terça-feira, 31 de março de 2009

Ecolimites ou "Gueto de Varsóvia"

por Almir Cezar Filho

As notícias recentes sobre a construção de "ecolimites" nas favelas cariocas me parecem não ser não apenas uma nova panáceia das elites sobre o controle das favelas. Mas na verdade esconde uma nova estratégia de controle social e aproveitamento econômica da mão-de-obra de reserva dessa população.

Os ecolimites seriam muros contruidos no entorno das favelas de encostas visando restringir a ocupação irregular impedindo novas contruções além de muros que a limitariam com a mata atlântica. Esses muros já tinham sido propostos em anos atrás, é famosa inclusive a repercussão negativa quando o então prefeito do Rio, Luís Paulo Conde, prometeu contruir muros cercando as favelas, com a mesma finalidade. Na época foi a proposta foi padeceu de muita rejeição, contudo agora está sendo perigosamente aplaudida pela mídia e a classe média.

Os ecolimites e a nova política de segurança pública de ocupação permanente de favelas, inaugurada no Morro Santa Marta, mas não menos ainda, outra ação estatal um pouco diferente, as obras do PAC, são parte combinadas de uma nova política de controle social das favelas cariocas e visa o aproveitamento da mão-de-obra de reserva dessa população. Militarizam e cercam.

A primeira imagem que me veio a mente foi a semelhança com o Gueto de Vársovia. Um imensa comunidade criada com o confinamento de uma parcela da população.

Esse tema outro dia volta a escrever, aproveitando para esmiuçar mais meus argumentos.

sábado, 28 de março de 2009

FUTURO

Um grupo de cientistas vem estudando a muito sobre a longevidade cerebral e descobriram que:

Quando pensamos no presente utilizamos 5 áreas do celebro, no passado 10 áreas e no futuro 21 áreas do cérebro.

Conclusão:
Sonhando com o amanhã, idealizando novas metas em nossas vidas e sempre continuarmos a buscar novos caminhos são formas de continuarmos a crescer.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Encontro de Estadual de Mulheres da CONLUTAS-RJ

O vídeo é uma das sessões do 1o Encontro Estadual de Mulheres da CONLUTAS-RJ, mesa coordenadora do plenário. O fórum ocorreu no dia 15 de novembro de 2008, no Palácio Universitário, campus da Praia Vermelha da UFRJ, e foi organizado pelo GT de Mulheres da CONLUTAS-RJ.

A equipe, composta de Alexandre e Almir, cinegrafistas, e a montagem incluiu Dirley e Eduardo "Xuxu", registrou o Encontro e agora estou postando várias partes do evento.


http://www.youtube.com/watch?v=TWNJIzXpYJo



Mais vídeos do 1o. Encontro Estadual de Mulheres vocês poderam assistir clicando a barra de vídeos lateral aqui do blog. São vídeos com o material ainda bruto. O documentário final pronto estará nas mãos da Secretaria da CONLUTAS-RJ.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Apostila sobre Planejamento, Gestão e Controle

Ano passado fui forçado por falta de material didático disponível no mercado editorial a redigir uma apostila para as minhas disciplinas nos cursos técnico, tecnológico e de qualificação profissional em petróleo e gás. Redigi uma apostila sobre planejamento, gestão e controle de empresas industriais.

É verdade que há muito material sobre planejamentona praça em livrarias, sebôs e bibliotecas mas sempre sobre planejamento econômico, enfocando uma perspectiva do planejamento público ou macroeconômico, quando não do desenvolvimento nacional ou regional, há também de planejamento estratégico, agora em moda na Administração, que não era útil aos cursos e público das minhas aulas. Queria falar sobre planejamento empresarial numa perspectiva prática aos futuros técnicos e operadores, isto é, gente que trabalhará no "chão de fábrica", mas que precisa ter a noção de como são confeccionados o planejamento da empresa e seus atores.

Contudo, a minha apostila era muito rudimentar, e olhando hoje, merece muitas revisões e acréscimos, mas que na época de sua redação não pude perceber, diante do ineditismo, da falta de referências disponíveis e também por conta do perfil público que era dedicado o material. Acabei enfatizando muito mais os aspectos políticos e administrativos do planejamento e gestão, do que os aspectos técnicos e econômicos.

Em todo caso, queria oferecer aos leitores do blog para uma lida, e peço para me enviar críticas e sugestões. Devo acrescentar, que o mais provável, é que em breve devo realizar muitas modificações, e quiçá, redigir uma obra de maior fôlego, mas ainda mais didática do que foi essa.

Por fim, queria dizer que o texto começa apresentado o estudo do planejamento pelo sistema econômico e pela empresa. Não como ensinar o que é planejamento sem explica no que se insere e porque as empresas precisam utilizar dessa ferramenta.

Para baixar clique aqui.

Debate sobre a crise organizado pelo CORECON-RJ

“A EVOLUÇÃO DA CRISE ECONÔMICA E SEUS EFEITOS EM AMBIENTE DE PARQUE PRODUTIVO DESNACIONALIZADO”

com

- Reinaldo Gonçalves – (Prof. titular do Instituto de Economia da UFRJ);

- Armando Castelar (Analista da Gávea Investimentos e Prof. do Instituto de Economia da UFRJ).

O debate é aberto ao público. Basta comparecer hoje, 26 de março, a partir das 18h30 no auditório do CORECON/RJ.

Av. Rio Branco, 109/19º andar – Centro/RJ.

quarta-feira, 25 de março de 2009

CPI da Dívida

Recebi da lista dos amigos do Movimento da Auditoria Cidadã da Dívida

***

Amigos da Auditoria Cidadã da Dívida,

Cinco partidos (PCdoB, PDT, PPS, PR e PRB) indicaram os seus deputados representantes na CPI da Dívida, que havia sido criada dia 8 de dezembro de 2008, conforme notícia constante na página da Auditoria Cidadã da Dívida. Isto representa um passo importante para a instalação da CPI.

Restam indicar seus representantes os seguintes partidos: PMDB, PT, PP, PTB, PSC, PTC, PtdoB, PSDB, DEM, PSB e PV. Assim que estes sejam indicados, a CPI já pode começar a funcionar.

Portanto, estamos encaminhando abaixo a lista com os endereços, telefones e e-mails dos líderes destes partidos, aos quais cabe fazer a indicação. Encaminhamos também uma proposta de carta, para que as entidades possam fazer as alterações que julgarem necessárias e enviarem a estes parlamentares.

Atenciosamente,

Coordenação da Auditoria Cidadã da Dívida

www.divida-auditoriacidada.org.br

sábado, 21 de março de 2009

Após cortes, Embraer nega pagar bônus de R$ 50 mi

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/03/21/e210325533.asp
Portal Terra 18:14 - 21/03/2009


BRASÍLIA - Mesmo após ter anunciado, no final de fevereiro, a demissão de mais de 4,2 mil funcionários, a Embraer foi beneficiada, nas últimas duas semanas, com seis contratos firmados com o governo federal que, juntos, totalizam R$ 102,73 milhões. Para o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, além da manutenção desses contratos junto à Força Aérea Brasileira (FAB), a empresa, mesmo com a queda de demanda de aviões, teria reservado bônus de R$ 50 milhões a um grupo de 25 diretores, à semelhança do que fez a seguradora americana AIG.

Nos Estados Unidos, a AIG, alvo do plano de ajuda do governo Barack Obama, admitiu ter mantido os bônus para seus diretores, ainda que a empresa tenha ameaçado estar à beira do colapso.

Quarta maior fabricante de aviões no mundo, a Embraer anunciou a demissão de 4.270 funcionários no Brasil, Cingapura, França e Estados Unidos, argumentando que o corte de pessoal ocorria "em decorrência da crise sem precedentes que afeta a economia global, em particular o setor de transporte aéreo".

Após as demissões, a cúpula da empresa e representantes do sindicato em São José dos Campos foram convocados para audiências com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu, inclusive, telefonar à diretoria da companhia em busca de negociação. Na última quarta-feira, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas manteve as demissões.

- Não tem crise econômica na Embraer, a Justiça sabe disso e manteve os postos de trabalho (provisoriamente, por meio de uma liminar). Esses contratos assinados também provam isso - alega Adílson dos Santos, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região.

- Estamos achando isso tudo uma farra. Hoje, essa empresa serve para dar dinheiro para banqueiro e para gerência, que vai receber bônus de R$ 50 milhões - critica o dirigente.

Para Adílson, que defende a estatização da Embraer, "não tem porque assistir a tudo isso (demissões) e o governo continuar colocando dinheiro".

- São José dos Campos tem um pólo industrial muito importante e, tendo o governo como dono da empresa, ele tem como determinar para quem vai vender e não deixar o negócio nas mãos de diretores (da iniciativa privada) - disse.

Embraer rebate acusações

Em nota divulgada neste sábado, a Embraer negou o pagamento do bônus e afirmou que o patamar indicado pelos sindicalistas diz respeito ao "valor limite definido pelos acionistas para dispêndio com seus administradores no período de maio de 2008 a abril de 2009".

A empresa destaca ainda que os R$ 50 milhões não são bônus, mas uma reserva para pagamento dos honorários dos conselheiros de administração e de seus encargos trabalhistas. A verba também serve, diz a Embraer, para garantir os honorários dos diretores, participação deles nos lucros da empresa e despesas com assistência médica, planos de aposentadoria complementar e encargos trabalhistas sobre as indenizações e verbas rescisórias de ex-administradores.

- É absolutamente inverídica a informação de que diretores e conselheiros da Administração da Embraer receberam R$ 50 milhões de bônus da empresa - diz a nota, acrescentando que a participação nos lucros, a assistência médica e o plano de aposentadoria complementar não são benefícios exclusivos dos administradores, mas de todos os empregados.

