segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

BC acha motivo para elevar Selic, mas provocará inflação

por Almir Cezar
Diante da recente elevação da inflação medida pelo IPC nesse início de ano, o Banco Central ignorando seu caráter sazonal, deverá elevar a taxa Selic, contudo não resolverá o problema, pelo contrário, além de não resolver, poderá no futuro elevar o patamar da própria inflação. O IPC (Índice de Preços ao Consumidor), medido pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), atingiu 0,86% na segunda prévia de janeiro, ante 0,61% na apuração anterior. Produtos ‘in natura’ subiram 6,88% e só as verduras aumentaram 24,36%; legumes tiveram reajuste de 12,53%, provavelmente pressionados pelas fortes chuvas que vêm caindo no Centro-Sul do Brasil. Por sua vez, como todo início de ano, o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores), junto com o IPTU (Imposto sobre Propriedade Territorial Urbana), deve aumentar a pressão inflacionário em janeiro e fevereiro. Ainda há aumento nos preços de artigos escolares e reajustes nas tarifas nos transportes públicos, como sempre ocorre em começo de ano.

Contudo, "desconhecendo isso", em sua primeira reunião do ano, ontem (18) e hoje, o Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central do Brasil deve aumentar a taxa básica de juros (Selic) dos atuais 10,75% para 11,25%, de acordo com previsão dos analistas financeiros citados no boletim Focus. Ignora-se que os alimentos mais baratos no atacado derrubaram a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-10 (IGP-10), que recuou de 1,27% para 0,49% de dezembro para janeiro. De dezembro para janeiro, a inflação no atacado desacelerou de 1,46% para 0,35%. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que divulgou o indicador, a perda de força inflação agropecuária atacadista (de 3,39% para 0,60%) foi a principal contribuição para a taxa menor do IGP-10. Entre os destaques, estão o retorno à deflação nos preços da pecuária (de 4,21% para -0,69%), e o comportamento de lavouras temporárias, como algodão, soja, batata, soja, trigo, cujos preços subiram menos (de 3,31% para 0,5%) no atacado.


O Banco Central parece ignorar que a aceleração na inflação em curso é sazonal e nos preços administrados pelo governo, e portanto não pode ser administrada via demanda agregada por meio da taxa de juros, à medida que é uma inflação de demanda mas de oferta agregada. Na verdade, o BC procura uma justificativa para legitimar um aumento na Selic, para proporcionar aumentos nos ganhos dos bancos com operações financeiras de crédito e com títulos públicos. Porém, o efeito pode ser oposto do esperado pelo BC, pois a alta da taxa de juros ajuda a puxar para cima os preços das commodities, à medida que a política monetária influi na taxa de câmbio. Os investidores, constatando a queda do dólar, fogem para as commodities, à medida que a elevação da taxa desvaloriza o câmbio, estimulando fuga para mercados "futuros" (bolsa de mercadorias e futuros), pressionando o valor dessas mercadorias para cima.

A elevação nos preços das commodities, combinadas com a elevação da renda em curso, aumentam a margem dos grandes atacadistas de repassarem os preços para toda a cadeia produtiva. Quando os preços sobem mais que a renda, a demanda é afetada no médio prazo. No momento, a renda média real está subindo mais que a inflação nos países emergentes e a oferta de emprego também é crescente, sendo portanto natural que haja alguma pressão inflacionária, que unicamente pode ser resolvida no médio e longo prazo, com o crescimento da base produtiva que proporcione elevação da oferta agregada. Por sua vez, as commodities, além de compor a "cesta" de índice de inflação, são em si, importantes na inflação geral, tendo em vista que ao serem matéria primas de outros produtos, portanto custo, determinam variação nos demais preços, além disso, compõe a cesta básica, logo, influenciam na composição dos salários. A elevação da taxa de juros justamente faz o contrário, inibindo à produção, não apenas no crescimento da demanda, mas também da própria oferta, logo alterando a elasticidade do preço e a capacidade de absorver choques. Além do mais, juros são custos, cujos produtores repassam aos consumidores, mesmo de forma disfarçada.

Alimentos, transportes e educação pressionam inflação em São Paulo
18/01/2011, Agência Brasil

O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), medido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), atingiu 0,86% na segunda prévia de janeiro, ante 0,61% na apuração anterior. Cinco dos sete grupos pesquisados tiveram aumentos com taxas acima das registradas na primeira prévia e os que mais pressionaram a inflação do período foram alimentação, que passou de l,39% para l,54%, e transportes, de 0,77% para l,66%.

O grupo educação também colaborou alcançando 2,29%, bem superior à medição passada (0,96%). Tradicionalmente, nesta época do ano, o orçamento das famílias fica mais comprimido pelos gastos com matrículas e a compra de material escolar.

No grupo alimentação, as altas foram provocadas, principalmente, pelo tempo chuvoso que afeta os hortifrutigranjeiros. Os produtos in natura subiram 6,88% e só as verduras aumentaram 24,36%. Os legumes tiveram reajuste de 12,53% e entre os itens o destaque foi o tomate, com alta de 19,04%.

Os demais grupos com índices superiores aos da última pesquisa foram: habitação, com 0,23% ante 0,21%, e despesas pessoais, com 0,61% ante 0,37%. Em saúde, o IPC teve decréscimo, passando de 0,17% para 0,15%, e em vestuário houve queda de 0,03% ante uma elevação de 0,26%.

Copom deve aumentar Selic na primeira reunião do ano
Agência Brasil, 18/01/2011

Em sua primeira reunião do ano, hoje (18) e amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve aumentar a taxa básica de juros (Selic) dos atuais 10,75% para 11,25%, de acordo com analistas financeiros que responderam à pesquisa Focus do Banco Central na última sexta-feira.

Eles entendem que o Copom terá de corrigir a Selic para cima como forma de conter as pressões inflacionárias que vêm ocorrendo há quatro meses e tendem a aumentar em janeiro e fevereiro, por causa do reajuste das despesas escolares e dos pagamentos do IPTU e IPVA.

Economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto acredita, inclusive, que outras altas serão necessárias ao longo de 2011, apesar de o país deter a maior taxa de juros entre as economias desenvolvidas e emergentes.

A primeira reunião do Copom sob o comando do novo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, começará à tarde, mas uma definição sobre a Selic só será divulgada amanhã à noite quando terminar a segunda parte da reunião.

(Redação revisada em 28/05/2013)

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