sábado, 31 de julho de 2010

Brasil medalha de bronze em desigualdade

Brasil tem o 3º pior índice de desigualdade do mundo

O Globo, sexta-feira, 23 de julho de 2010

ONU põe país empatado com Equador em concentração de renda

O Brasil tem o terceiro pior nível de desigualdade de renda do mundo, empatado com o Equador. A constatação é do primeiro relatório sobre desenvolvimento humano para América Latina e Caribe sobre distribuição de renda, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No Brasil, o Índice de Gini - que mede a desigualdade é 0,56. Quanto mais perto de 1, mais desigual é o país. O levantamento aponta dois outros grupos de países com situação mais grave: Bolívia, Camarões e Madagascar - empatados com 0,60 - e África do Sul, Haiti e Tailândia, todos com 0,59. Dos 15 paises do mundo com maior concentração de renda, dez são da América Latina. Segundo a ONU, o baixo nível educacional é um dos fatores que mais dificultam a melhoria social na região.

ONU: Brasil tem 3º pior desigualdade do mundo

Dez dos 15 países com maior concentração de renda estão na América Latina. Situação brasileira melhorou recentemente

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Em seu primeiro relatório sobre desenvolvimento humano para a América Latina e Caribe em que aborda especificamente a distribuição de renda, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) constatou que a região continua sendo a mais desigual do planeta. Dos 15 países do mundo nos quais a distância entre ricos e pobres é maior, 10 estão na América Latina e Caribe. O Brasil tem o terceiro pior Índice de Gini que mede o nível de desigualdade e, quanto mais perto de 1, mais desigual do mundo, com 0,56, empatando nessa posição com o Equador.

Concentração de renda pior só é encontrada em Bolívia, Camarões e Madagascar, com 0,60; seguidos de África do Sul, Haiti e Tailândia, com 0,59. O relatório considera a renda domiciliar per capita e o último dado disponível em que era possível a comparação internacional.

No caso do Brasil, porém, a desigualdade de renda caiu fortemente nos últimos anos e, em 2008, o Índice de Gini estava em 0,515.

Na região, os países onde há menos desigualdade são Costa Rica, Argentina, Venezuela e Uruguai, com Gini inferior a 0,49. Na média, segundo o Pnud, o Índice de Gini da América Latina e do Caribe é 36% maior que o dos países do leste asiático e 18% maior que os da África Subsaariana.

O relatório, denominado Atuar sobre o futuro: romper a transmissão intergeneracional da desigualdade, mostra que a concentração de renda na região é influenciada pela falta de acesso aos serviços básicos e de infraestrutura, baixa renda, além da estrutura fiscal injusta e da falta de mobilidade educacional entre as gerações.

No Brasil, educação dos pais tem forte influência No Brasil, por exemplo, a escolaridade dos pais influencia em 55% o nível educacional que os filhos atingirão.

O estudo também mostra que ser mulher indígena ou negra na região é, em geral, sinônimo de maior privação. As mulheres recebem menor salário que os homens pelo mesmo tipo de trabalho, têm maior presença na economia informal e trabalham mais horas que os homens. Em média, o número de pessoas vivendo com menos de um dólar por dia é duas vezes maior entre a população indígena e negra, em comparação com a população branca.

Ainda segundo o relatório, a desigualdade na região é historicamente alta, persistente e se reproduz num contexto de baixa mobilidade social. No entanto, para a entidade, é possível romper esse círculo vicioso não com meras intervenções para reduzir a pobreza, mas com a implementação de políticas públicas de redução da desigualdade. Um exemplo são mecanismos de transferência de renda.

De 2001 a 2007, gasto social cresceu 30% na região A desigualdade deve ser combatida per se, como objetivo de política explícito, diz o documento.

Mas essa diretriz parece não ter funcionado na região. Os altos níveis de desigualdade têm sido relativamente imunes às diferentes estratégias de desenvolvimento implementadas na região, conclui o estudo.

Entre as conquistas da América Latina e Caribe, o estudo mostra que as mudanças na política social da região na década de 1990 se refletiram na distribuição de renda. O gasto público social apresentou tendência crescente e gira em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) dos 18 países da região, apesar das limitações fiscais enfrentadas pela maioria dessas economias.

Além disso, registrou-se na região um aumento do gasto social por habitante, em média, de quase 50% entre 1990 e 2001. Entre 2001 e 2007, o aumento foi de 30%. A maior parte do dinheiro concentrouse nas áreas de seguridade e de assistência social esta última, representada principalmente pelo aumento no número de aposentados.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

China hoje: superpotência econômica e inferno da classe operária

por Almir Cezar

A China em dois tempos - as duas faces da China contemporânea: superpotência econômica e inferno da classe operária. Um país que se desenvolveu ao ponto de superar o Japão, e assumir o posto de 2o lugar no ranking global, mas que possui uma classe operária a beira da revolta devido a superexploração do trabalho. Sinais evidentes de mudanças em curso tanto no sistema mundial como internas, de maneira explosiva.

Revelando assim duas coisas:  Primeiro, está em curso fortes transformações no sistema mundial, com implicações nos papéis políticos e econômicos do sistema. E desenvolvimento não é sinônimo de bem-estar social, e sim de transição entre uma etapa a outra na formação social, de transição de uma sociedade pré para uma industrializada, a custa evidentemente da exploração da classe trabalhadora nacional, que pode ou não se beneficiar do avanço das forças produtivas internas, com a consequente implantação das relações de produção capitalistas correspondentes, baseadas na oposição entre burguesia e proletariado, entre exploradores e explorados. E segundo, mostra que um país dependente pode, sem superar totalmente a dependência, se industrializar e desenvolver, assumindo um papel importante, e mesmo central, no sistema mundial capitalista, o que provavelmente está ocorrendo também com Rússia, Índia, Brasil e África do Sul, entre outros.

Para piorar, evidência outra coisa frequentemente negligenciadas na teoria econômica mesmo heterodoxa: o desenvolvimento econômico capitalista é totalmente compatível com a superexploração do trabalho, que no caso chinês, além de beneficiar sua elite local está compensando as perdas do grande capital da Tríade (EUA, UE e Japão, também chamado G3) com a crise econômica de 2008. Isso bem explica porque onde os conflitos e greves operárias na China mas ocorram, são justamente na fábricas de capital japonês, capital que muito sofreu com a crise, ao ponto de perder o segundo lugar no ranking das economias.