Conforme apurou o Terra junto à ONG Contas Abertas, desde o início de março foram feitos empenhos (compromisso de pagamento) da União à Embraer no valor de R$ 102,73 milhões, sendo que, na lista de compras da União, estão duas aeronaves descritas como "para transporte presidencial", ao custo de R$ 10,3 milhões e R$ 28,4 milhões cada uma das parcelas nos dois contratos, cujo valor total ultrapassa os R$ 210 milhões.

As demais operações incluem parcelas para o fornecimento de 99 aeronaves do tipo Super Tucano, no valor de R$ 8,43 milhões cada; parte da modernização de 46 aeronaves F-5 E/F, em uma conta de R$ 25,76 milhões; a prestação de serviços e modernização de 53 aeronaves A-1 e suporte logístico, no valor de R$ 22,81 milhões; e a aquisição de materiais aeronáuticos não especificados ao custo de R$ 7 milhões. A Força Aérea Brasileira (FAB) não soube informar o número de parcelas que ainda faltam para o governo quitar o débito.

Procurada, a Embraer disse que os contratos são antigos e continuam mantidos, independentemente da crise financeira mundial.

- A FAB é um dos principais clientes (da empresa) no mercado interno, independentemente (das demissões) das últimas semanas - diz o comunicado.

A empresa ressalta que este ano teve de reduzir a previsão mundial de fabricação de aeronaves de 350 unidades para 242, uma vez que alguns clientes pediram para adiar as entregas de aviões e outros chegaram a cancelar contratos. A conseqüência imediata, informou a Embraer, foi a redução de 20% do efetivo de funcionários.

***

Comentário:

Que os acionistas e executivos da Embraer paguem pela crise, pois durante a fase de bonança não repartiram os ganhos com os trabalhadores.

Dizem que tem que demitir pois não há grana em caixa para mantê-los, mas reservam um grande quantia para seus bônus. Vergonhoso essa postura da cúpula da empresa. O vergonhoso também é que o Governo Lula não faz nada, justifica as ações da cupula da empresa. Pelo menos lá nos EUA Obama, pressionado, deve que publicamente correr atrás da AIG. Veja a cara-de-pau dos executivos, recorreram ao Tesouro para salvar a empresa, que eles quebraram, mas na sequência tugam esses recursos, na forma de "bônus contratuais".

Continua insistindo: a causa das demissões não é crise na empresa.

Reduções salariais e demissões não ajudam a empresa a repor seus lucros, muito pelo contrário, reduz ainda mais a sua taxa de lucro, pelo efeito queda da demanda efetiva e da produtividade do trabalho. Além disso, durante anos a empresa acumulou capital, com grandes lucros, transferindo-os aos acionistas e executivos na forma de bonus e dividendos, que muito bem agora poderiam ser revertidos. Esses ao invés de diminuir o número de trabalhadores na empresa, deveriam fazer um aporte de capital de seu bolso para sanear/socorrer a empresa no atual momento de suposta queda brusca nas vendas. Mas não o farão. Eles querem é "tirar" dinheiro, nunca por.

Contudo, reafirmo, a causa das demissões na Embraer é sim uma estratégia para arrancar do Governo mais incentivos fiscais e enfraquecer o sindicato local, ou, no muito, frear a formação de estoques. Como no Brasil é fácil demitir - o custo de demissão é baixa - é mole adotar esse tipo de postura.

O socorro real a empresa, ao meu ver, é a estatização. Ainda mais à medida que essa empresa é estratégica para cadeia industrial da região e do Brasil. É preciso retirar a empresa da mão dessas pessoas que atualmente a gerem, que só sugam e nada a ajudam, e transferir democraticamente sua gestão, sob supervisão do Governo, para aos seus trabalhadores.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Internacionalismo e campismo: dilemas da aposta estratégica

Recebi esse excelente artigo do próprio Valério Arcary e posto aqui hoje.

Internacionalismo e campismo: dilemas da aposta estratégica

por Valério Arcary
professor do IFECT-SP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo) e doutor em história pela USP

Resumo

A pesquisa sobre o tema do internacionalismo tropeça em um paradoxo. Os marxistas previram que a burguesia seria uma classe, irredutivelmente, nacional. Anteciparam outro prognóstico ainda mais ousado: os proletariados nacionais se elevariam, politicamente, à perspectiva internacionalista. Mas, a história foi mais complicada. A burguesia, quando se sentiu ameaçada no século XX pelo perigo de transformações anticapitalistas, demonstrou capacidade de superar suas divergências nacionais. Já o proletariado encontrou dificuldades, até hoje, intransponíveis, para reconstruir um movimento internacionalista. O destino de sua luta, diante da crise econômica mais séria depois de 1929, parece depender da redescoberta do internacionalismo.

Quanto mais zelosamente os governos e a burguesia de todos os países procuram desunir os operários e lançá-los uns contra os outros(...), tanto mais imperioso é o dever do proletariado consciente de defender a sua coesão de classe, o seu internacionalismo, as suas convicções socialistas (...)Num momento da maior importância histórica mundial, a maioria dos dirigentes da Internacional Socialista tenta substituir o socialismo pelo nacionalismo.[1] (Vladimir Ilitch Ulianov, alias, Lenin)


A crise econômica de 2008 colocou na ordem do dia a discussão sobre o futuro da atual ordem mundial. A necessidade intransferível de uma coordenação internacional, algo que seria o mais próximo de um governo mundial, parece urgente. Mas, essa coordenação choca com as assimetrias que dividem o mundo em países centrais e periféricos. Nenhum Estado na história do capitalismo renunciou às vantagens de sua posição dominante no sistema mundial sem resistências.

Amsterdã entrou em guerra com Londres por três vezes no século XVII, até que a Holanda aceitou um papel complementar na relação com a Inglaterra. A Inglaterra entrou em guerra seis vezes com a França pela liderança no sistema europeu de Estados, entre o final do século XVII e a derrota final napoleônica em 1815. Alemanha e Inglaterra mergulharam o mundo, em 1939, em uma guerra total. Depois de 1945, o Japão aceitou o papel complementar na relação com os EUA e, depois da crise dos anos setenta, a França aceitou um papel complementar na relação com a Alemanha. Não será diferente com os EUA: coordenação internacional da crise é um eufemismo para a supremacia de Washington.

A crise contemporânea revela que as instituições erguidas a partir de Bretton Woods em 1944 não correspondem mais às necessidades do capitalismo. FMI, Banco Mundial, OMC, OIT, Banco de compensações internacionais de Basiléia e ONU, todas as organizações de regulação econômica, social e política estarão sendo reavaliadas. As turbulências no mercado mundial ameaçam se transformar em terremotos sociais – como na Grécia em dezembro de 2008, ou na ilha de Guadalupe, depois de trinta dias de greve geral - e exigem que os Estados renegociem o formato do sistema de Estados. Sendo improvável, senão impossível, apesar das pressões que já se manifestaram nos EUA, na Europa e no Japão, uma retração protecionista semelhante aos anos trinta, a questão da regulação mundial passou a ser uma das questões decisivas.

Marx e Engels defenderam no interior da I Internacional que as burguesias nacionais européias seriam classes prisioneiras do nacionalismo, em função da estreiteza de seus interesses econômicos. Previram, em 1871, depois que a guerra defensiva da Alemanha contra o Império francês se transformou em guerra ofensiva, culminando com a derrota da Comuna de Paris pelas tropas do governo francês, protegido pelo exército alemão em Versailles, e a anexação da Alsácia e Lorena, que as lutas fracionais entre as duas burguesias mais poderosas do continente semeavam as condições históricas para uma nova guerra, porém, incomparavelmente, mais destrutiva. A I Guerra Mundial lhes deu razão. O nacionalismo dos Impérios europeus nasceu das rivalidades burguesas, que só eram relevadas diante do perigo da subversão operária.

A segunda geração marxista, na época da II Internacional, defendeu que o “internacionalismo” do capital seria o imperialismo. O imperialismo de uma nação só seria possível com a destruição do direito de existência independente de outras. O nacionalismo das burguesias centrais corresponderia à anexação das burguesias periféricas aos interesses das metrópoles contra os interesses de suas próprias nações à independência. O imperialismo seria a forma mais exaltada e mais perigosa de nacionalismo: o nacionalismo das nações opressoras. Concluíram que o imperialismo seria a fase do apogeu e, ao mesmo tempo, do declínio do capitalismo.

Este prognóstico passou a prova da história? Afinal, o capitalismo uniu econômica e politicamente o mundo, em sucessivas etapas, ao longo de um processo que consumiu séculos. Mas, não é um bom critério histórico confundir o que foi produto do capitalismo com o que foi a obra dos capitalistas. O capitalismo é um sistema que se afirmou em escala internacional. Já os capitalistas são uma classe que permaneceu dividida por antagonismos nacionais. Construíram monopólios e bancos que, embora atuando em escala global, continuaram sendo negócios nacionais. O capitalismo histórico criou o mercado mundial e estruturou um sistema internacional de Estados, mas preservou, intactas, as fronteiras políticas dos países centrais, aqueles que deram forma ao moderno imperialismo.

Os marxistas anteciparam outro prognóstico ainda mais ousado: os proletariados nacionais se elevariam, politicamente, à perspectiva internacionalista, em função de seu impulso revolucionário: “a emancipação da classe operária não é um objetivo nacional, mas social, que abarca todos os países em que existe a sociedade moderna” (Marx, 1988, p.8). Proletários de todo o mundo, uni-vos! Esta foi a palavra de ordem central que o marxismo apresentou como síntese de um programa socialista. Seria uma questão de tempo para que os limites nacionais do capital se manifestassem, incontornavelmente, e para que a grandeza internacionalista do projeto socialista se afirmasse, inelutavelmente. Teria este projeto bases materiais, ou era uma utopia?

