domingo, 28 de junho de 2009

Besouro, um herói negro no cinema

Por Almir Cezar Filho

Estou fascinado. Por acaso descobri na internet. Previsto para estreiar no mês de outubro o filme Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, produzido pela Mixer e pela Globo Filmes, e distribuído pela Miravista, Veja o trailer de três minutos.

O filme mostra um pouco da vida dos negros brasileiros do início do século XX e mistura com o misticismo afro-brasileiro e a capoeira. Conta a história de um capoerista com poderes mágicos que enfrenta os coronéis do interior da Bahia. Transpõe para a "grande tela" a lenda popular nos meios capoeristas de Besouro Mangangá, dando é claro um tratamento cinematográfico. Está aí o primeiro "super-herói" brasileiro.





Infelizmente para um filme com um alta qualidade e com uma história tão incrível, como deve ser esse Besouro, o filme, tem que se precisar da co-produção do novo monopólio do áudio-visual nacional, a Globo Filmes.

Espero que o filme não decepcione, algo provável, à medida que poder ser pressionado pela produtora e distribuidora para ser mais "palatável ao público". Já vimos isso no passado recente, com a história de Olga Benário, uma revolucionária que virou uma mocinha de novela, e sempre vemos quando há um protagonista negro. O que seria uma tristeza e desperdício de uma incrível história - senão mesmo um crime.

Em um mundo, ou melhor no plano da estética, onde nas obras literárias, dramaturgicas e áudio-visuais predominam que seus personagens protagonicos são sempre personagens brancos ou das elites, ou que lutam ao seu serviço, um herói que justamente faz e é o inverso disso é algo incrível.

Por outro lado, o público está cansado de heróis a serviço do sistema. Querem ver aqueles que lutam, enfrentam. Além disso, os negros são sempre tratados como moldura da História, "vaquinha de presépio". Quando muito vítimas, vítimas dóceis, Nunca mostrando os seus rebeldes, mostrando a resistência.

Se grandes monopólios do áudio-visual se interessam por um história desse tipo é porque a mudanças em curso em nossa sociedade. E no minímo pressionados tentam canalizar ou aproveitar essa tendência a serviço do seu lucro, da absorção dos efeitos da mudança como consumo. O efeito de filmes como Cidade de Deus, Carandiru e Tropa de Elite mostra - cada qual do seu jeito, sempre, é claro, de maneira enviesada - que o público quer ver filmes que mostrem o outro lado da sociedade, mostrem outros sujeitos da sociedade, mostrem os "out side", os rebeldes, os que não são o modelo. Ainda mais numa sociedade que apregoa como modelo os dóceis.

Os negros e os pobres são sujeitos sim da humanidade, embora sujeitos explorados, mas que há atritos e conflitos a esse estado das coisas. E um dia serão sujeitos de uma nova história, sem exploração.

O filme pode até não mostrar isso, o que é mais provável, até porque, não precisamos de heróis, muito menos de super-herói negros e pobres, precisamos de organização e consciência entre os negros e pobres. Mas talvez a sua maneira, esse filme e esse herói revele uma nova tendência entre o público e ainda possa instigar várias pessoas para mudar sua própria história. Que ser negro e pobre não é ser vítima e sim que se pode levantar a cabeça, dispondo da cultura tradicional afrobrasileira, não como perspectiva, mas ponto de partida para a verdadeira resistência aos novos coronéis que mandam em nosso país e mundo.

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