Outra questão interessante, a imprensa chinesa, fortemente censurada pela ditadura pró-burguesa do Partido Comunista e do Exército Popular, foi obrigada a noticiar as greves, sinal evidente que esses episódios foram de uma proporção enorme ou até maior do que noticiado, e que pode estar ocorrendo uma série muito maior de episódios semelhantes ou piores. Possivelmente estamos vendo o começo de mudanças internas importantes (a ditadura forçada a agir ou a ceder) ou o início de transformações sociais profundas, como o começo de um ascenso social do movimento operário, apesar do controle sobre os sindicatos.

A restauração capitalista da China iniciada no fim da década de 1970 e início da 1980 trouxe não apenas as multinacionais e a industrialização acelerada, mas a reconstrução das relações capitalistas, e com elas as contradições sociais, e uma exploração desmedida da classe operária, que além dos superlucros para elite local e para o capital internacional do G3 gerou uma superpotência econômica fundado no capitalismo de Estado monopólico e transnacional (logicamente sob a base material anterior da socialização herdado do período comunista), mas também na superexploração do trabalho. Mas trouxe também uma classe operária nova sem as amarras típicas dos países centrais, como a aristocratização operária, sem direção socialdemocrata, e a cada crise mundial, por ter sua exploração ampliada, caminha à rebelião.

E a mesma industrialização capitalista, trouxe também, uma forte burguesia nacional de Estado, que embora dependente do grande capital internacional, é sedenta por espaço econômico no mercado mundial e por um papel político relevante no sistema mundial dos Estados, que tem um projeto nacional e uma direção política clara, tanto herdada da base anterior do período comunista como construída pela fase atual da ditadura.

Em suma, a China hoje, superpotência econômica e inferno dos seus operários, é um coquetel atômico instável, que como diria Rosa Luxemburgo (é claro, que ela se referia ao países capitalista como um todo, mas citando especificando a Alemanha do começo do século XX ), ou caminha para barbárie ou para a revolução. A História diria Marx, se repete como farsa ou como tragédia. É preciso os marxistas estarem atentos para interferir na História a favor do proletariado e do projeto socialista.


Leia as matérias a seguir:

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China supera Japão e é a segunda maior economia do mundo

País caminha para superar também os Estados Unidos e liderar o ranking global por volta de 2025

Reuters | 30/07/2010 07:42
A China tirou do Japão o posto de segunda maior economia do mundo, em resultado de três décadas de forte crescimento. Dependendo de quão rápido o câmbio suba, a China caminha para superar também os Estados Unidos e liderar o ranking global por volta de 2025, de acordo com projeções do Banco Mundial,
A China chegou perto de superar o Japão em 2009. "A China já é agora, de fato, a segunda maior economia do mundo", informou Yi Gang, chefe do órgão regulador de câmbio, nesta sexta-feira.

A China cresceu 11,1% no primeiro semestre de 2010 sobre igual período do ano passado. A expansão do país vem registrando uma média anual de mais de 9,5% desde que adotou reformas de mercado em 1978.

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China enfrenta a 'revolta' da mão de obra

Nos últimos três meses, a Honda enfrentou quatro ondas de greves na China, que terminaram em aumentos de salários para milhares de operários de suas fábricas e de seus fornecedores

AE | 25/07/2010 10:58


Nos últimos três meses, a Honda enfrentou quatro ondas de greves na China, que terminaram em aumentos de salários para milhares de operários de suas fábricas e de seus fornecedores.

A Foxconn, maior fabricante de produtos eletrônicos do mundo, anunciou em junho que elevaria em pelo menos um terço o pagamento de seu exército de 600 mil empregados chineses, depois que dez deles se suicidaram neste ano. E, no início deste mês, algumas regiões reajustaram em cerca de 20% o valor do salário mínimo, que não é unificado nacionalmente.
A sucessão de manchetes sobre conflitos laborais, o aumento da remuneração e a escassez de operários desencadearam um acirrado debate, no qual economistas se dividem entre os que acreditam no fim da era da mão de obra barata e abundante e os que sustentam que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a China perca a vantagem comparativa dada por milhões de empregados mal pagos.

Greves e protestos de operários não são um fenômeno raro no país, diz a economista brasileira Paula Nabuco, da Universidade Federal Fluminense, que elabora tese de doutorado sobre economia e relações de trabalho na China. A novidade agora é que as paralisações ganharam destaque na imprensa oficial, totalmente sujeita à censura do governo, e atingiram as grandes companhias multinacionais instaladas na China, especialmente japonesas.

A montadora Honda foi alvo da mais longa greve registrada em empresas estrangeiras no país, que interrompeu por três semanas sua linha de montagem em Foshan, na província sulista de Guangdong, a maior base exportadora chinesa. A paralisação terminou no início de junho, depois que os operários conquistaram reajuste salarial de 24%.

A mais recente onda de greves enfrentada pela companhia japonesa chegou ao fim na quinta-feira na Atsumitec, que produz peças para os freios do Honda Accord. Os operários conquistaram aumento de 45%, o que elevou sua remuneração a 1.420 yuans mensais. Mesmo com o reajuste, os 1.420 yuans equivalem a R$ 370,00, pouco mais de dois terços do valor do salário mínimo brasileiro, de R$ 510,00.

Stephen Roach, presidente do banco Morgan Stanley na Ásia, afirmou em artigo publicado no portal da revista The Economist que é "totalmente prematuro" sustentar que chegou ao fim a vantagem comparativa dos custos trabalhistas na China.

O executivo observou que os operários chineses ganhavam US$ 0,81 por hora em 2006, o que correspondia a 2,7% do que trabalhadores norte-americanos recebiam. Mesmo se tivessem obtido reajustes anuais de 25% no período de 2007-2010 - hipótese descartada por ele -, a remuneração no país asiático seria hoje de US$ 1,98 a hora, ou 4% do que é pago nos Estados Unidos e metade do valor registrado no México. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Depois das Fronteiras, experiências sonoras e visuais no Planalto

Depois das Fronteiras 

Nesse fim de semana mais dois dias de #ArteSonora.  Continuando o que rolou no fim de semana passado no CCBBB Brasília, prossegue o evento DF-DEPOIS DAS FRONTEIRAS.

Noite dançante de graça, com galera descontraída, bebidas e comidas bem servidas.  Vídeo-arte e som.