A supremacia dos EUA no sistema internacional de Estados

A história foi, todavia, mais complicada do que tinham antecipado os fundadores do moderno movimento socialista. Ao longo do século XX, revolução e contra-revolução mediram forças, mas o capitalismo conseguiu preservar-se. Em quatro ondas de assalto internacionais ao domínio da burguesia – depois de 1917, depois da crise de 1929, depois de 1944, e depois de 1968 - a revolução mundial desafiou o capitalismo e foi derrotada (Hobsbawm, 1996). O Capital se internacionalizou até os limites máximos do mercado mundial. A capacidade demonstrada pela burguesia, depois de duas guerras mundiais devastadoras, de superar as suas divergências nacionais, surpreendeu os marxistas, mas foi muito estudada. Já, a dificuldade do proletariado de se unir à escala mundial contra o capitalismo, depois do triunfo do estalinismo na ex-URSS, decepcionou-os, mas é menos compreendida.

O capital financeiro domina o mundo. E o capital financeiro dos EUA domina o capitalismo mundial. Essa dominação foi incontrariável, e não parece previsível que venha a ser desafiada durante a fase aberta pela atual crise. Haverá conflitos comerciais, mas não haverá guerra comercial entre as potências. A terrível lição dos anos trinta não ocorreu em vão. Uma solução militar para a crise não é plausível. Caberá aos EUA assumir a liderança da coordenação internacional.

O capital financeiro foi o produto histórico da fusão do capital bancário com o capital industrial, sob a liderança do primeiro, na elaboração de Hilferding de 1912, retomada por Lenin no seu Imperialismo, fase superior do capitalismo: “se fosse necessário dar uma definição o mais breve possível do imperialismo, deveria dizer-se que o imperialismo é a fase monopolista do capitalismo (...) o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital dos grupos monopolistas industriais” (Lenin, 1966, p.762).

Depois da Segunda Guerra Mundial, a liderança norte-americana sobre o capitalismo internacional se afirmou de forma incontroversa. Sua supremacia foi ainda maior que a inglesa no século XIX. Essa hegemonia traduziu-se no lugar do capital financeiro yankee no capitalismo erguido após as negociações de Bretton Woods em 1944. A primazia dos capitais norte-americanos sustentou-se, também, nos trinta anos de crescimento do pós-guerra, enquanto Europa e Japão ainda se reconstruíam, na superioridade da sua capacidade industrial, na estabilidade política-social interna do governo dos EUA e, por último, mas não menos importante, no papel insubstituível do seu aparato militar, inclusive, nas armas nucleares.

Na seqüência da restauração capitalista na China e na ex-URSS, contrariando a hipótese de autores como Arrigui, no seu O longo século XX, ou Wallerstein (2002), o papel da liderança norte-americana não só não diminuiu, como aumentou. A transferência de indústrias para o Oriente nos anos 90 não parece ter sido expressão somente da decadência, mas, sobretudo, da fortaleza do capital norte-americano, que se aproveitou da oportunidade histórica da restauração capitalista para tentar incorporar a China como semicolônia na sua área de dominação direta. O papel do capital financeiro dos EUA adquiriu dimensões espantosas durante a globalização dos últimos quinze anos. Os capitais fictícios – aqueles que acumulam hoje, na perspectiva da valorização futura – agigantaram-se até dimensões colossais, algo próximo de dez vezes o PIB mundial, ou mais de US$500 trilhões, segundo o Banco de Compensações Internacionais de Basiléia, alimentando as bolhas dos preços dos ativos que começaram a explodir no segundo semestre de 2007, e mergulharam em colapso em setembro de 2008, após a falência do Lehmann Brothers.

Uma ordem mundial menos estável depois da dissolução da URSS

Em resumo, a configuração do sistema mundial de Estados mudou em 1945, com a hegemonia inconteste dos EUA sobre os outros imperialismos. Uma ordem mundial incomparavelmente mais estável se construiu, em comparação com a primeira metade do século, pela inapelável derrota alemã e japonesa, e pelo papel auxiliar vital de Moscou ao garantir a coexistência pacífica, ou seja, ao se comprometer em não incentivar revoluções que desafiassem a ordem capitalista. Em perspectiva histórica, temos hoje a dimensão de que os conflitos entre os EUA e a URSS eram condicionados pelo interesse mútuo de preservação da ordem, e foram até teatralizados pelos dois Estados, como destacou Wallerstein (2002).

Karl Kautsky tinha previsto no início do século XX a possibilidade do ultra-imperialismo. E antecipava que a época do ultra-imperialismo seria uma época de paz, porque seria a superação dos imperialismos nacionais. O ultra-imperialismo seria a expressão política de uma transformação econômico-social: assim como com o imperialismo, na virada do século XIX para o XX, teria ficado para trás a época da livre concorrência, a fusão dos monopólios nacionais em grandes corporações multinacionais deixava para trás a época das guerras burguesas pelo controle do mercado mundial. Seria a época de uma burguesia, enfim, internacionalista. O ultra-imperialismo seria a época do Império mundial. Mas, duas guerras catastróficas em menos de trinta anos desmoralizaram a idéia do ultra-imperialismo. Toni Negri e Michael Hardt, com seu Império(2002), retiraram a hipótese de Kautsky do esquecimento. Cem anos depois não parece que seu livro terá melhor destino.

Depois da dissolução da URSS, nove entre cada dez interpretações exaltavam a vitória histórica do capitalismo e da democracia e a inauguração de uma época de paz. Revoluções seriam rebeliões arcaicas para sempre enterradas. O socialismo teria sido derrotado pelo próprio proletariado que, supostamente, deveria representar. A superioridade da propriedade privada e do mercado teria sido confirmada pela história. Uma maior estabilidade no sistema internacional de Estados garantiria uma época de prosperidade sustentável.

É verdade que a supremacia dos EUA no sistema mundial de Estados não diminuiu depois de 1989/91, ficou maior. Mas, a estabilidade de sua dominação não aumentou, na verdade, diminuiu. O que foi interpretado, apressadamente, como o fim da época aberta pela revolução de Outubro, revelou-se uma virada histórica transcendental, mas não como foi previsto. A possibilidade de reformas durante as décadas de ajuste neoliberal ficou menor. As desregulamentações ultra-liberais abriram caminho para uma financeirização do capitalismo que fermentou as bolhas que explodiram em 2000 e agora em 2007.

Sem o papel de contenção que era cumprido pelo Estado soviético, a instabilidade política e social aumentou nos dois elos mais frágeis da dominação imperialista: o Oriente Médio e a América Latina. Moscou perdeu a capacidade de cumprir a função de controle que exerceu durante décadas no Golfo Pérsico: a OLP perdeu influência para o Hamas, o Hisbolah assumiu a liderança da resistência a Israel no Líbano e o Irã se consolidou como Estado independente. Na América Latina, os velhos Partidos Comunistas desmoronaram, e abriu-se um novo ciclo político com as insurreições populares que deslocaram mais de dez presidentes eleitos, em menos de dez anos, como conseqüência das crises econômicas de 1989/1992 e 1999/2003, sem que a extensão das políticas sociais focadas e compensatórias assegure condições de estabilidade social quando se abaterem sobre o continente as seqüelas da nova crise.

O lugar da política da casta dirigente na URSS na etapa 1945/89 não deveria ser subestimado, como ficou claro na revolução portuguesa em 1974/75. Apesar de Moscou, todavia, inúmeras situações revolucionárias se precipitaram no pós-guerra – como na Bolívia em 1952, Guatemala em 1953, na Indonésia em 1965, ou no Chile em 1973 – e foram derrotadas. Entretanto, revoluções triunfaram, também, como em Cuba em 1959, Argélia em 1961/63, ou ainda na Nicaragua e Irã em 1979. Em meados dos anos setenta aconteceu o impensável: uma derrota militar de Washington no Vietnam.

Foi a desconfiança das massas trabalhadoras nas suas próprias forças o maior obstáculo a ser vencido em todas as revoluções contemporâneas: essa permaneceu sendo a força de inércia reacionária mais poderosa na história. Mas essa insegurança social não pode ser compreendida, plenamente, sem analisar o papel dos seus partidos dirigentes. Estes partidos, socialdemocracia e estalinismo, estavam comprometidos com a defesa da coexistência pacífica, portanto, com o status quo no sistema internacional de Estados. Depois de 1989/91, a ruína dos PC’s foi a ruína, também, de um dos pilares da estabilidade no Ocidente. Foi o atraso de reformas que incendiou, invariavelmente, a possibilidade de revoluções. Depois de 1989/91, com o desemprego crônico e o salário médio estagnado ou em queda, as ilusões nas possibilidades de uma mobilidade social ascendente diminuíram.

Do internacionalismo marxista ao nacionalismo campista

O curso regressivo do proletariado do internacionalismo ao nacionalismo, entre os anos 20 e os anos trinta do século XX, correspondeu a um processo histórico de acumulação de derrotas da revolução mundial. Na etapa aberta pela vitória da revolução de Outubro, a dinâmica tinha sido inversa. Depois da vitória da revolução russa em 1917, e da crise de 1929, o futuro do capital pareceu, seriamente, ameaçado. A revolução contemporânea foi, objetivamente, uma revolução mundial. A forma de expansão em ondas de contágio dentro de cada continente não foi excepcional: Europa central depois de 1918, Europa do Mediterrâneo depois de 1929, os Bálcãs depois de 1944, o Mediterrâneo depois de 1968, a América Latina depois de 1959, etc...

