terça-feira, 28 de julho de 2009

(resenha) “A América Latina e os desafios da globalização - ensaios dedicados a Ruy Mauro Marini"

Jornal dos Economistas, no. 240 (Julho, 2009). Pág. 13

-Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho*

Por iniciativa da REGGEN e publicada pela Editora da PUC-Rio e Boitempo Editorial, recentemente foi lançando livro reunindo ensaios de pensadores contemporâneos de vários países a respeito da obra, do contexto histórico ou sob a influência
do cientista social brasileiro Ruy Mauro Marini na interpretação da globalização a partir da América Latina.

O livro, mais que um resgate e celebração à vida e obra de Marini através das escritas dessa seleção de autores, chega em um momento excelente, coincidindo oportunamente com os 40 anos do livro de Marini “Subdesenvolvimento e Revolução”
(1969) e com o aparecimento de uma nova crise mundial capitalista,
a maior desde a de 1929. E mais do que isso, serve ao resgate de seu pensamento e para romper o silêncio no Brasil em torno desse autor, permitindo a nova
geração de intelectuais mais do que conhecê-lo, tê-lo como ponto de partida e relocalização com a nova realidade e a religação entre prática e teoria.

Um dos fundadores da Teoria da Dependência e um dos principais expoentes de sua versão marxista, Ruy Mauro Marini é participante de um seleto grupo responsável pela projeção do pensamento de produção regional latino-americano. As décadas de 1960 e 970 foram de renovação do pensamento marxista. A Teoria da Dependência era a articulação dessa renovação na periferia do capitalismo mundial, em especial na América Latina. Por sua vez, Marini sempre procurou casar nas análises a questão nacional e a questão democrática com a luta de classe e, articulando-os, resultando em um enfoque e uma perspectiva socialista.

Contudo, embora ainda seja pouco divulgada em seu próprio país, sua obra serve de base e inspiração a uma vasta gama de pensadores e influência a várias correntes da ciência social ainda hoje, mesmo passado mais de uma década de sua morte (1997).

Marini tinha uma visão crítica do desenvolvimento das economias latino-americanas:
monopolista e sócia dos monopólios transnacionais do centro imperialista. Para Marini, a dinâmica econômica própria e regular das sociedades da zona periférica gera uma descapitalização crônica e crescentemente maior, e reforço da desigualdade
social, especialmente na zona periférica industrializada, combinada da ampliação da situação de dependência crescente ao centro.

Mas também, a dependência é do centro com a periferia, que se torna também cada vez mais refém das transferências do excedente econômico, garantidos por um controle mais férreo das burguesias nacionais sobre as massas, e pela ampliação da taxa de exploração da força de trabalho. E ainda terá que repetir no plano interno o modal de geração de mais-valia pela superexploração do trabalho. Reforçando consequentemente a crescente transnacionalização da economia mundial.

Infelizmente, Marini não viveu para ver uma espécie de renascer do interesse no seu pensamento e na Teoria da Dependência, despertados pela crise do modelo neoliberal marcadas pelas sucessivas crises da década 1990 e pela recente ascensão dos movimentos de massas. Na atual década houve uma produção autoral sob enfoque dependentista ou derivado que ultrapassa o volume das duas anteriores.

Contudo, a esquerda intelectual latino-americana, especialmente a brasileira, ainda está se reajustando a essa nova realidade. Tentar se apropriar do legado da obra de pensadores como Marini seria um bom passo e esse livro cumpre um papel fundamental neste sentido.

* Almir Cezar de Carvalho Baptista Filho é economista graduado pela UFF e mestre pela Universidade Federal de Uberlândia

Para ler a íntegra do Jornal dos Economista no. 240 clique aqui.

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