Hoje, 30/07, sexta-feira, das 22h à 0h | V-DOC [CPS/SP], apresenta Monóxidomaresia | Hol [BH/MG] – Aufhebung | E Sang Fezí + Vj Submagem [CPS/SP].

 Sábado, 31/7, ainda tem mais quatro grupos | 

Aqui a programação completa

Dialética Radical: o Brasil hoje

Dialética radical

Os últimos números reafirmam nossa profunda dependência do exterior. Está meio demodé tocar no assunto, nestes tempos dialéticos, quando a moda é ser ao mesmo tempo você e o seu contrário

Está passando quase despercebido o crescimento do deficit em transações correntes do balanço de pagamentos. Em resumo, o saldo da balança comercial não vem sendo suficiente para compensar as maciças remessas de lucros e dividendos. A relativa tranquilidade nasce de dois vetores: as reservas cambiais e a captação de investimentos vindos do exterior.

Ou seja, a economia brasileira resiste também porque continua escancarada aos fluxos globais do capital, e assim o país vai se financiando. Não deixa de ser irônico que aconteça sob um governo do PT, mas essa observação já anda meio batida, reconheço (comparar o que o PT dizia antes de chegar ao governo e o que fez depois).

Sempre é útil, entretanto, registrar que enquanto Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e entourage batem dia sim outro também na tecla do “fim da dependência”, nunca antes na história deste país estivemos tão dependentes do dinheiro vindo de fora. Mas como ele existe e está disponível para um governo tão “market friendly” quanto o nosso, a coisa passa disfarçada. O governo fala grosso. E a oposição se faz de surda. Que não é besta.

Lula adora repetir, e cada vez mais, o quanto não dependemos agora do Fundo Monetário Internacional, e isso tem um efeito simbólico conhecido. Deve ter também algum efeito eleitoral. Mas o presidente não conta a história toda. Deixa de dizer que passamos a depender de um dinheiro muito mais caro, o dinheiro que vem para cá atrás das nossas obesas taxas de juros e, num grau menor, das gordurosas margens.

Haverá negócio mais bacana no planeta do que ser dono de um banco ou de uma companhia telefônica no Brasil?

O faz de conta está mesmo com tudo. Pena é que alguns menos treinados na mistificação escorreguem de vez em quando. O chanceler Celso Amorim protagonizou uma página espantosa na trajetória da diplomacia pátria, ao dizer, no início deste mês, na Câmara dos Deputados, que o Brasil pôde votar no Conselho de Segurança da ONU contra as sanções ao Irã porque não deve ao FMI.

Ou seja, segundo Amorim, quem votou a favor das sanções fê-lo por ser devedor.

Restou porém fora da lógica do ministro um detalhe: o maior credor do mundo, a China, votou favoravelmente.

É o caso de especular. Será que Barack Obama ameaçou Pequim com um calote dos títulos do Tesouro americano caso os chineses não acompanhassem o voto americano contra o Irã? A julgar pelo raciocínio de Amorim, quem sabe?

Ironias à parte, os últimos números reafirmam mesmo nossa profunda dependência do exterior. Está meio démodé tocar no assunto, nestes tempos de dialética radical, quando a moda é ser ao mesmo tempo você e o seu contrário. Mas é fato.

E por que permanecemos atrelados ao nosso roteiro tradicional? Porque continuamos incapazes de gerar a poupança necessária para sustentar nosso consumo e, ao mesmo tempo, nossas necessidades de investimento.

Somos um Estados Unidos em escala reduzida. No que eles têm de pior. No vício de viver do dinheiro e do trabalho alheios. Na cultura do esbanjamento. A diferença é que eles ainda podem, por enquanto, imprimir a moeda mundial. Nós não.

Lula e Dilma fizeram o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Do ângulo simbólico foi ótimo. Havia tempo que a agenda do crescimento não era colocada em primeiro lugar.

Infelizmente, porém, na rubrica dos recursos orçamentários para investimento ou na taxa de poupança não se registrou neste governo evolução significativa em relação ao anterior. O que deixou de ser drenado em juros virou custeio. Bom de um lado, pelos repasses aos mais pobres, mas péssimo para quem acredita na essencialidade da poupança nacional e do investimento público para crescer de maneira sustentada.

Nos últimos dias os analistas respiram aliviados, pois parece que o Banco Central tem sido eficaz ao impedir a aceleração do crescimento. Lula festeja, pois parece que nosso “PIB potencial” (o que não arrebenta a inflação) anda um pouquinho maior em relação ao do governo anterior.

Como se sabe, vivemos uma era de profundas transformações.

Coluna ("Nas entrelinhas") publicada nesta quarta (28) no Correio Braziliense.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Contas externas brasileiras perto do limite

Um dos traços típicos da dependência volta a se manifestar na economia brasileira: a instabilidade das contas externas. À medida que a crise econômica mundial iniciada 2008 forçou as empresas transnacionais a aumentar e acelerar a remessa de lucros para compensar os prejuízos nas matrizes e importantes filiais européias e cortar investimentos diretos (IED) devido a queda nas exportações. O nível de IED havia mantido as contas equilibradas, mas parece ter situação agravada agora nos últimos dois meses, agravado pelo câmbio elevado, que reforça a piora nas contas externas, pelo aumento das importações.

Contas externas perto do limite

  do Estadão.com
 
Déficit nas contas externas é de US$ 24 bi

Rombo no primeiro semestre já é praticamente igual ao do ano todo de 2009; Banco Central espera compensá-lo com entrada de investimentos

Fernando Nakagawa, Fabio Graner 
BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

A crescente remessa de lucros feita por multinacionais e a compra de produtos e serviços internacionais aceleraram a saída de dólares do Brasil em junho por meio da conta corrente do País, que registra todas as operações de comércio exterior, serviços e rendas do Brasil com o exterior.

O saldo negativo do primeiro semestre, de US$ 23,76 bilhões, é comparável ao déficit de todo o ano de 2009, que somou US$ 24,302 bilhões, e equivale a 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No mês passado, pelos dados divulgados ontem pelo Banco Central, o saldo da entrada e saída de recursos nessa conta ficou negativo em US$ 5,18 bilhões, o pior junho da série iniciada em 1947.

Tentando não mostrar preocupação com a deterioração, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, sustenta que o rombo será financiado com dólares que entram no País para investimento produtivo e no mercado financeiro. No semestre, de fato, a conta fechou. Em junho, porém, a soma do Investimento Estrangeiro Direto (IED) - voltado à produção - e das aplicações financeiras (ações e renda fixa) cobriu apenas 71% do déficit. Por isso, Altamir fez uma inflexão no discurso e admitiu o uso de uma terceira fonte para fechar a conta: o aumento da dívida externa.