Mesmo as formas cada vez mais aterrorizadoras do regime tirânico estalinista na URSS, nos anos trinta, não anulavam as façanhas econômicas e sociais que o planejamento econômico e a propriedade estatizada estavam permitindo realizar. A III Internacional cresceu durante seus primeiros quinze anos, rapidamente, como pólo de atração do movimento socialista mundial. Entretanto, desde meados dos anos vinte, e ainda mais acentuadamente depois dos anos trinta, quando dos julgamentos de Moscou, sua orientação política evoluiu, vertiginosamente, do internacionalismo para o campismo.

Os campistas apoiavam seus argumentos com uma demonstração simples de sua estratégia. O mundo estava dividido em dois campos, o capitalista e o socialista. Seria uma questão de tempo para que a superioridade do socialismo fosse arrasadora. Revoluções sociais tinham sido enterradas pela história, porque o arsenal nuclear do imperialismo ameaçava a própria existência da civilização. Logo, toda a tática consistia em ganhar tempo para que a transição ao socialismo por via pacífica, respeitando as formas democráticas das Repúblicas burguesas, fosse conquistada. A coexistência pacífica favorecia, presumia-se, a passagem ao socialismo. A luta de classes deveria estar subordinada aos interesses diplomáticos da URSS nas relações com os EUA: a situação mundial se resumia a uma luta entre Estados.

O campismo socialista parecia ter desmoronado no início da década de 90 com a restauração capitalista no Leste e a desintegração da URSS. O campismo foi, na segunda metade do século XX, ao lado do gradualismo democrático-reformista, a mais influente teoria na esquerda mundial. Influenciou gerações, afirmando que o mundo estava dividido em dois campos: o capitalista e o socialista, irreconciliáveis, sendo este último, presumidamente, a retaguarda estratégica das lutas de classes contra o imperialismo, apesar das oscilações da coexistência pacífica. Uma análise lúcida das distintas interpretações campistas – pró Moscou, ou pró Pequim - foi feita por Perry Anderson no seu clássico Considerações sobre o marxismo occidental.(1996)

Algumas poucas vozes marxistas alertaram para as perigosas conseqüências dos critérios campistas. A tradição associada à elaboração de Leon Trotsky se destacou na reivindicação da centralidade do internacionalismo socialista: o antagonismo entre capital e trabalho permanecia a contradição ordenadora para um projeto socialista. Os internacionalistas reconheciam a existência de inúmeras outras contradições. Admitiram que seria justo se posicionar em defesa dos Estados pós-capitalistas contra os capitalistas, em defesa das nações oprimidas contra as opressoras, em defesa de regimes democráticos quando ameaçados pelo perigo de quarteladas ditatoriais, em defesa dos direitos da mulher contra a prepotência do machismo, em defesa do meio-ambiente, etc...

Mas, sustentaram que os antagonismos de classe continuavam sendo a contradição fundamental do capitalismo. Um projeto anticapitalista dependeria, estrategicamente, da reconstrução de um movimento operário internacional. Esta tradição político-programática não hesitou em defender a URSS e, de resto, qualquer Estado periférico diante do imperialismo. Não compartilhava, contudo, o critério da defesa incondicional de Moscou, Pequim, Tirana ou Havana, porque associava o futuro do socialismo à defesa, também, dos interesses da classe trabalhadora na URSS, na China, na Albânia ou em Cuba, contra os privilégios das castas burocráticas no poder nesses países. Nem todos os defensismos da URSS e dos Estados que surgiram das revoluções sociais do século XX eram, portanto, campistas. Existiu uma alternativa à estalinofilia, e à estalinofobia. Uma insuperável divisão, no entanto, se estabeleceu durante décadas entre as lutas no Ocidente e no Oriente, acabando de enterrar o internacionalismo como um movimento político organizado, tal como tinha existido ainda, por exemplo, diante da revolução espanhola.

O “nacionalismo” da URSS nunca foi o mesmo que internacionalismo

Este desafio teórico-programático do movimento socialista desdobrou-se, no século XX, no que podemos resumir como um dilema entre posições internacionalistas e posições nacionalistas. Os nacionalistas observam o mundo a partir de seus países, e os internacionalistas observam seus países a partir do mundo. Os nacionalistas avaliam cada processo revolucionário como o desenlace de uma luta que começa e termina dentro de suas fronteiras. Os internacionalistas consideram cada processo revolucionário como uma refração da revolução mundial. Os marxistas reconheceram, contudo, que o nacionalismo das nações dominantes era reacionário e o das nações dominadas era progressivo.

Mesmo as lutas das nações oprimidas, aquelas que a divisão do mundo ao longo dos últimos quinhentos anos condenou à periferia, como colônias ou semi-colônias, só poderiam erguer Estados independentes de forma efêmera. A ruptura com o sistema mundial de Estados colocaria o desafio anticapitalista, mais cedo ou mais tarde, como inadiável. Estados independentes na periferia, como foi em seu tempo o Egito de Nasser, ou permanece hoje o Irã do partido-igreja islâmico xiita ou Cuba, foram excepcionais, porque a ordem mundial é imperialista e tem um centro. Governos nacionalistas foram e são transitórios.

A primeira perspectiva, o nacionalismo, ainda quando radical, conduziu a resultados, invariavelmente, desanimadores: a esquerda chilena no início dos anos setenta estava cavando, involuntariamente, sua própria sepultura, ao desprezar as lutas no Peru e na Bolívia; os sandinistas da Nicarágua enterraram sua revolução nos acordos de Contadora, dando as costas para El Salvador; a revolução iraniana foi sufocada pelos anos de guerra com o Iraque

Eis o dilema do método: uma análise que equaciona os conflitos entre as classes nos países, ou continentes decisivos, diminuindo o lugar e a política dos Estados na situação mundial, será incapaz de explicar as relações de forças entre as classes, porque o posicionamento dos Estados é uma determinação – na verdade, um elemento central - dos contextos políticos. Pecará por unilateralidade, diminuindo a força da contra-revolução.

Um exemplo: seria ingênuo imaginar uma dinâmica anticapitalista da revolução nicaragüense, como se fosse possível uma nova Cuba, após 1979, ignorando que a política de Washington, com Reagan, tinha como eixo impedir a qualquer preço – como depois ficou claro pela participação de militares israelenses na formação do exército dos “contras”- derrotas como a sofrida em Teerã e na América Central. E a política do Estado cubano não era o apoio à revolução salvadorenha, para que se repetisse em San Salvador o desenlace que ocorreu em Manágua, mas o apoio a negociações que, finalmente, culminaram no acordo de Contadora.

O caminho inverso seria ainda mais desastroso. Quando se subestimam os conflitos entre as classes em cada sociedade, a análise redundará, fatalmente, em avaliações impressionistas, porque as lutas de classes subvertem, em maior ou menor medida, o posicionamento dos Estados. Pecará por superficialidade, exagerando a força da contra-revolução.

Mais um exemplo: seria completamente unilateral imaginar que a ALCA era um projeto econômico-político imbatível, somente porque a maioria dos Estados latino-americanos eram favoráveis ao acordo impulsionado pela administração Bush no início da década, ignorando que as crises sociais agravadas nos anos noventa pelos ajustes neoliberais tinham alterado a relação de forças sociais no continente, de tal maneira, que De La Rua foi defenestrado em 2001, o golpe na Venezuela foi derrotado em 2002, FHC e os tucanos foram eleitoralmente vencidos no Brasil, e Gonzalo de Losada viu-se obrigado a fugir de helicóptero de La Paz em 2003.

As três ondas da revolução latino-americana

A etapa aberta no sistema internacional de Estados após a dissolução da URSS acentuou duas contradições chaves: por um lado, o imperialismo norte-americano manteve a liderança política e militar e lançou-se, primeiro nos Bálcãs, e depois na Ásia Central e no Oriente Médio, em guerras de recolonização, apesar da fragilização de sua economia, em função do crescimento dos déficits gêmeos que preservam o dólar como moeda mundial, porém, à custa da sua desvalorização, como destacou César Benjamim (2003).

Por outro lado, a acelerada internacionalização do capital financeiro veio impondo a necessidade de uma ofensiva contra as conquistas sociais dos trabalhadores nos países periféricos que atinge, também, embora em outra proporção, os proletariados dos países centrais. O início do novo século coincidiu com uma terceira vaga revolucionária na América Latina, e fez ressurgir com a máxima intensidade o tema do internacionalismo.

Não foi a primeira vez que o continente foi incendiado por uma onda revolucionária internacional. A primeira vaga começou na Bolívia em 1952, aprofundou-se com a vitória em Havana em 1959 e foi derrotada no Rio de Janeiro em 1964. A segunda começou com o triunfo em Manágua em 1979, passou pelas quedas das ditaduras nos países chaves do Cone sul – Argentina e Brasil - entre 1982 e 1985, mas a relação de forças foi se invertendo com a derrota da situação revolucionária na Bolívia em 1985 e, na virada da década, com as eleições de Menem e Collor e, depois FHC, no Brasil. Em janeiro de 2000 em Quito começou a terceira vaga revolucionária latino-americana, que permanece em aberto, porque a hora dos combates decisivos ainda não chegou.

