sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Crescimento do investimento externo em 2010 pode gerar crise por aqui

As previsões para 2010 é que o Brasil possa vir a ter uma crise nas contas externas, isto é, com mais recursos saindo do que entrando. A raiz dessa crise é que o país prossegue uma economia dependente, com indústrias e empresas controladas pelo grande capital internacional, que apesar de investir aqui, remetem lucros e dividendos para o exterior.

Com a crise internacional de 2008/2009 as filiais das empresas transnacionais se viram forçadas ainda mais a remeter divisas para cobrir prejuízos em suas matrizes, mesmo que, tenham sido atraidas a investir ainda mais no Brasil durante o mesmo período devido a queda da rentabilidade lá fora. Porém, essa situação de possível crise da conta corrente apesar do aumento do investimento externo não é conjuntural em consequência da crise mundial, mas estrutural da economia brasileira.

O que acontece historicamente é que toda vez que aumenta a entrada de capitais aqui, aumenta na sequência, a pressão para saída. Em sucessivas rodadas. O aumento de investimento externo, por um lado, desnacionaliza a economia devido a compra de grandes empresas nacionais, privatizações das estatais e quebra das pequenas. E por outro, enfraquece a balanço comercial pois as empresas transnacionais são em geral grandes importadoras de insumos e peças de suas matrizes ou de outras filiais, aumentando a saída de recursos.

Para piorar, esse círculo vicioso é reforçado pelo governo, à medida que com a ameaça de crise no Conta Corrente se vê forçado a aumentar a atratividade de capitais para compensar a saída de lucros, atrair mais investimento externo mesmo aquele do tipo especulativo, através de taxa de juros altas. O que, por sua vez, fragilizam as empresas nacionais, beneficiando ainda mais as transnacionais que aqui entram.

Então toda vez, que o país se torna mais atrativo para o capital internacional, o país ao invés de se beneficiar, entra em rota de crise. A questão-chave do desenvolvimento brasileiro é a questão da dependência econômica.

Veja duas matérias abaixo que confirmam o cenário de crise de contas externas devido a remessas de lucros recorde:

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Remessa de lucro pode ser recorde em 2010

Conjuntura: Com real valorizado, envio de dinheiro para as matrizes de multinacionais pode atingir até US$ 38 bi

Sergio Lamucci - Valor Economico - As remessas de lucros e dividendos ao exterior voltaram a crescer no fim de 2009, trajetória que deve se acentuar ao longo deste ano, segundo analistas. Em novembro, as despesas com essas remessas superaram as receitas em US$ 2,012 bilhões, o maior valor mensal do segundo semestre do ano passado, mas ainda abaixo dos US$ 3,028 bilhões de junho de 2009 ou do recorde de US$ 4,345 bilhões de março de 2008. Com a expectativa de crescimento mais forte da economia em 2010, na casa de 6%, os ganhos das empresas devem aumentar, ao mesmo tempo em que as companhias tendem a aproveitar o câmbio valorizado para enviar mais dinheiro para as matrizes, a maioria delas localizadas em países ainda em retração econômica. Com a moeda fortalecida, os reais obtidos nos negócios no Brasil compram mais dólares.
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No entanto, ainda que um ou outro segmento reinvista mais ganhos no Brasil, a aposta generalizada é na aceleração das remessas em 2010. A combinação de crescimento mais forte dos lucros, num cenário de expansão acelerada do Produto Interno Bruto (PIB), e de um câmbio ainda valorizado é um poderoso incentivo nessa direção. ( clique aqui para ler a íntegra )

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Envio de recursos ao exterior vai afetar saldo em conta corrente neste ano

Luís Afonso Lima, presidente da Sobeet: remessas elevadas mostram que investir no país gera boa rentabilidade

Valor Econômico - Seg, 18 de Janeiro de 2010 - Entre janeiro e setembro de 2008, período em que imperou a combinação de crescimento forte e câmbio valorizado, as remessas de lucros e dividendos atingiram patamares recordes. No segundo trimestre daquele ano, um grupo de 301 empresas abertas teve lucro de R$ 34,971 bilhões, 16% superior ao registrado no trimestre anterior, segundo levantamento do ValorData, com base em números da Economática. O dólar médio, por sua vez, caiu 4,71% do primeiro para o segundo trimestre daquele ano, ficando em R$ 1,656 no período de abril a junho. O resultado foi um envio de US$ 10,3 bilhões ao exterior. A maior parte das filiais de multinacionais não tem capital aberto, mas os números elaborados pelo ValorData servem como um termômetro do desempenho das companhias no Brasil.
(...)
Lima diz que a pressão das remessas de lucros e dividendos sobre as contas externas é uma contrapartida do maior estoque de investimentos estrangeiros diretos no Brasil. De 1999 a 2008, o saldo de inversões externas em atividades produtivas cresceu de 181%, para US$ 287,7 bilhões, segundo a Sobeet. É um capital que veio para o Brasil e quer ser remunerado. As remessas elevadas, reflexo de lucros expressivos, mostram que investir no país gera uma boa rentabilidade, o que é importante para continuar a atrair volumes expressivos de investimentos estrangeiros diretos, diz Lima., que projeta fluxo de US$ 45 bilhões neste ano, bem acima dos US$ 25 bilhões estimados para 2009. ( clique aqui para ler a íntegra )

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