A incerteza econômica nos países desenvolvidos foi decisiva na nova piora das contas externas. No mês passado, empresas estrangeiras instaladas no Brasil remeteram US$ 4,15 bilhões às sedes como lucros e dividendos, o maior valor para junho da história. O resultado do mês equivale a um terço das transferências do semestre, que somaram US$ 14,96 bilhões e foram concentrados em três setores: automotivo, químico e eletricidade e gás.

"As filiais mandam dólares para cobrir prejuízos das sedes ou até para se precaver de uma situação que ainda pode piorar", disse a professora de economia da Unicamp Daniela Prates.

Em outra frente, os dólares têm saído em ritmo cada vez mais rápido para pagar serviços relacionados ao nível de atividade econômica acelerado. A despesa total com a contratação de aluguel de equipamentos, informática e transportes cresceu 42% em junho ante igual mês de 2009 e saltou 71% no semestre. Em seis meses, o Brasil usou US$ 13,86 bilhões para pagar essas contas. Em tendência semelhante, a importação de mercadorias cresceu 45,1% no semestre.

Para o professor de economia da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda, o câmbio valorizado é importante para explicar a piora da conta corrente, mais até do que o nível de atividade elevado. "Hoje, há um processo de substituição da produção nacional por importados."

A fragilidade das contas externas em junho foi acentuada porque a principal fonte de ingresso de dólares, o IED, secou. No mês passado entraram por essa conta US$ 708 milhões, metade do que entrou em junho de 2009.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sinto muito

Sinto muito
 
Sinto o sangue em minhas veias e apenas consigo balbuciar
"Um fantasma ronda" o mundo
E os meus fantasmas têm motivos para me assombrar
Todos contra um
Um contra todos
Um contra um
Todos contra todos
Cada qual pensando em ser melhor que o outro
Apenas e só!
Ninguém confia em ninguém
Novamente canibais
Num massacre constante
Se unindo apenas para derrotar o ser
 
Liliane Cirino Vieira

China superará os EUA em 2011

um dos elementos que mostram que está em curso uma forte transformação no sistema mundial capitalista é modificação no papel sistêmico de vários países. 

Indústria da China superará a dos EUA em 2011, diz jornal

DA EFE, EM PEQUIM - Folha Online, 23/06/2010

A produção industrial da China superará a americana no início do próximo ano, e então o país fornecerá um quinto dos bens consumidos no mundo todo, destacou nesta quarta-feira o jornal "Global Times".
A China esteve a ponto de superar os EUA nesta corrida para liderar a produção mundial em 2009, quando o setor de manufatura do gigante asiático, terceira economia mundial, alcançou US$ 1,6 trilhões e a do país americano (primeira) US$ 1,72 trilhões.

Segundo um estudo da empresa de consultoria IHS Global Insight, com sede nos EUA e que fez a previsão que a China liderará a indústria mundial em 2011, o setor chinês de produção cresceu 14% em termos reais ajustados à inflação entre 2007 e 2009, enquanto o americano registrou uma queda de 8,2%.

Em 2007, a IHS havia dito que China arrebataria o posto de maior fabricante mundial dos EUA em 2009, mas a crise financeira reduziu a demanda de produtos chineses.


Apesar do otimismo sobre a indústria chinesa que se depreende deste relatório, é preciso levar em conta as atuais mudanças da "fábrica do mundo", onde uma onda de greves ameaça encarecer a mão-de-obra, cujos baixos salários eram um dos principais atrativos para empresas estrangeiras.

Muitas dessas companhias poderiam deixar de produzir no país, e os grandes beneficiados poderiam ser os países do sudeste asiático, aos quais se espera que se transfiram algumas das plantas situadas agora na China, destacam os especialistas.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Reunião da Executiva Nacional da Central Sindical e Popular

Ocorreu reunião da Executiva Nacional da Central Sindical e Popular, eleita no Conclat, onde Conlutas, MSLT, MTST, MTL, parte da Intersindical e outras entidades se fundiram para criar uma nova central dos movimentos sociais.

Integração dos movimentos sindical e popular é ponto alto da reunião com rico debate de desafios

 
 
Na tarde de sábado foi travado um debate rico e um dos mais interessantes de toda a reunião. A integração dos movimentos sindical e popular no cotidiano, diante dos desafios que se apresentam a nova central.
 
O tema foi apresentado por Guilherme Boulos, que partiu de uma semelhança importante dos segmentos que estavam ali presente: setores que permaneceram na luta mesmo após a adaptação ao governo Lula das principais centrais e movimentos populares. “Ao mesmo tempo que a CUT foi tida como referência durante muito tempo e depois se rendeu ao governismo e acordos com o capital, no movimento popular também houve organizações que cumpriram esse mesmo papel, e que também depois se integraram ao governo luta”.
 
Boulos acrescentou a importância de reorganizar os setores de esquerda que se mantiveram na luta e abordou a contra reforma urbana em curso que desencadeou numa onda de despejos e iniciativas da especulação imobiliária. Ele disse que o setor imobiliário foi um dos que mais recebeu verbas no auge da crise. Isso provocou uma necessidade cada vez mais forte e urgente de construir uma unidade sólida, profunda e real dos setores combativos do movimento popular e do movimento sindical.
 
“Não é uma unidade de classes, é uma unidade de classe”, frisou, ao lembrar que o movimento popular surge de setores do trabalho informal, precarizado e trabalhadores desempregados.
 
O debate em torno desse tema visou tentar refletir sobre os desafios que a central terá pela frente com a atuação conjunta dos movimentos sindical e popular. Buscar superar a relação de ajuda mútua entre esses movimentos e entender que essa atuação deve permear aspectos estratégicos e de classe para os trabalhadores. Entre eles, três importantes.
 
A primeira, como construir a integração política dentro da central entre movimentos sindical e popular. A segunda é como realizar uma atuação efetivamente conjunta e, para Boulos, a terceira é pensar mecanismos na central, para garantir que a luta e a participação política não seja pautada em relação às finanças.
 
Esse ponto mostrou o desafio que a central tem pela frente, justamente pelo número de intervenções na tentativa de buscar uma relação superior a de colaboração existente até hoje.
 