O continente latino-americano escreveu sua primeira página na história da revolução socialista com o triunfo da revolução cubana em 1959. O medo de que a revolução se alastrasse de Cuba para todo o continente explicou a política burguesa nos vinte anos que vão de 1960 a 1980. Mas, quando Cuba triunfou, a primeira vaga da revolução anti-burocrática no Leste europeu já tinha sido derrotada na Hungria e na Polônia. E enquanto a quarta vaga da revolução mundial pós-68 se alastrava na Europa para a Itália e Lisboa, e seus ecos instigavam a juventude mexicana a ocupar a Praça do Zócalo na terceira maior cidade do mundo, ao mesmo tempo em que 100.000 saiam às ruas do Rio de Janeiro para gritar ‘abaixo a ditadura’, a situação na América Latina evoluía, desfavoravelmente, para a causa da revolução.

A vaga latino-americana já tinha sido derrotada, anos antes, no golpe do 31 de Março no Rio de Janeiro e a esquerda inspirada no exemplo cubano de inspiração guevarista foi dizimada. No início dos anos oitenta, as ditaduras latino-americanas foram caindo, umas após as outras, mas as classes dominantes lograram estabilizar os regimes democrático-liberais com a promessa da alternância eleitoral. A geração mais velha da esquerda latino-americana tinha medido forças com a contra-revolução e tinha sido esmagada. Um fio de continuidade histórica tinha sido interrompido sem que, porém, as ilusões reformistas na possibilidade de um capitalismo desenvolvimentista e distribuidor de renda – o programa hegemônico da esquerda do pós-guerra, mesmo daquela que pegou em armas - tivessem sido superadas. A onda de revoluções que sacodiu a América Latina entre 2001/2005 reabriu, necessariamente, discussões estratégicas sobre o futuro da luta socialista. Partidos associados aos ajustes neoliberais da década de noventa foram, uns após os outros, sendo derrotados, levando ao poder Lula no Brasil, Evo Morales na Bolívia, Daniel Ortega na Nicarágua, Rafael Correa no Equador, além da reeleição de Hugo Chávez na Venezuela. Fernando Lugo foi eleito no Paraguai. O processo de luta de classes que permitiu derrubar mais de dez presidentes eleitos na América Latina, mas foi absorvido até o momento nos limites dos regimes democrático-eleitorais, poderia avançar até que limites? Governos nacionalistas com políticas sociais compensatórias poderão estabilizar os seus países, mesmo depois que se inverteu a tendência do ciclo econômico, e a crise mundial precipita o continente em uma nova recessão generalizada, senão em depressão? Poderiam voltar a ocorrer revoluções anti-capitalistas protagonizadas por sujeitos sociais não proletários? Em que medida, a pressão da luta de massas poderia empurrar as forças políticas dirigentes – Evo e o MAS na Bolívia, Chávez e o PSUV, por exemplo - além do rubicão da propriedade privada? Os governos nacionalistas alimentam, como seria previsível, novas ilusões campistas.

Não é, contudo, provável que quaisquer destes governos venham a romper os limites do capital e, de resto, da institucionalidade burguesa, como ficou mais ou menos claro no plebiscito negociado por Evo Morales na Bolívia com os governadores das províncias da chamada meia-lua, ao final de 2008. O capitalismo andino de Morales não deverá ter um futuro muito superior às experiências dos governos militares no Peru, no início dos anos setenta. Chávez não parece querer ser um novo Fidel. As diferenças entre o castrismo dos anos sessenta e o chavismo, remetem à relação de forças no sistema internacional de Estados. Cuba não pode ocupar, face à Venezuela, o papel que a URSS ocupou em relação a Cuba. Ao contrário, é tal a fragilidade de Cuba, que os planos de restauração capitalista “a la chinesa” em Havana, fizeram Cuba depender, crescentemente, da Venezuela.

A época dos substitucionismos ficou para trás

No Programa de Transição de 1938, Leon Trotsky tinha previsto que, excepcionalmente, em condições extraordinárias de crise, aprisionados entre a pressão do imperialismo e a pressão da mobilização de massas, direções nacionalistas poderiam ir além dos limites do capitalismo. O que tinha sido previsto como improvável, acabou sendo quase um padrão entre 1945 e 1973. Uma parcela das direções nacionalistas radicalizadas, acossadas pelo imperialismo e apoiadas na mobilização das massas populares, mas ameaçadas, também, pelo perigo de um desbordamento pela sua esquerda, expropriaram o capital. O substitucionismo social do proletariado por massas camponesas e populares, e o substitucionismo político dos marxistas por direções nacionalistas traduziram a grandeza e, também, os limites das revoluções do pós-guerra.

Ao mesmo tempo, em uma parte das ex-colônias ou semicolônias que mergulharam em situações revolucionárias, mas aonde não se deu a ruptura anti-capitalista - como Argélia nos anos sessenta, ou na Nicarágua e Irã, no final dos setenta - surgiram Estados independentes. Alguns lograram manter esta independência, sobretudo, em países com recursos estratégicos como o petróleo. Entretanto, revoluções sociais anti-capitalistas não aconteceram mais desde a derrota americana no Vietnam. Portugal, Nicarágua, Irã, Haiti, Filipinas, Indonésia e África do Sul, entre outros países, conheceram revoluções políticas que derrubaram regimes ditatoriais pró-imperialistas, mas não transbordaram em revoluções sociais. Os processos revolucionários estagnaram e foram contidos nos limites dos novos regimes.

As direções nacionalistas, não só recuaram, primeiro, de qualquer veleidade anti-capitalista – vide o PC da África do Sul, o mais influente partido comunista depois da restauração do capitalismo na URSS - como recuaram depois, em sua maioria – vide a OLP de Arafat - do projeto de se afirmar até como Estados independentes.


A crise ameaça a ordem mundial construída depois da dissolução da URSS

A crise econômica aberta em meados de 2007, agravada em 2008 com sinais depressivos, e que tem nos EUA o seu epicentro mais grave, colocará à prova a dominação capitalista do mundo. A saída para a crise exigirá uma destruição nunca vista de capitais, com desvalorização de ativos, falências, fusões e concentração que já está acontecendo.

Mas, esta crise é diferente de todas as outras pós-1945. Ela não poderá ser superada sem uma ofensiva capitalista reacionária em escala mundial proporcional à gravidade do colapso econômico e financeiro. Serão necessárias cinco iniciativas, todas muito difíceis de serem implementadas, porque despertarão gigantescas resistências político-sociais: um aumento dos níveis de exploração absoluta da classe trabalhadora norte-americana e mundial com aumento das jornadas e redução salarial – e um desemprego em massa que políticas compensatórias dificilmente poderiam neutralizar - que poderá potencializar uma resistência unificada dos proletariados dos países centrais e periféricos; uma deflação dos preços das matérias-primas e, portanto, uma degradação das condições desfavoráveis de troca no comércio mundial entre os países centrais e a periferia, que poderá potencializar uma instabilidade no sistema internacional de Estados e, até favorecer que cheguem ao poder governos nacionalistas como os da Venezuela e Irã; uma redução de custos pela aceleração das inovações tecnológicas, e o desenvolvimento de novos ramos produtivos que acelerem a passagem de uma produção industrial ainda dependente dos combustíveis fósseis, processos que só poderão ser obtidos com o aumento de investimentos que a crise desestimula, e teriam que ser feitos por Estados com déficits gigantescos, apavorados com o crescimento vertiginoso das dívidas públicas; uma ainda mais intensa internacionalização até à última fronteira, tencionando com as pressões protecionistas; e, finalmente, mas não menos importante, uma maior financeirização, que exigirá reformas no sistema monetário internacional, para proteger o dólar como moeda de reserva, ameaçado por uma desvalorização que teria conseqüências imprevisíveis.

Mas, ao contrário do que alguns apressadamente concluíram, as burguesias nacionais não se transformaram em uma classe mundial. A burguesia permaneceu uma classe nacional. O imperialismo norte-americano continuou sendo o imperialismo de uma classe nacional, ainda que com responsabilidades maiores sobre a estabilidade do mercado mundial e do sistema internacional de Estados.

Foi a força dessa supremacia dos EUA de um lado, e o perigo da revolução mundial por outro, que condicionou os limites muito reduzidos para os conflitos entre as potências rivais entre 1945 e 1989/91. Foi a hegemonia reforçada dos EUA durante os anos que ficaram conhecidos como globalização, entre 1991/2008 - anos de uma intensa expansão da financeirização internacional que engrandeceram o lugar do capital yankee, em uma proporção maior do que o crescimento da economia mundial - que manteve a ordem imperialista, apesar das guerras na Yugoslávia, no Iraque e no Afeganistão ainda, relativamente, estável, se fizermos a comparação com a etapa pré-1945.

A explicação para este maior “internacionalismo do capital” é mais político-histórica do que econômica. Os “instintos” contra-revolucionários da burguesia se manifestaram em potência máxima. O capital, quando se sentiu ameaçado, no século XX, pelo perigo da revolução mundial, demonstrou capacidade de superar suas divergências nacionais. As burguesias européias e a japonesa, parceiras, porém, também, rivais imperialistas dos EUA, uniram-se a Washington na defesa do sistema que garantiu a sua sobrevivência social e política. Os investimentos norte-americanos na Alemanha e no Japão, entre outros, tinham sido decisivos para garantir a recuperação nas décadas imediatas do pós-guerra. Tornaram-se mais sócias dos EUA, economicamente - até aceitaram papéis complementares como o Japão - porque as competições políticas ficaram obsoletas, após 1945, diante da disparidade de forças que os distanciava dos EUA, e do desafio estratégico colocado pelas revoluções anticapitalistas.

A crise do campismo socialista

A pesquisa sobre o tema do internacionalismo contemporâneo tropeça em um paradoxo. As lutas do proletariado e dos seus aliados sociais em cada país nunca foram tão dependentes da solidariedade internacional como nos últimos quinze anos, mas a capacidade da classe trabalhadora constituir um campo de resistência de classe – contra o desemprego e a precarização, por exemplo - e ser um pólo de atração à escala mundial permaneceu reduzida.

