domingo, 8 de agosto de 2010

Juros altos forçam captação externa mas ampliarão remessas ao exterior

A taxa de juros básica, fixada cronicamente alta pelo Banco Central, força as grandes empresas brasileira recorrerem a captações externas para se financiarem. A consequência é a ampliação das remessas ao exterior devido a desnacionalização, e logo o envio de lucros, ou aumento da dívida externa privada, e logo o pagamento de juros dos empréstimos internacionais.

Curiosamente, um dos principais fatores que condiciona o BC a sempre fixar a Selic muito alta, não é o combate a inflação, mas é a busca por arbitragem, isto é, que a taxa de juros interna seja maior que a internacional, que pela diferença, atraí especuladores e logo capitais, para que o fluxo nas contas externas seja sempre positivo (mais dólar entrando do que saindo). Porém, é justamente essa política que gera dificuldades nas contas externas, à medida por um lado que o câmbio valorizado prejudica as exportações e favorece as importações, pressionando a balança comercial, e por outro, estimula a remessa externa de lucros das multinacionais, pois o lucro doméstico em moeda nacional fica maior em dólar, pressionando a balança de serviços.

Em suma, apesar do desenvolvimento econômico do último período, o Brasil ainda está em um círculo macroeconômico vicioso, típico das economias dependentes. Para piorar, força a desnacionalização do capital das grandes empresas brasileiras (76% do PIB está sob controle de capitais estrangeiros), condicionando a perda da autonomia dinâmica da economia, reforçando ainda mais a dependência do Brasil dentro do sistema mundial capitalista ao capital externo.


Contratando a alta do rombo externo
Monitor Mercantil, 02/08/2010

Com juro "à la BC", aumento da captação de empresas ampliará remessas ao exterior

Diante de um país que pratica os maiores juros reais do mundo, num momento de taxas negativas, a demanda internacional por bônus das companhias brasileiras supera todas expectativas. A Gol, por exemplo, teve procura quatro vezes superior aos US$ 300 milhões oferecidos aos investidores.

Já os títulos do BMG, com valor de face de US$ 250 milhões, captaram US$ 1,5 bilhão para a companhia. O banco Panamericano registrou demanda 6,5 vezes superior à sua emissão.

O economista Marcos Coimbra, conselheiro do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos (Cebres), alerta para os riscos do aumento dessa procura. E lembra que, segundo o economista Adriano Benayon, 76% do produto interno bruto (PIB) brasileiro já estão sob controle de não-residentes.

"É motivo de preocupação. Hoje há cerca de US$ 3 trilhões circulando na economia e moeda é algo que perde valor. Os investidores estão trocando esse papel podre por ativos", destacou Coimbra.

De acordo com o conselheiro do Cebres, na América do Sul os investidores buscam segurança, liquidez e rentabilidade em economias fortes, em nível regional, como Chile e o próprio Brasil.

"A contrapartida é a transferência do centro de decisão do Brasil para o resto do mundo. Significa que estamos perdendo poder sobre a nossa economia", disse o economista, acrescentando que os investimentos vão gerar remessas de lucro e dividendos, agravando o déficit em conta corrente, que este ano promete superar a barreira dos US$ 50 bilhões e, segundo projeções, poderá atingir US$ 80 bilhões em 2011.

Entre as companhias que lançaram títulos no exterior e obtiveram demanda acima do previsto estão incluídas Braskem, BMF&FBovespa, Banco Mercantil do Brasil e Banco BMG.

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