Além da apresentação de Boulos, diversos representantes de ocupações falaram do dia a dia de suas lutas. Entre eles companheiros de Minas Gerais, do MUST - do Pinheirinho de São José dos Campos (SP), do MTST e do MTL.

A volta à Teoria Marxista da Dependência - artigos recentes

A VOLTA DA TEORIA DA DEPENDÊNCIA

Há fortes sinais de despertar da intelectualidade brasileira à Teoria Marxista da Dependência como método teórico de análise do desenvolvimento dos  países dependentes e do sistema capitalista sob o enfoque da periféria desse sistema. 

Surgida na década de 1960 nos países latino-americanos, numa jovem intelectualdiade de esquerda que rompia simultaneamente com o pensamento stalinista e estruturalismo cepalino, - encabeçados por Theotonio dos Santos, Ruy Mauro Marini, Vania Bambirra, e um vasto número de pensadores - desenvolveram uma abordagem dialética, que se articulava com uma forte militância política. São autores que legaram a Economia Política, combinando as teoria smarxista do imperialismo e do desenvolvimento desigual e combinado com os modernos avanços na teoria econômica, categorias analíticas como revolução científico-técnica, superexploração do trabalho, capitalismo periférico, desenvolvimento subdesenvolvido, etc, ajudando as ciências sociais a explicar inúmeros fenômenos do sistema capitalista e da trajetória sui generis deodesenvolvimento da América Latina.
Trazemos hoje quatro artigos que remetem exatamente a essa teoria, sua contribuição e atualidade e foram lançados recentemente.


A TEORIA DA DEPENDÊNCIA À LUZ DA REALIDADE ATUAL

Valdenésio Aduci MENDES


Resumo: Este trabalho visa apresentar os alcances e limites da teoria da dependência, delineada a partir de 1970, como proposta de leitura da realidade econômica do continente latino-americano. Procuraremos mostrar que a teoria da dependência está vinculada às ideias mestras da teoria do desenvolvimento da CEPAL. Nesse sentido, os alcances da teoria da dependência, se comparada com a teoria do desenvolvimento, estão vinculados à ideia de que a situação de subdesenvolvimento no continente latino-americano se relaciona com o mundo da economia e da política. Por outro lado, os limites da teoria da dependência radicam no fato de
que ela não cumpriu com sua proposta inicial, pois sua leitura da realidade latino-americana ficou restrita a aspectos econômicos. A análise parte do pressuposto de que a crise da modernidade se dá em todos os aspectos da vida ocidental, fruto da racionalidade econômica e do desenvolvimento unidimensional, o que atinge a região latino-americana diretamente. Assim, tanto a compreensão da realidade que nos circunda, assim como a sua transformação, exigem que se repense o modelo de homogeneização do padrão de produção e de consumo, vigentes na sociedade latino-americana, cuja matriz é o modelo ocidental dos países do centro.

Palavras-chave: Modernização. Desenvolvimento. Subdesenvolvimento. Economia. Dependência. Ecologia.


O DEBATE ATUAL SOBRE A DEPENDÊNCIA

Niemeyer Almeida Filho

Resumo: o trabalho discute a atualidade do conceito de dependência. Para tanto, recupera trabalhos que fizerem parte das origens do Aporte da Dependência. Mostra que as transformações do capitalismo desde os anos 1980, mas sobretudo dos anos 1990, reforçam a idéia de parte dos autores do Aporte que sustentavam que a dependência era uma condição estrutural imutável nos parâmetros do capitalismo. Há uma atualização dos termos originários, com incorporação da idéia de subordinação. Conclui-se que há claros sinais de dependência nas relações internas ao sistema capitalista global deste começo de século. No entanto, houve afastamento das posições originárias que compuseram o antigo Aporte, de maneira que não há mais sentido em mantê-las num marco analítico comum.


O “Ornitorrinco” e a Dependência no Brasil de Hoje: Atualidade e convergência entre o pensamento de Francisco de Oliveira e a Teoria Marxista da Dependência

Hugo Figueira de Souza Corrêa
André Morato Dias Cardeal

Resumo: Já se passam mais de quinze anos da intensificação das aberturas comercial e financeira no Brasil, e o país está mais longe do grupo principal de países capitalistas do que estava há quinze ou trinta anos, retrocedeu-se em termos de desenvolvimento. Em uma mistura de dependência, tecnológica e financeira, do capital internacional e de condições estruturalmente adversas ao desenvolvimento do capitalismo nacional sobre bases mais igualitárias, o cenário brasileiro configura o que o sociólogo Francisco de Oliveira conveio chamar de uma evolução truncada; um ornitorrinco. A proposta do presente artigo se assemelha em termos formais ao recente empreendimento de Oliveira: retomar um caminho perdido do pensamento crítico brasileiro. Para isso, busca-se examinar dois momentos da obra de Francisco de Oliveira – primeiro em sua Crítica à razão dualista e depois em o Ornitorrinco –, e também se retomar a Teoria Marxista da Dependência. Procura-se as convergências destas análises, as suas complementaridades e as contribuições que possam dar para o entendimento da condição brasileira.

Palavras-chave: dependência, desenvolvimento


Ruy Mauro Marini: uma Interpretação Marxista do Capitalismo Dependente

Adolfo Wagner

Resumo: O presente artigo desenvolve uma breve descrição das principais características do que se convencionou nominar por “Teoria da Dependência” e situa as noções-chaves que formam o edifício conceitual do pensamento do sociólogo e militante marxista Ruy Mauro Marini, cuja obra representa um dos mais importantes esforços para a compreensão dos dilemas enfrentados pelos países latino-americanos na atualidade.

Palavras chaves: Pensamento social latino americano; teoria da dependência; capitalismo dependente; Ruy Mauro Marini.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Labirinto claustrofóbico

Labirinto claustrofóbico
Escrevo para não enlouquecer
A loucura é inquilina do inferno
E loucura é não poder ir ao banheiro à noite
Para não fazer barulho na porta
Não posso estar enganada
Meu quarto está limpo, organizado e cheiroso
Depois que ele se foi para sempre
Agora preciso apenas de um pedaço de papel e caneta
E alívio!
Liliane Cirino Vieira

BC ao aumentar Selic além de mentir sobre superaquecimento eleva a dívida pública em 3 PACs

BC prefere capital de "motel" a crescimento

Munhoz: ‘BC mente ao dizer que Selic sobe para conter superaquecimento’

MUNHOZ: ÚLTIMOS AUMENTOS DA SELIC ELEVARAM DÍVIDA PÚBLICA EM 3 PACs


Os juros cada vez mais altos e o risco zero fizeram, de janeiro a maio, a participação dos estrangeiros na dívida pública federal subir três vezes mais que o estoque de títulos.

Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) a dívida cresceu 8,9%, enquanto a participação dos estrangeiros no estoque de papéis públicos subiu 24%, representando agora 8,1% do total da dívida.

Para o economista Dércio Garcia Munhoz, ex-presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), ao elevar juros sem uma real ameaça inflacionária o Banco Central (BC) revela que pretende compensar o capital especulativo com a rentabilidade dos títulos públicos, já que a bolsa não conseguiu evitar que em junho e na primeira quinzena de julho o fluxo de dólares ficasse negativo.

"A maior parte desse capital que entra como portfólio vai para a bolsa. O BC mente ao dizer que a taxa básica (Selic) em alta é para evitar superaquecimento da economia. O que estamos vendo é apenas uma volta aos níveis anteriores a 2008, inclusive nos preços. O BC desconheceu tudo isso porque, com a bolsa balançando, perdeu atratividade do capital especulativo", disse, lembrando que essa política tem "um custo brutal" para o país.

"Somando os três últimos aumentos da Selic, aumentamos a dívida pública em R$ 40 bilhões, em termos anuais. Isto equivale a três vezes o que é efetivamente executado em investimento da União no PAC", compara o economista.

Segundo Munhoz, o Orçamento da União destina pouco mais de R$ 20 bilhões para o PAC, mas o efetivamente liberado gira em torno de 60% do previsto. "Já o pagamento de juros tem 100% de execução", resume o ex-presidente do Cofecon.

Monitor Mercantil online, 23/07/2010

domingo, 25 de julho de 2010

Pra mim e pra você

Pra mim e pra você
 
O que quer a sociedade
Ficando contra as mulheres?
Afirmo que querem empurrá-las
Aos braços de seu carrasco
Mas não me importo
Nunca mais carrasco!
 
Liliane Cirino Vieira

sábado, 24 de julho de 2010

Refugo Humano

Refugo Humano
 
O que é luta pra uns
Parece arrogância para outros
A Declaração dos Direitos Humanos?
 Está incompleta e incorreta
Está insultada e violada
O mundo chique vomita sobre nossa cabeça
E temos que limpar em silêncio?
Tenho eu que me curvar à isso?
Parece um insulto querer ser ouvida?
Sua voz ativa só me diz
Trabalhe mais!
Estude mais!
Seja mais!
Faça mais!
Seja boazinha!
Não questione!
E quando não tenho mais força
Não sirvo mais
 
Liliane Cirino Vieira

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dialética virtual

Dialética virtual
 
Alguém me diz que sofro por amor
E reduz a quatro palavras o que não é tão simples
Pois talvez nem seja sofrimento
É um sinistro escalafobético
Quando sentimos que vários mundos se convergem
E comprimem nosso peito
Em um imenso Big Rift
E depressão é o que houve em 1929
Na verdade sinto angústia
Por ter feito no mundo tão pouco pelas pessoas
E quando tento fazer diferente
Estou na contramão
Mas as opções antifricção são quase nulas
Quase sempre me empurram ao chão
Aí eu levanto e recomeço sempre
De onde estou, como estou e com quem estou
Meu pensamento me chama mais à frente
Mas ao meu redor existe matéria insultada e aglutinada
Tento pedir licença para passar
Mas ela quer que eu me ajoelhe
 
Liliane Cirino Vieira

BNDES transfere renda a setores privilegiados ao emprestar com taxas inferiores

por João Paulo de Carvalho

Não sei se vocês estão acompanhando as discussões que estão ocorrendo sobre o comportamento da dívida pública brasileira. Esta discussão tem colocado em oposição economistas ortodoxos e heterodoxos de dentro e fora do governo. A querela gira em torno principalmente dos empréstimos do Tesouro ao BNDES e na diferença entre o juros pago pelo Banco ao Tesouro (cerca de 6% ao ano) e do custo do financiamento do Tesouro (SELIC). Alguns economistas ortodoxos (mas não só ortodoxos) afirmam que esta diferença onera o Tesouro, criando uma espécie de descapitalização dos cofres públicos (ver artigo abaixo), o governo por outro lado afirma que os empréstimos ao BNDES ao impulsionar a economia geram receitas através de impostos o que mais que compensaria os empréstimos subsidiados.

Concordo em parte com os dois argumentos. Com a visão ortodoxa (não tão ortodoxa assim) concordo com a parte da análise de que há um descasamento entre as políticas fiscal e monetária do governo. Enquanto por um lado os operadores da política fiscal (Ministério da Fazenda) adotam uma política expansionista, a política monetária (Banco Central) age ao contrário, podendo criar constrangimentos futuros ao tesouro, principalmente se houver uma reversão dos fluxos financeiros internacionais (algo já esperado por alguns analistas) que dificultaria o refinanciamento da dívida pública. O argumento do governo de que os aumentos dos impostos supririam os custos do crédito subsidiado pode ser verdadeiro, mas ainda não vi nenhum estudo quantitativo sobre o assunto. Ainda neste ponto é necessário ver se não há a presença de Rent-Seeking, ou melhor, se os créditos do BNDES estão beneficiando realmente a produção e o emprego e não servindo direta ou indiretamente a rentistas. 
 
Como disse ainda não vi nenhum estudo sobre a questão. As coisas ainda estão um tanto panfletárias com economistas críticos ao governo escrevendo em jornais e membros do governo respondendo, como a entrevista do ministro Mantega aO Globo em que o mesmo afirma que os críticos são invejosos, que já estiveram no governo e não foram bem sucedidos e por isso criticam e não percebem as inovações que o governo está fazendo (mas não explica quais são). Abaixo artigo de Alexandre Schwartsman, um dos críticos ao que o ministro se refere em sua entrevista e que expõe bem o argumento dos críticos a política fiscal.



O reverso da fortuna
 Ao emprestar a taxas inferiores às que paga, o BNDES transfere renda para setores privilegiados

por Alexandre Schwartsman

 Folha de S.Paulo, 21 de julho de 2010

ALAVANCAGEM, em que pese a complexidade associada ao termo, é um fenômeno comum no mercado financeiro e não tão difícil de entender. Imagine, por exemplo, alguém que possua R$ 100 e os invista em algo que renda R$ 10 ao ano (um retorno de 10%). Caso possa tomar recursos emprestados a, digamos, 5% ao ano, ele pode multiplicar ("alavancar") seu retorno.