Surgiram iniciativas progressivas, à escala internacional, como as mobilizações de Seattle, nos EUA e de Genova, na Itália, contra a OMC e o FMI, que lograram despertar entusiasmo em uma nova geração da juventude estudantil. Foram realizadas campanhas na América Latina contra a ALCA. Na seqüência do Fórum Social de Porto Alegre – uma frente única anti-neoliberal que se apoiava nas ilusões do que poderia vir a ser a experiência de um governo Lula no Brasil – foi possível realizar as maiores manifestações de massas contra o governo Bush. Fortaleceu-se um internacionalismo pacifista contra a ameaça de mais guerras coloniais – como no Afeganistão (2001), Iraque (2003), no Líbano (2007) e Faixa de Gaza (2008); um internacionalismo ambiental contra o perigo da devastação ecológica; um internacionalismo humanitário contra genocídios (Bósnia, Kosovo, Ruanda, Darfur); um internacionalismo feminista contra a opressão machista e pela legalização do aborto. Mas, o internacionalismo proletário, ou seja, anticapitalista, o internacionalismo do movimento social mais longevo da história contemporânea não se reconstruiu ainda.

O proletariado, em especial nos países centrais, encontrou no último pós-guerra dificuldades, até hoje intransponíveis, para reconstruir um movimento internacionalista. O internacionalismo exigiu, historicamente, uma organização de classe independente e forte o bastante para resistir às pressões sociais hostis dentro das fronteiras nacionais. A influência dos projetos de colaboração de classes, que se expressou na influência duradoura da socialdemocracia, como na Alemanha e na Inglaterra, ou dos partidos alinhados com Moscou, como na Itália e na França , teve como conseqüência, a renúncia ao internacionalismo. A aliança com frações das burguesias nacionais cobrava o preço da divisão proletária internacional.

A precarização das condições de trabalho – flexibilização das jornadas de trabalho com redução salarial para que as corporações não transferissem as fábricas - foram negociadas pelas direções sindicais com o argumento de que as novas condições impostas pela globalização financeira tornavam inevitáveis concessões para evitar um desemprego ainda maior. A ilusão de que seria possível, dentro de fronteiras nacionais, forjar um projeto político-social capaz de garantir reformas reguladoras do capitalismo, evitando a vertigem de uma ruptura revolucionária, isto é, a medição de forças frontal com suas próprias burguesias, levou os proletariados dos principais países imperialistas a regredir ao nacionalismo.

Essa involução foi potencializada pelas décadas de crescimento econômico, quando reformas foram negociadas gerando o chamado Welfare State. Quando as crises econômicas voltaram com maior intensidade, e a precarização das relações trabalhistas e a queda dos salários médios fizeram retroceder as condições de vida, em algumas camadas do proletariado mais ameaçadas pelo desemprego, e em alguns países em que a emigração de trabalhadores estrangeiros foi satanizada – Áustria e Itália, entre outros – aconteceu uma regressão ao nacionalismo mais estreito.

Os fundamentos graníticos do internacionalismo

O internacionalismo marxista tinha como premissa “granítica” a compreensão de que o capitalismo domina o mercado mundial, mas as relações sociais capitalistas se estruturam no interior de um sistema mundial de Estados que, na época imperialista, seria dilacerado pelos antagonismos entre as potências. O capitalismo seria desafiado pelo proletariado e seus aliados sociais em cada país dentro de fronteiras nacionais, mas sua permanência seria decidida na escala internacional. A perspectiva internacionalista dos socialistas estava alicerçada, portanto, na idéia de que a burguesia seria uma classe com interesses, irremediavelmente, nacionais. A forma degenerada dos nacionalismos exaltados das potências européias ao final do XIX e, sobretudo, depois da I Guerra Mundial, com o nazi-fascismo, confirmou esta análise.

O movimento socialista se constituiu, a partir da experiência da I Internacional nos anos sessenta do século XIX, com a premissa de que a burguesia era uma classe, social e politicamente, mais heterogênea que o proletariado. Os limites históricos do capital – a impossibilidade de manter a valorização ilimitada - se manifestariam na hora das crises econômicas, e nas rivalidades entre os imperialismos. A partir da vitória da revolução russa, os marxistas reagrupados na III Internacional previram que a concorrência entre os grandes monopólios e a competição entre os Estados seriam a força de impulso de guerras mundiais. Este prognóstico foi confirmado até meados do século XX, mas, depois, não.

A classe trabalhadora seria capaz de ir além dos interesses nacionais mais imediatos, e afirmar o seu movimento como internacional. O internacionalismo marxista sempre foi uma questão de método, na análise, de política, na linha de intervenção, de programa, na perspectiva histórica, e de organização no compromisso com o projeto da construção da Internacional. Os trabalhadores deveriam constituir um movimento internacionalista nas metrópoles que seria solidário com a revolução mundial, e apoiaria, portanto, os movimentos nacionalistas da periferia. Porque a hora da revolução social nas metrópoles, seria a hora da libertação nacional das nações oprimidas.

Um capital mais internacional, um movimento operário mais nacional

Quis a ironia da história que este vaticínio fosse confirmado, porém, ao contrário. Nem o governo do Labour party, mesmo depois da greve geral na Inglaterra nos anos vinte, nem a Frente Popular na França de Leon Blum, nos anos trinta, mesmo depois da greve geral que conquistou o direito de férias remuneradas, por exemplo, aceleraram a libertação das colônias dos Impérios britânico e francês. Aconteceu o inverso deste prognóstico fundador: predominou na dinâmica da revolução mundial o oposto. Sem a derrota dos planos de De Gaulle na Argélia, seria impossível compreender a crise de 1968 em Paris, sem a derrota de Salazar nas colônias africanas seria impossível compreender a revolução dos cravos em Lisboa em 1974.

Resumindo: as duas antecipações históricas que fundamentavam a perspectiva internacionalista dos marxistas confirmaram-se, porém, apenas parcialmente. Foram, portanto, subvertidas pela história. O projeto socialista revelou-se muito mais difícil que o previsto pelos fundadores. A capacidade dos imperialismos se articularem diante do perigo da revolução mundial, consolidando uma frente contra-revolucionária que os levou até a aceitar, em circunstâncias excepcionais, a coexistência pacífica com Moscou, surpreendeu. Por outro lado, as dificuldades do proletariado de oferecer, à escala internacional, uma resistência às reestruturações produtivas e ataques aos direitos sociais a partir dos anos 80 do século passado, por exemplo, decepcionou.

Os imperialismos europeus, norte-americano e japonês desenvolveram relações, fundamentalmente, complementares, nos últimos sessenta anos, e não parece razoável prever que a liderança norte-americana no Sistema Mundial de Estados venha a ser desafiada na crise econômica aberta em meados de 2007, e que deu um salto de qualidade no segundo semestre de 2008. Londres manteve uma aliança, para o essencial, quase sem fricções com Washington, e essa perspectiva deverá se manter. Paris e Berlim à frente da União Européia têm as suas diferenciações, como na decisão da invasão do Iraque em 2003, todavia, negociam aceitando o lugar da supremacia norte-americana.

A desestabilização da dominação capitalista mundial, desde o final da II Guerra Mundial, dependeu mais da luta nacionalista revolucionária de massas populares e camponesas não proletárias dos países periféricos, do que da ação internacionalista dos proletariados dos países centrais. É verdade que a onda revolucionária aberta em 1968 começou em Paris, alastrou para a Itália, passou pela queda da ditadura dos coronéis na Grécia, e depois ameaçou a dominação burguesa na área do Mediterrâneo, com a revolução portuguesa de 1974/75, e o ascenso espanhol entre 1976/78. Mas, foi contida. A liderança da socialdemocracia e do estalinismo sobre os batalhões pesados da classe operária – França, Itália, Alemanha, Inglaterra - explica, em grande medida, as derrotas políticas e sociais, um país atrás do outro, ao longo dos anos oitenta e noventa do século XX. O processo de superação da hegemonia dos partidos eleitorais-reformistas sobre os trabalhadores, iniciado em 1968, foi interrompido e retrocedeu.

A revolução mundial deslocou-se outra vez nas décadas seguintes, como entre 1945-1968, para os países periféricos, onde, à exceção do Brasil (1978/1989), Argentina (1982/1989, menos em 2001) e Bolívia (1985 e, mais recentemente, 2003/2005), o proletariado cumpriu um papel auxiliar nas lutas revolucionárias mais significativas: Nicarágua e Irã (1979) ou Venezuela (1989 e, muitos anos depois, 2002).

A explicação do paradoxo não é simples. Toda situação internacional foi sempre o resultado de um processo de lutas entre as classes, mas também, de luta entre Estados. E a competição entre Estados assumiu formas diferentes nos últimos cento e cinqüenta anos. Esgotada a época de expansão e apogeu do capitalismo, sob liderança inglesa, abriu-se uma época histórica de longa decadência do capitalismo e, ao mesmo tempo, uma etapa política, na primeira metade do século XX, de lutas furiosas entre os impérios pela disputa da liderança no sistema internacional, que culminou em duas guerras mundiais que quase liquidaram a civilização, encerrando-se com a consolidação da supremacia econômica e política norte-americana em 1945.

Três ondas da revolução mundial ameaçaram a dominação capitalista na primeira metade do século XX - ao final das duas guerras mundiais, e como conseqüência da crise de 29 - mas, apesar da vitória da revolução russa, foram derrotadas. Os bolcheviques tinham previsto que ou a revolução russa seria a ante-sala da revolução européia, ou a restauração capitalista seria uma questão de tempo. Confirmou-se o vaticínio de Lênin, esquecida pela esquerda mundial: depois Agosto de 1914, na Conferência de Zimmervald, na Suíça, o líder de Outubro de 1917 tinha defendido a imediata fundação da III Internacional, polemizando com a esquerda alemã dirigida por Rosa Luxemburgo e com o próprio Trotsky. Argumentou que o desafio da Internacional concentrava todo o dilema estratégico.

