sábado, 27 de março de 2010

(Solidariedade de classe) Violenta repressão a ato em SP produz momento poético

O Limiar e Transformação republica post de Leandro Fortes, do Blog de Leandro Fortes

O mundo bizarro de José Serra
Quase todos perdidos de armas nas mãos

Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.


Inesquecível, Serra, inesquecível.

Solidariedade de classe

Enquanto a polícia militar sob a ordem do governador José Serra, pré-candidato a presidente da Repúbica pelo PSDB, descia o cacete e estourava bombas nos profesores vemos no meio da fumaça a solidariedade de classe em ação.

Novamente a polícia paulista foi truculenta com os servidores estaduais da Educação em uma forte greve por seus legitimos direitos. De repente, vemos essa imagem paradoxal e bela, imagem não fruto do acaso, ou piedade individual. O que se vê é a solidariedade de classe: que não vê o repressor como inimigo, mas como iludido, manipulado, tão reprimido quanto o agredido. A solidariedade de classe quebra a cegueira da ideologia burguesa fazendo aquele professor ver o policial, apesar do cacetete e do uniforme, como um ser humano machucado.O verdadeiro inimigo é a burguesia e seus políticos a seu serviço.

 Quem participa dos movimentos grevistas sabe que gestos como esse são comuns entre seus participantes, o raro é termos registros disso pela imprensa.

P.S. 1: há fontes que dizem que o rapaz que carrega a policial militar seria um policial à paisana (o que a polícia militar parece dar como versão oficial), contudo outras confirmam ser um manifestante. Se o for, de nada perde sua poesia, apenas mostra que os agressores também podem sofrer com a violência que produzem, e precisarão de gestos de solidariedade, mesmo que apenas de seus colegas agressores.

P.S. 2: mais recentemente a PM de São Paulo confirmou que o rapaz seria um policial. O sindicato dos professores confirmou que ele se apresentou o tempo todo até o momento da confusão como professor, inclusive ingressando no ônibus que levou os manifestantes até a concentração do ato e assinou a lista de presença do comando de greve. Em resumo, ele é o que popularmente chamado de "P2", um policial infiltrado. O Comando da PM-SP na tentativa de desmerecer a cena, acabou entregando seu espião, e revelando uma das práticas mais sordidas ainda praticadas contra os movimentos sociais, que nunca foi sepultada apesar do fim da Ditadura Militar. Confirmada essa versão em nada altera a importância simbólica da cena enquanto gesto de solidariedade, como é explicado mais acima aqui no artigo.

Um comentário:

  1. Minha primeira impressão ao ver essa foto é que o homem que carrega a PM deveria ser um P2 que estava infiltrado no movimento dos professores.

    Agora me deparo com a msg do blog dando a notícia no sentido inverso.

    Entretanto, resolvi dar uma olhada a mais na net, sobre o assunto
    Vi a seguinte postagem no blog Viaomundo http://www.viomundo.com.br

    "Nota do Viomundo 1. Escrevi antes de ler o artigo do excelente Leandro Fortes, Brasília, eu vi, que abordou primeiro essa foto. Leia-o. É uma beleza.

    Nota do Viomundo 2. A informação de que se trata de um professor é da Agência Estado, que fez a foto.

    Nota do Viomundo 3. No portal do governo do Estado de São Paulo, foi postada agora à tarde a seguinte mensagem:

    Com relação à foto publicada na grande imprensa de uma policial sendo socorrida, a Polícia Militar esclarece que trata-se da Soldado Erika Cristina Moraes de Souza Canavezi, que foi ferida com uma paulada no rosto e que está sendo socorrida por um policial militar a paisana.

    A policial foi atendida no Hospital Albert Ainsten medicada, liberada e passa bem.

    A Polícia Militar agradece as manifestações de solidariedade.

    Nota do Viomundo 4: Se é um policial à paisana como diz a PM, cabe a ela revelar o seu nome, como fez em relação à soldado ferida. Estamos aguardando.

    Nota do Viomundo 5: Alô, Apeoesp e professores. Essa nota da PM procede?"


    ADriano Espíndola

    ResponderExcluir