quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Violência no RJ: verdadeiros alvos

Verdadeiros alvos
Marcos Oliveira e Sergio Souto

Chega a ser comovente a ingenuidade com que milhões de pessoas compraram a versão da "vitória histórica" e "inédita" do "bem contra o mal" tal como foram vendidos os últimos acontecimentos policiais no Rio de Janeiro. Ela é fruto do casamento entre o compreensível desespero dos brasileiros com a violência urbana e uma narrativa impressionista, que ressalta o espetacular em detrimento do aprofundamento das causas do tráfico e do funcionamento intermitente da fábrica que produz a mão-de-obra para suas ações.

Ao prometer a "vitória definitiva" e "histórica" sobre "o mal", a escolha desse recorte para narrar a ação policial nos complexos da Vila Cruzeiro e do Morro do Alemão, no entanto, causou certa frustração em setores mais sedentos de sangue, que esperavam, obrigatoriamente, a eliminação da bandidagem, como sinalizava a cobertura midiática.

A evaporação dos bandidos, aliada ao inexplicável adiamento, por 24 horas, do cerco ao Morro do Alemão, porém, indica que a economia política do crime, no país e no estado, tem alianças, configurações e modus operandis bem mais complexos do que a visão maniqueísta posta em circulação.

E que, assim, como bandidos não brotam do nascer do sol ou de outros fenômenos naturais, os mecanismos que mantêm a máquina do crime azeitada demandam enfrentamento sofisticado e permanente, como a localização e o desmonte das formas de financiamento, abastecimento e distribuição. Mas, aí, é preciso saber se existe disposição e força política para acertar nos alvos-nobre que precisam ser acertados. Dá muito mais trabalho, mas os efeitos são mais profundos e duradouros.

Um comentário:

  1. bastante pertinente o artigo dos companheiros, me sinto contemplado, acho que devemos intervir de fato sobre o assunto de violencia urbana, pois senão essa bandeira fica com a direita ou a esquerda reformista.

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