Bibliografia:

ANDERSON, Perry. Considerações sobre o marxismo occidental. Lisboa, Afrontamento, 1976.

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX. São Paulo, UNESP, e Rio de Janeiro, Contraponto. (s/d).

BENJAMIM, Cesar, Tendências da nova ordem mundial e o lugar do Brasil. www.contrapontoeditora.com.br/docs/00.julho_2003_Nova_ordem_mundial.pdf,
Acessado em 15/05 2007.

HOBSBAWM, Eric J. Era dos extremos, o breve século XX – 1914-1991. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

LENIN, Vladimir Ilitch Ulianov, El imperialismo, fase superior del capitalismo, in Obras Escogidas, volume 1. Moscou, Editorial Progresso, 1966.

MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. Estatutos provisórios da Associação Internacional de Trabalhadores, in La Internacional. Mexico, Fondo de Cultura Económica, 1988.

NEGRI, Toni, e HARDT, Michael. Imperio. Buenos Aires: Paidós, 2002.

WALLERSTEIN, Immanuel. Os Estados Unidos e o mundo: hoje, ontem e amanhã, in Após o liberalismo. Petrópolis, Editora Vozes, 2002.



[1] LENIN, Vladimir Ilitch, A Guerra e a Social-Democracia da Rússia, in http://www.marxists.org/portugues/lenin/1914/09/28.htm, acesso em 10-05-2007

quinta-feira, 19 de março de 2009

Redução do Superávit Primário

Redução do ajuste compensa queda da arrecadação

Jornal Monitor Mercantil, 17/03/2009 - 21:03
http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58964

Superávit primário de apenas 1,5% do PIB estabiliza dívida em 1,6% do PIB - A possível redução da arrecadação pública, motivada pela crise, pode ser totalmente compensada com a redução do superávit primário (economia para pagar juros). De acordo com o economista Amir Khair, mestre em Finanças Públicas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), a mudança viabilizaria a adoção de políticas anticíclicas:

"Com um superávit primário de 2,2% do PIB, em 2009, e 1,5%, em 2010, o resultado nominal (inclui a despesa com juros) ficaria estabilizado no déficit de 1,6% do PIB, é o melhor resultado da série histórica. Já a relação dívida sobre PIB melhoraria de 35,8% do PIB, ao final de 2008, para 35,3%, ao final de 2009, e 34,4%, no final de 2010", contabiliza.

Considerando as projeções do Boletim Focus para a taxa básica de juros (Selic), de 9,75%, ao final de 2009, e 8,75%, ao final de 2010, Khair calcula que as despesas com juros passariam de 5,7% do PIB, em 2008, para 3,8%, em 2009, e 3,1%, em 2010.

A avaliação do economista coincidiu com a divulgação pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de pesquisa alertando que a crise já afetar os estados brasileiros.

Na comparação entre fevereiro de 2008 e o mesmo mês de 2009, as informações indicam queda real de 18% na arrecadação do fundo de participação nos estados

Os efeitos da crise sobre o ICMS começaram a partir de outubro de 2008. Apesar disso, a devolução anual foi de 17,21%. "Mas tal desempenho não deve ser esperado para 2009", previne o Ipea.

"Outro canal de transmissão dos efeitos da crise para as finanças públicas dos estados é a evolução recente dos índices de preço, sobretudo o IGP-DI, que saltou de 7,89% em 2007 para 9,1% em 2008", acrescenta o Instituto.

Frase do Dia

A crise atual não é uma crise a mais, como foi a dos mercados asiáticos ou a da bolha da Internet. Trata-se, na realidade, de uma crise histórica - econômica, social, ecológica - da lei do valor, uma crise de medição e de excesso. Soma-se à crise social uma crise de legitimidade, ideológica e moral, que acaba por estremecer a ordem política. Os principais expoentes políticos do sistema já estão a sair em sua defesa.

O capitalismo? "É compreensível que as pessoas não acreditem mais nele".
(Tony Blair, ex-primeiro ministro da Grã-Bretanha em entrevista ao Le Journal du Dimanche, 14 de dezembro de 2008)

Debate e Lançamento do Jornal Quilombo Raça e Classe

A crise está aí arrebentando principalmente com os trabalhadores negros em nível internacional.

Hoje, dia 19/03, a CONLUTAS-RJ organizará em comemoração ao Dia 21 de Março, dia internacional de luta contra a discriminação racial, um debate sobre a crise econômica e os trabalhadores negros, centrando na questão do Haiti.

É também o dia do lançamento do jornal Quilombo Raça e Classe(Novo movimento negro independente dos governos).

O evento organizado pelo GT de Negros e Negras da Conlutas-RJ será nesta quinta-feira 18h no Sindicato dos Metroviários do RJ (Av. Rio Branco, 277, 4ºandar - Centro, Rio).

quarta-feira, 18 de março de 2009

No que Protogenes e a Satiagraha acabou mexendo: a rede de controle do Estado brasileiro

Li um post do Luís Nassif e gostei muito. Nassif no artigo fala porque o combate a corrupção e o crime organizado realizado em operações da PF como a Satiagraha gerou tanto incomodo. O delegado Protogenes e sua operação Satiagraha acabou mexendo na rede de do controle do aparelho Estado criado pelo grupo de FHC/PSDB e sucedido pelo Lula/PT.

O Sistema Brasileiro de Inteligência e o jogo político

blog do Luís Nassif, 17/03/2009 - 15:00

http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/03/17/o-sistema-brasileiro-de-inteligencia-e-o-jogo-politico/#more-29462

Quando FHC saiu do governo, escrevi um artigo “Uma obra de arte política”, descrevendo a habilidade da estratégia de governabilidade de FHC - e o desperdício de não ter sido utilizada para um plano de desenvolvimento amplo.

A estratégia consistia em cooptar chefes regionais com migalhas do poder, mantendo incólumes os pilares centrais do governo.

Essa era apenas a perna conhecida do modelo criado por FHC.

O ponto central era o controle estrito sobre o Ministério da Fazenda e toda a estrutura debaixo dele - Banco Central, CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Secretaria da Receita Federal (SRF).

Não se tratava apenas de manter o controle técnico sobre a economia. Era nesses ambientes que se fortalecia a perna oculta do sistema de poder montado: a criação de um modelo sistêmico de aliança com o crime organizado (de colarinho branco), que se expandia na indústria de offshores, de bancos de investimentos, de gestores de recursos.
A maneira como Gustavo Franco autorizou as operações do Banco Araucária, as operações com leilões da dívida pública (sempre com dúvidas sobre sua transparência), o caso emblemático do Banco Santos - desde 1994, um banco quebrado que, mesmo assim, enviava centenas de milhões de dólares para o exterior, com autorização do Banco Central - e, especialmente, o caso Opportunity, demonstravam uma ampla cumplicidade entre autoridades e transgressores. A estrutura de fiscalização do Estado ficou totalmente amarrada pelas ordens que emanavam do centro do comando financeiro do governo.

O controle do Estado

Em entrevista que concedeu ao Terra Magazine, FHC definiu a Satiagraha como uma luta pelo controle do Estado. Nada mais claro.

Quando o PT assumiu o poder, seguiu ao pé da letra a receita de FHC - tanto nos acordos fisiológicos inevitáveis, quanto na tentativa de cooptação desses grupos barras-pesadas.

Esse trabalho se dá através dos dois estrategistas políticos de Lula, José Dirceu e Antonio Palocci. Palocci atuava especialmente através do Conselhinho (o Conselho que julga os recursos dos agentes financeiros) e da CVM - nas gestões Marcelo Trindade e Cantidiano. Livra-se o Banco Pactual de autuações severas por crimes fiscais, livra-se Dantas por crimes de lavagem de dinheiro e de desobediência às regras cambiais brasileiras, permite-se que o Banco Santos se torne o maior repassador de recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) em uma leniência sistemática.

O Opportunity passa a financiar Delúbio Soares, através da Telemig Celular e Amazonia Celular. Palocci torna-se próximo de André Esteves, do Banco Pactual. E o BC mantinha olhos fechados para os crimes de lavagem de dinheiro.

O Sistema Brasileiro de Inteligência
Esse esquema começa a esboroar não apenas com o chamado escândalo do “mensalão”, mas pela iniciativa histórica do Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de montar o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Essa iniciativa se dá de forma paralela com o que ocorre em outros países, quando os Estados nacionais se organizam para enfrentar a internacionalização do crime organizado.

Nesse momento, começa a ruir o modelo de governabilidade baseado na aliança com o crime organizado. No combate ao crime organizado, o funcionário do BC não responde mais à sua diretoria mas a uma estrutura superior e interdepartamental. O mesmo ocorreu com outros funcionários da área econômica. O controle acaba.

Sentindo que o processo era inevitável, e escaldado pelo “mensalão”, Lula dá ampla liberdade para o aparato do Estado se organizar.

Pela primeira vez, o Estado começa a cumprir suas funções e os funcionários públicos a se libertar das amarras impostas por esse pacto espúrio. Aumenta a colaboração com as forças internacionais anti-crime, surgem as grandes operações combinadas de combate ao crime organizado. Fiscais da Receita passam a conversar com a Polícia Federal, a Coaf troca informações com o Ministério Público, a ABIN é acionada. E dessa integração começa a nascer a esperança de uma mudança estrutural não apenas no combate ao crime organizado, como na redemocratização do Estado e no aprimoramento do jogo político.

