quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Ajuste fiscal não é para o PIB, é para os juros

O anúncio do ajuste fiscal para o início do futuro governo não se justifica por um suposto crescimento descontrolado do PIB, muito pelo contrário, o PIB já dá sinais de desaceleração ou de acomodação, mas sim para liberar recursos públicos para aumentar o superávito primário que compense o aumento da taxa de juros, e portanto, mais recursos públicos para os banqueiros.

Juro alto e real forte desaceleram PIB para 0,5%
Monitor Mercantil, 09/12/2010

Indústria foi setor mais afetado pelo modelo, caindo 1,3% no 3º trimestre

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no terceiro trimestre somou R$ 937,216 bilhões, mais 6,7% sobre o mesmo período de 2009. E 0,5% sobre o trimestre anterior.

Apesar de a taxa de investimento subir para 19,4% no terceiro trimestre de 2010, ante 17,9% no terceiro trimestre do ano anterior, o PIB da indústria caiu 1,3% no terceiro trimestre ante o segundo - cresceu 8,3% sobre o mesmo período de 2009.

Na mesma base de comparação, o PIB da agropecuária caiu 1,5%, mas subiu 7% sobre o mesmo período de 2009. Já o setor de serviços avançou 1% e 4,9%.

Para o economista Jardel Leal, do Dieese, a contribuição negativa das importações deve-se ao câmbio. Ele observa que a desaceleração do PIB vem desde o fim de 2009. "Há uma tendência para a acomodação, na direção dos 5% projetados para 2011. Neste terceiro trimestre, o comportamento setorial mostra que a indústria de transformação sofre efeitos negativos pela retirada dos incentivos fiscais. Mas a questão cambial também precisa ser enfrentada", avalia.

Leal lembrou que o Banco Central manteve a taxa básica de juros (Selic), em 10,75% ao ano, mesmo sendo a mais alta do mundo, valorizando o real. "Se as importações crescem tanto é que a capacidade de compra da população está sendo usada para alimentar outros países. Mas, se não houver oferta interna, o consumo aquecido pode gerar inflação", pondera, observando que o governo precisa de autonomia para equilibrar as contas externas e fatores domésticos como a inflação.

O consumo das famílias cresceu 1,6% no terceiro trimestre de 2010 sobre o segundo trimestre e 5,9% em sobre o terceiro trimestre de 2009. O consumo da administração pública, porém, ficou zerado sobre o segundo trimestre de 2010, mas subiu 4,1% sobre o terceiro trimestre de 2009.

O IBGE divulgou ainda revisão do PIB 2009, que passou de -0,2% para -0,6%, alavancando efeito base nas comparações com 2010.

Mantega corta gasto para torrar com juro
Monitor Mercantil, 06/12/2010

Ministro anuncia pacote para revogar fórmula que permitiu país sair da recessão

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que o governo federal reduzirá os gastos públicos não-financeiros no ano que vem. Segundo ele, que participou do seminário "Diálogos Capitais 2011-2014", no Rio de Janeiro, o objetivo é diminuir a demanda do Estado, o que, segundo ele, supostamente abriria espaço para a demanda privada e permitiria a redução da taxa de juros em 2011.

"Agora que a economia brasileira está recuperada, a partir de 2011, vamos reduzir, por exemplo, gastos de custeio. O Estado vai fazer um ajuste, diminuir subsídios e impedir a constituição de novos gastos. Esse é o desafio que nós temos, mas não é um desafio fácil", disse Mantega.

Além de contrariar o discurso de campanha da presidente eleita, Dilma Housseff, a medida, se adotada, representará uma forte trava no crescimento do país, retomado este ano após a recessão registrada em 2009.

De acordo com o ministro, o volume do ajuste ainda será definido pelo Ministério do Planejamento e pela Secretaria do Tesouro Nacional. Ele adiantou, porém, que o corte de gastos atingirá todos os ministérios, incluindo os investimentos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Mantega também deve pedir ao Congresso Nacional para que não aprove projetos de lei que levarão a aumento de gastos públicos, como o reajuste salarial do Judiciário e a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300, que prevê o aumento do salário de policiais e bombeiros de todo o país.

Ele também quer impedir que o salário mínimo fique acima de R$ 540, ou seja, sem aumento real. Apesar do anúncio, o ministro negou que o aperto fiscal a ser feito pelo governo no próximo ano vá comprometer o crescimento econômico.

"Não se trata do velho ajuste fiscal do passado, de triste memória, que derrubava a economia", disse.

Sua alegação é que o arrocho substituiria a retomada da alta dos juros.

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