domingo, 9 de janeiro de 2011

BC anuncia medidas no câmbio, mas podem não valer de nada

O Banco Central anunciou dia 06 medida para segurar a queda do dólar tirando US$ 7 bilhões que bancos usam para apostar na valorização do real. Nas últimas duas semanas, o dólar está abaixo de R$ 1,70, nível em que se manteve ao longo de quase todo o ano passado. As instituições financeiras terão que recolher ao Banco Central 60% sobre o valor da posição de câmbio vendida que exceder US$ 3 bilhões ou o montante equivalente ao patrimônio de referência do banco. A medida tem o objetivo de ajudar a conter a queda do dólar. Esse depósito compulsório, recursos que os bancos são obrigados a depositar no BC, será recolhido em espécie e não será remunerado. A princípio, vai gerar alguma demanda por dólar, o que tende a fazer com que a cotação suba.

Porém, o câmbio sofre influências do mercado externo, e o melhor não arriscar palpites quanto aos efeitos das medidas do BC sobre a cotação do dólar no Brasil. Por outro lado, não há garantias que o excesso de dinheiro que circula atualmente pelo globo, e que tem desembocado nas economias emergentes como o Brasil, continuará assim indefinidamente. Por isso mesmo, o BC está preocupado com setores da burguesia nacional que têm assumido compromissos em moedas internacionais. Contudo, segundo o próprio BC a decisão de onerar a entrada de recursos estrangeiros no país para conter a queda do dólar não deverá afetar os investimentos, não é uma mudança na política econômica e as instituições ainda terão 90 dias para se adequar à nova regra (a medida começa a ser aplicada em 4 de abril).

Mas se o BC elevar a taxa básica de juros (Selic), nada vai adiantar, pois permanecerá a enxurrada de dólares para o Brasil. Dessa maneira, em breve, o governo provavelmente pode ser obrigado a lançar para conter a alta do câmbio, medidas para alterar a dinâmica de valorização do câmbio, como elevar o IOF (imposto sobre operações financeiras) para investimentos de estrangeiros em renda fixa e variável e adotar outros depósitos compulsórios para conter as posições vendidas de dólares de bancos. Não deve ser descartada vir a ser obrigado a adotar o controle de capitais, como através da quarentena do ingresso de capitais.

BC reduz arsenal para especular
Monitor Mercantil, 06/01/11
Medidas tiram US$ 7 bilhões que bancos usam para apostar na valorização do real

O Governo Dilma Rousseff anunciou sua primeira medida para segurar a queda do dólar, criando regras que tornam menos atraentes as apostas de instituições financeiras de que o real vai continuar a valorizar.

Nos últimos meses, bancos reforçaram essa estratégia e as chamadas "posições vendidas" - que apostam na alta do real - já somam US$ 16,8 bilhões, novo recorde.

Para isso, os bancos pegam empréstimos em dólar no exterior, com juros muito mais baixos, ganhando duplamente: com a diferença entre os juros externo e interno e com a valorização da moeda no decorrer do tempo.

Para desestimular esse movimento, o Banco Central (BC) determinou que os bancos que tiverem posições "vendidas" em dólar acima de US$ 3 bilhões ou superiores ao patrimônio de referência (PR) da instituição terão de recolher depósito compulsório de 60% sobre o excedente. De acordo com o BC, a medida vai reduzir as posições vendidas em quase US$ 7 bilhões.

A intenção é conter o derretimento do dólar. Segundo o BC, os bancos saíram de uma posição "comprada", de US$ 2,9 bilhões, no fim de 2009, para uma posição "vendida" de US$ 16,8 bilhões, em 2010. A medida entra em vigor em 4 de abril e o objetivo é reduzir esse montante para US$ 10 bilhões.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor da Dívida Pública do BC, a decisão não indica mudança de política econômica. "É uma medida pontual e temporária - três meses. O BC aproveitou o excesso de posição vendida", disse, admitindo, porém, que a resolução terá impacto no mercado futuro de juros e câmbio.

Para Freitas, contudo, há outras variáveis: "Se o BC elevar a taxa básica de juros (Selic), nada vai adiantar, pois permanecerá a enxurrada de dólares para o Brasil".

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