Tomando R$ 100 por empréstimo e investindo no mesmo ativo que rende 10% ao ano, obterá R$ 20 (10% sobre R$ 200) menos os R$ 5 que deverá pagar de juros sobre os R$ 100 emprestados, ou seja, R$ 15. Agora, para o mesmo capital de R$ 100, seu retorno é de 15% ao ano. Também não é complicado concluir que, quanto maior for a alavancagem, tanto maior será o retorno sobre o capital.

No mesmo exemplo acima, se, em vez de tomar R$ 100 emprestados, nossa investidora tomasse R$ 900, obteria R$ 100 por ano (10% sobre R$ 1.000) e, deduzindo o juro sobre o empréstimo (R$ 45), ficaria com R$ 55, um retorno de 55% (!) sobre seu capital original.

Obviamente, o risco também cresce com a alavancagem: no caso em questão, uma perda de 10% no valor do ativo deixaria nossa investidora sem um centavo para contar a história. Resumindo: a alavancagem é um instrumento que eleva tanto o retorno como o risco do investimento.

Peço agora ao leitor que imagine um caso paradoxal: o que ocorreria se o rendimento do ativo fosse inferior ao custo dos empréstimos tomados para alavancar o investimento? Para facilitar, suponha que o retorno do ativo seja zero. Nesse caso, se a investidora tomou R$ 200 emprestados a juro de 5%, no final do ano ela teria de pagar R$ 10, isto é, obteria um retorno negativo de 10% sobre seu capital de R$ 100.

E, quanto mais alavancasse, tanto mais negativo se tornaria seu retorno, enquanto seu risco continuaria a crescer. Esse caso, contudo, deveria ser mera curiosidade acadêmica. Afinal de contas, quem, em sã consciência, tomaria recursos para aplicá-los numa taxa mais baixa do que originalmente custaram? A resposta, leitor, é o Tesouro Nacional, o gestor -na descrição precisa de Armínio Fraga- do meu, do seu, do nosso dinheiro.

Em nome de uma política dita anticíclica, o Tesouro Nacional emprestou, no último ano e meio, R$ 180 bilhões para o BNDES a taxas consideravelmente inferiores às que paga para tomar esses recursos, trazendo o estoque de créditos daquela instituição para a marca de R$ 377 bilhões (12% do PIB), incluindo nessa conta os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).

O grosso desses créditos (R$ 299 bilhões) está indexado à TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), hoje em 6% ao ano, enquanto a taxa básica de juros (Selic), que baliza o custo dos títulos da dívida do governo, é de 10,25% ao ano.

Como sugerido pelo último exemplo, essa política implica elevação do custo médio da dívida líquida. Aliás, esse efeito foi tão forte a partir do final de 2008 que, a despeito da queda de cinco pontos percentuais da Selic de janeiro a julho de 2009, o custo médio da dívida aumentou.

Posto de outra forma: entre 2004 e 2007, o custo médio da dívida e a Selic andavam em linha (a correlação entre as séries era de 90%); já entre 2008 e 2010, o primeiro subiu, refletindo o poder da alavancagem, a despeito da queda da Selic (a correlação se tornou negativa, -62%).

Seria ótimo que essa correlação permanecesse negativa com a Selic em alta, mas isso só aconteceria se os créditos ao BNDES fossem retirados à medida que a Selic subisse (caracterizando de fato uma política contracíclica).

Como isso não ocorrerá, a alavancagem descrita no início do artigo opera contra nós, pois o custo da dívida subirá mais do que o aumento da Selic, num contexto de risco mais elevado, ou seja, uma monumental transferência de renda para setores privilegiados. Para meros mortais, sobra apenas o reverso da fortuna.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 47, é economista-chefe do Grupo Santander Brasil, doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley) e ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central. Escreve às quartas-feiras, quinzenalmente, neste espaço.

Brasil, paraíso da especulação com dólar e juros

Paraíso da arbitragem


19 de julho de 2010 | José Paulo Kupfer

Os economistas de mercado, consultados pelo boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, consideravam, na semana passada, quando enviaram suas projeções semanais ao Banco Central, que a inflação do ano, medida pelo IPCA, continuava em recuo. Ao mesmo tempo, no entanto, mantiveram as previsões anteriores para a taxa básica de juros no fim do ano e de nova a alta de 0,75 ponto na reunião do Copom de amanhã e depois.

São movimentos que, simultâneos, não fazem muito sentido, mas, mesmo assim não deixam de ser previsíveis. Ao formularem políticas, os economistas de mercado, historicamente, preferem sempre um pouco menos de inflação a um pouco mais de crescimento. Na sustentação desse tipo de visão, os desarranjos que uma taxa básica de juros fora do lugar possam provocar costumam ser minimizados ou mesmo desconsiderados. Assim, não tem muita importância se a taxa de juros rodar em ponto mais elevado do que o necessário.

São muitos os impactos desses desequilíbrios. Fiquemos apenas com o efeito dos juros altos para o ingresso de recursos externos e, em consequência, uma excessiva valorização do câmbio. O óbvio é que, na existência de um acentuado diferencial de taxas, em relação às praticadas nos demais mercados, inclusive os mais desenvolvidos, haverá uma atração fatal por recursos especulativos, de olho exclusivo em ganhos financeiros de curto prazo.

Ao elevar a demanda por reais, no mercado cambial, esses recursos contribuirão para valorizar a moeda local, produzindo, em prazo relativamente curto, pressões negativas sobre o setor externo. O problema é que o impacto desfavorável não alcança apenas o balanço em contas correntes. O perfil da balança comercial sofre com a concentração de exportações em commodities e importações de bens e serviços com maior valor adicionado. E não é só.

A competição desigual com importados, sustentada pelo câmbio valorizado, desestimula a busca de inovação e adensamento tecnológico na manufatura local, processo que, num primeiro momento, parece indicar investimento na modernização do parque manufatureiro, mas logo se revela um calcanhar de aquiles competitivo.
Os defensores da política de juros altos e câmbio valorizado – uma equação perfeita para se obter sempre uma inflação um pouco mais baixa – empacotam pilhas de argumentos que fogem do fato inescapável: juros muito acima dos praticados em outros mercados é terreno fértil para arbitragens de taxas e ganhos fáceis à custa de uma economia local menos consistente e sustentável.

