segunda-feira, 19 de abril de 2010

UE: depois dos governos ajudarem os bancos, agora esses querem mais

Crise da Dívida na Europa

Depois da União Européia ajudar os bancos falidos com trilhões de dólares, agora os rentistas querem mais, às custas dos trabalhadores e aposentados


fonte: Boletim do movimento do Auditoria Cidadã da Dívida, número 20


Recentemente, em 2008, os países da União Européia promoveram um pacote de salvamento de mais de 2 trilhões de dólares ao sistema financeiro, sendo que Portugal prestou sua ajuda mediante a criação de um fundo de até US$ 27 bilhões. Já a Espanha criou linhas de financiamento de até US$ 135 bilhões, o que incluiu a compra de ações dos bancos falidos.

Depois de mobilizar essas imensas somas de dinheiro para salvar rentistas e instituições financeiras que ultrapassaram limites da responsabilidade ao emitir derivativos sem lastro, países da Europa se encontram, agora em 2010, em profunda crise da dívida. Esta nova crise foi, uma vez mais, provocada pelos especuladores, por meio dos chamados “swaps de defaults de crédito”, que rendem altos ganhos aos que apostam na quebra de países como a Grécia. O resultado é o forte aumento das taxas de juros exigidas pelos emprestadores, aprofundando a crise.

A especulação em torno do risco de o país não conseguir honrar seus compromissos da dívida faz com que os investidores cobrem taxas bem mais altas para emprestar àquele país. São as famosas “profecias auto-realizáveis” do mercado financeiro, visto que, com taxas altíssimas, dificilmente os países poderão pagar suas dívidas.
Porém, ao invés de questionar a estrutura do mercado financeiro mundial, os governos europeus preferem cortar os gastos sociais, prejudicando o conjunto da sociedade e principalmente os trabalhadores.

Os países mais ricos da Europa (França e Alemanha) já levantaram a hipótese de criar o "Fundo Monetário Europeu", ou "FME", como uma forma de enfrentar a crise da dívida naquele continente. Segundo o Ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, "Nós não estamos planejando uma instituição concorrente com o FMI, mas precisamos de uma instituição para o equilíbrio interno da zona do euro, que teria à sua disposição tanto a experiência do FMI como mecanismos de intervenção similares".

Em suma: os países mais ricos da Europa querem criar uma forma de influir nas economias dos demais países da União Européia para, em troca de empréstimos, lhes impor mais políticas neoliberais, como cortes de gastos sociais e reformas que tiram direitos dos trabalhadores.

Segundo recente reportagem do jornal Valor Econômico, “O juro já é uma despesa enorme no orçamento grego e deve chegar a € 13 bilhões este ano. É mais do que o governo vai gastar com educação, judiciário e polícia juntos.”

Interessante observar que a despesa anual com juros na Grécia equivale a 20 vezes o valor que será obtido com o corte compulsório de 10% no 13º salário dos servidores públicos.

Esta generosidade ao mercado financeiro também é observada em Portugal, onde foi anunciado um congelamento salarial do setor público, cortes de gastos sociais e aumentos de impostos. Além do mais, privatizações de 6 bilhões de euros estão sendo cogitadas, tudo isto por pressão da União Européia.

Na Europa, os investidores pressionam os governos a promoverem cortes de gastos sociais e privatizações, para permitir o pagamento da dívida. Investidores estimam que os países membros da União Européia detenham empresas estatais no valor de 300 bilhões de euros, que possam ser vendidas para fazer caixa e pagar a dívida, ou seja, mais privatizações!

Na semana passada, a agência Fitch rebaixou a classificação da dívida de Portugal, alegando que aumentou o risco deste país não pagar sua dívida. Como resultado, o governo português logo anunciou seu “firme compromisso” de reduzir os gastos sociais e pediu ao Parlamento apoio para “tranquilizar os mercados”.
Cabe ressaltar, neste tema, que esta é a função das agências de risco: pressionar os governos a cortarem gastos sociais para pagar a dívida e satisfazer os investidores. Por outro lado, quando os grandes bancos internacionais vão à falência, imediatamente os governos mundiais – inclusive a União Européia, da qual fazem parte Portugal, Espanha e Grécia – promovem grandes pacotes de salvamento, às custas do povo.

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