarak.

Paraquedista
Marcos Oliveira e Sergio Souto, 01/02/2011 
O oportunismo com que o ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA) Mohamed ElBaradei desembarcou no Egito, para, surfando na ebulição da revolução local, se oferecer para ser o futuro líder do país só é comparável à ligeireza com que as agências internacionais de notícias, secundadas por seus satélites em outras partes, insistem em apresentá-lo "como principal líder da oposição". O fato de ElBaradei apenas ter recém-chegado ao Egito enquanto a oposição se vias às voltas com a brutal repressão da ditadura de Hosni Mubarak não é obstáculo para mídia monopolista forjar mais um dos seus "campeões da liberdade".

Herança de Mubarak
Marcos Oliveira e Sergio Souto, 31/01/2011
Para os excessivamente ingênuos e/ou os muitos espertos que, em pleno século XXI, defendem uma revisita à Escola Clássica, para defender existir uma dicotomia incontornável entre economia e política, ignorando o papel de ditaduras na defesa de interesses econômicos das elites, um exemplo emblemático vem do Egito. Nos 30 anos de ditadura de Hosni Mubarak, o salário mínimo foi mantido congelado durante 26 anos. Sem correção para manter seu poder aquisitivo diante da inflação, chegou a valer o equivalente a US$ 6 (cerca de R$ 10,80). Depois de todo esse período e apenas com os fortes protestos dos egípcios ano passado, o mínimo, por decisão da Justiça local, foi elevado, em dezembro, para US$ 69 (cerca de R$ 124,20), contra US$ 222 (R$ 399,60), reclamados pelos sindicatos.

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