Para comprovar tal fato, se não bastasse a deterioração da balança comercial e a invasão chinesa, temos agora a prova direta. Como mostra a reportagem do colega Leandro Modé, no Estadão desta segunda-feira, nos primeiros cinco meses do ano, o ingresso de recursos para aplicação em renda fixa superou o de outras aplicações, inclusive os ditos investimentos diretos (que, atualmente, muitas vezes de direto na produção têm só o nome).

É a mais pura e irrefutável prova de que a arbitragem de taxas, como não poderia deixar de ser, comanda o ingresso de recursos externos. Pré-sal, Copa do Mundo, Olimpíada, mercado interno – tudo isso pode atrair capitais de fora. Mas, no fim das contas, eles operam mais como um fator a emprestar segurança a aplicações apenas preocupadas em aproveitar uma rentabilidade financeira grande e certa, não encontrável em nenhum outro mercado. O Brasil se transformou no paraíso da arbitragem.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Comunista colombiano corre risco de morte


Comunista colombiano corre risco de morte

La República - O secretário-geral do Partido Comunista da Colômbia, o vereador de Bogotá e membro do Comitê Executivo do Pólo Democrático Alternativo (PDA), o antropólogo Jaime Caycedo Turriago, denunciou um plano criminoso para assassiná-lo.
À frente do complô estaria "El Diablo", um tenente de Salvatore Mancuso, chefe das quadrilhas criminosas dos paramilitares da Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), atualmente extraditado para os Estados Unidos.
Segundo o presidente Alvaro Uribe, esses grupos estão desmobilizados, mas, na verdade, continuam a cometer crimes e atentados em toda a Colômbia, em conivência com o exército e os serviços de inteligência do DAS, dependentes da Presidência da República.

O dirigente salientou que foi criado um "grupo especial" para matar um conjunto de membros da esquerda e, em particular, os membros do Polo Democrático na capital, e que ele integra a "lista negra". E acrescentou: "as obscuras intenções desses desconhecidos são as de assassinar-me, em resposta às acusações comprovadas que fiz sobre a presença de grupos paramilitares em pelo menos metade das localidades de Bogotá".

Segundo o vereador, o grupo responsável por cometer o homicídio armazenou na cidade "cerca de 700 armas de longo alcance", e levantou o dinheiro necessário para financiar os atentados. Toda a informação foi apresentada por escrito ante a Procuradoria-Geral, à espera de uma investigação "rápida e profunda" que permita desarticular os destacamentos paramilitares.

A denúncia pública é observado com grande preocupação, já que, em menos de três meses, já foram assassinados sete membros do Polo Democrático no país, incluindo o veredaor do PDA do município de Cantón de San Pablo, departamento do Chocó, Rengifo Matínez.

Além disso, o próprio Caycedo é um dos sobreviventes do extermínio da União Patriótica (UP), partido criado em 1985 no âmbito do (fracassado) processo de paz, do governo de então com as FARC, e que viu encurtada a vida de mais de quatro mil dos seus seguidores, incluindo diversos candidatos presidenciais, por ataques por forças paramilitares e de agentes do Estado.

Assim estabeleceram as autoridades judiciárias nacionais e organizações internacionais, como a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Este último organismo emitiu, há mais de 15 anos, medidas cautelares para garantir a sobrevivência física do dirigente hoje novamente ameaçado.

O próprio Caycedo foi vítima de um ataque criminoso, do qual conseguiu escapar. Por outro lado, a senadora do PDA, Gloria Inés Ramírez Ríos (que tivemos a oportunidade de conhecer no nosso país, pois integrou, com o sr. Carlos Gaviria, a delegação colombiana para o XIV Encontro do Foro de São Paulo, em maio de 2008, em Montevidéu) falou de forma detalhada e firme ante as autoridades de seu país sobre "a situação de risco de do vereador de Bogotá, Jaime Caycedo, que tem sido vítima de atos criminosos que atentam gravemente contra sua vida e integridade pessoal".

O registro inclui um relato detalhado do que aconteceu em 19 de agosto de 2008, quando o líder se encontrava na sede do Partido Comunista Colombiano e foi seguido até sua casa por três carros e uma motocicleta, cujas placas foram anotadas, fato que foi comunicado ao Ministério Público, e que não teve qualquer explicação oficial.

Em 9 de junho de 2009, houve outra denúncia ante a Procuradoria, porque o nome do vereador apareceu entre os que foram vítimas das interceptações ilegais de comunicação por parte da DAS (as chamadas "cruzadas", que geraram um escândalo de grandes proporções porque a espionagem abarcava políticos da oposição, juízes e dirigentes sociais).

Em 7 de dezembro de 2009, ele relatou pela primeira vez a preparação da lista negra que o incluía. Em, 15 de janeiro de 2010, informou ao procurador que foi seguido e os seus movimentos registrados a partir de um veículo cuja placa registrou. Em 22 de abril, entraram à força na sua residência duas pessoas com uniforme da polícia, sem distintivos nem nomes, dizendo que estavam realizando uma inspeção.

O proprietário do imóvel se negou e, com a ajuda dos vizinhos, os impediu de atuar, diante do que os uniformizados fugiram em uma motocicleta, cuja placa dianteira estava coberta. Tudo isso foi denunciado, sem que houvesse resultado algum.

"Isso mostra de maneira inequívoca que, contra o vereador Jaime Caycedo há um plano sinistro que ameaça seriamente a sua vida e integridade pessoal, pelo que responsabilizamos o governo pelo que possa vir a acontecer", escreve na sua conclusão a senadora Glória Inés, sublinhando que estes fatos "integram a campanha do regime contra a oposição"

Fonte: La República através do Vermelho.

Catadores de lamentações

Catadores de lamentações
 
Ninguém mais fica indignado!
Nem sensibilizam-se com o sofrimento do outro
Todo sofrimento parece exagero quando não nos pertence
E tão distante como a internet
Quando somos insensíveis somos socialistas?
Mas parece que somos?
Talvez.
Quem dirá que somos?
Eu? você?
Aonde estou existe um lamento estridente e contínuo
Como uma agulha presa na cutícula
Dizendo que não posso mais ser
Do meu "calvário" surge um zunido que não quer ouvir
 
Liliane Cirino Vieira