Era inevitável o choque com a estrutura de poder montada. O ovo da serpente já estava incubado, eram muito profundas as ligações entre o crime organizado, estruturas de mídia, instâncias do Judiciário, Congresso Nacional, Executivo. O país havia se criminalizado.

Pior, criminalizou-se com status. Chefes de quadrilha são tratados como brilhantes executivos, aproximaram-se de grupos de mídia, ajudaram na capitalização de alguns deles.

Um dos fatores que leva à inibição do crime é a condenação social do criminoso, a não aceitação de sua presença nos círculos sociais. Por aqui, Daniel Dantas continuou a ser aceito por praticamente todas as lideranças políticas. O ato comprovado de tentar subornar um delegado não mereceu a condenação explícita de ninguém. Pelo contrário, é elogiado pelo mentor máximo da oposição, FHC, e defendido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal.

É essa lógica vergonhosa, para nós brasileiros, que explica toda a ofensiva para desmontar o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Mudanças irreversíveis

A questão é que o mundo mudou. O crime organizado de colarinho branco tornou-se ameaça mundial, combatido por todos os países civilizados. A Internet rompeu com a barreira da informação. Pode custar mais ou menos, mas será impossível ao país não se curvar à grande onda anti-crime que se seguirá à queda da economia global.

Algumas vezes critiquei a superficialidade de FHC, sua incapacidade de perceber os ventos, os grandes fatores de transformação que permitissem lançar o país rumo ao desenvolvimento. Bobagem minha! Seu foco era outro.

É por isso quem para ele, Protógenes é amalucado e Dantas é brilhante.

A história ainda cobrará caro de FHC por ter institucionalizado o crime organizado no centro do jogo político brasileiro.

Memórias de crises e o colapso do mercado autorregulado

Recebi da lista de email do meu amigo pesquidor do CEPES-UFU, Henrique Barros. Esse artigo de Antonio Prado, fala da incapacidade dos Fed, banco central dos EUA, diante das fatores gerados de crises financeiras.

Memórias de crises e o colapso do mercado autorregulado

Antonio Prado*

Os economistas que passaram anos calculando os custos da ineficiência do Estado regulado, hoje defendem a estatização temporária.

Em 1907, sob os escombros do terremoto do ano anterior em São Francisco, estourou uma crise financeira nos EUA, que rapidamente alastrou-se pelos mercados europeus, com a mesma fúria que os incêndios destruíam bairro após bairro da cidade americana. Era a natureza revelando as entranhas de mais uma das manias especulativas que de forma recorrente varrem as economias capitalistas.

Aquela também foi uma bolha caracterizada por alta alavancagem dos especuladores. Com a queda abrupta do preço dos ativos em Nova York, afetados pelo terremoto seguido de incêndios e pela elevada indenização devida pelas seguradoras inglesas, o crédito apertou e o pânico espalhou-se. Não havia Federal Reserve, criado em 1913, para atuar como emprestador de última instância e regulador do sistema financeiro. A crise foi devastadora.

A necessidade de regulação do mercado financeiro, apesar das resistências liberais de sempre, ficou demonstrada de forma cabal. A liberdade excessiva nos mercados gerava um custo muito superior do que seu benefício presumido. E o avanço da organização política e sindical dos trabalhadores implicava uma reação cada vez mais forte frente aos efeitos depressivos das crises de liquidação da riqueza capitalista. Desemprego em massa e quedas nos salários nominais tornavam-se socialmente inaceitáveis.

Mas, a memória dos flagelos das crises financeiras é curta, como nos revela Galbraith e já nos anos 20 do século passado a euforia retorna a galope, deixando a prudência comendo poeira. O fascínio pelo enriquecimento fácil captura mesmo os puritanos, já cansados da árdua labuta diária. Ponzi vende pirâmides financeiras e terrenos nos pântanos da Flórida, como negócios de primeira. A nova economia acende os olhos dos visionários, que imaginam transformações mágicas de toda a sociedade. Não se surpreenda o leitor com a semelhança desta narrativa com os anos 1990 e 2000. Nada é novidade neste campo, nem os gênios das finanças.

A pouca experiência do Fed como regulador do sistema e sua mentalidade impregnada ainda pelos ecos do laissez-faire não contribuíram muito para mitigar o novo desastre que se armava no entre-guerras. A revolução produtiva do fordismo, a rápida evolução do sistema de crédito e as inovações nas comunicações e transportes atraíram capitais de forma crescente para as bolsas de valores, que absorviam IPOs de todos os tipos de empresas, com promessas de lucros tão estapafúrdias como a crescente perda de aversão aos riscos.

O crash de 1929 expõe o delírio de Aguirre. Ações dobravam de preço em poucos meses e emissões de milhões de dólares, de empreendimentos insondáveis, eram vendidas em horas. Os bancos e corretoras financiavam as compras alavancadas, garantidos pela prosperidade geral dos negócios. Já havia uma desconfiança latente no ar e algumas liquidações de ativos foram realizadas, mas a bolsa voltava a reagir. Os tremores repetiram-se e os surtos de valorização também. Em outubro daquele ano, o mundo veio abaixo.

A Grande Depressão durou até os anos da II Guerra, quando o esforço de gastos militares crescentes reativou a produção americana e gerou empregos aos milhões. Mas esse período mudou as mentalidades dos formuladores de políticas e foi muito criativo em normas de regulação e na gestação de instrumentos de monitoramento estatístico da economia. Em 1929, não era disponível um sistema de contas nacionais apurado e tampouco conhecidos os multiplicadores dos gastos autônomos, revelados por Keynes na Teoria Geral de 1936. A motivação foi a vontade política e o método a tentativa e erro.

O esforço em preservar as regras do jogo do padrão ouro não contribuiu para a solução do problema. Tampouco, a aversão em utilizar diretamente a intervenção do Estado para gerar demanda na economia. A ideia de que a política monetária seria suficiente como estímulo econômico foi demolida pelo fenômeno, hoje bem conhecido, da armadilha da liquidez.

No pânico, quando a confiança no sistema de crédito colapsa, a demanda por moeda sobe exponencialmente, devido a uma preferência geral pela liquidez. E quanto mais avança a crise de liquidação e a consequente deflação dos ativos financeiros e também dos reprodutíveis, mais entesouramento faz sentido para os participantes do sistema econômico. O aumento da oferta de moeda, mesmo que necessária e urgente, resulta nestas condições em empoçamento de liquidez.

Navegar contra o pensamento convencional não é fácil. No entanto, F. D. Roosevelt, em 1933, recebeu um mandato para fazê-lo. Assumiu riscos políticos e atuou sem uma referência teórica estruturada. Tateou no escuro. Abandonou o padrão ouro e com isso começou a recuperação dos preços agrícolas. Reviu a regulação dos bancos, separando bancos comerciais e de investimentos, e mesmo relutante, aceitou o FDIC para garantir os depósitos bancários e deu ao Fed poder para regular taxas de juros nas instituições de poupança, dispositivos previstos na Lei Glass-Steagall. Em 1934, foi criado a SEC (Securities and Exchange Comission), uma CVM americana.

O processo de saída da Grande Depressão foi turbulento e demorado. O uso do gasto público para estimular a economia foi controverso e sofreu reveses e somente mostrou total eficácia já no esforço de guerra. O segundo termo de Roosevelt já contava com keynesianos e seus instrumentos de intervenção econômica, com fundamentação teórica e observação empírica. O modelo de desenvolvimento que resultou deste período foi uma colisão de gastos sociais e militarismo. Em resumo, o gasto público passa a ser central como instrumento de estímulo ao desenvolvimento econômico e social.

Se no início do Século XX a participação estatal nas economias rondava de 4% a 6% do PIB, no pós segunda-guerra ela salta para marcas superiores a 25%, chegando, em alguns casos, como nos países escandinavos, a mais de 40%. Esse gasto expressa mudanças estruturais profundas nas economias e não apenas uma configuração política conjuntural. A transformação de uma sociedade rural em urbana exige gastos sociais e em bens públicos crescentes. E a manutenção da hegemonia em um sistema interestatal implica gastos militares da nação hegemônica e de apoio econômico aos seus aliados e protetorados.

O Estado mínimo foi uma peça de propaganda das forças retrógradas que conquistaram o poder após o esgotamento do padrão de acumulação keynesiano, nos anos 1970. A questão real não era reduzir a participação do Estado para os níveis do Século XIX, pois os conservadores sempre defenderam o custo da máquina de guerra que protege seus interesses. Mas, sim, livrar o capital das amarras que impediam uma maior submissão da força de trabalho e também as aventuras financeiras típicas dos anos 20.
Os economistas que passaram anos calculando os custos da ineficiência do Estado regulado, hoje defendem a estatização temporária do sistema bancário americano, como medida extrema. Mas alertam, 'só deve ser adotada a cada século'. E melhor seria se isso fosse feito logo.

A conta trilionária do colapso do mercado autorregulado realmente está causando estupor.

(*)Antonio Prado é doutor em política econômica pelo IE-Unicamp, professor do Departamento de Economia da PUC-SP (licenciado). Atualmente é chefe do departamento de Relações com o governo na presidência do BNDES e docente no IRBr do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

terça-feira, 17 de março de 2009

A emergência da elevação do gasto público contra crise

Até Bush elevou mais os gastos que Lula

Jornal Monitor Mercantil, 16/03/2009 - 21:03
http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58901

Segundo o economista Reinaldo Gonçalves, da UFRJ, para enfrentar a crise, o governo Bush, no apagar das luzes, elevou em 40 vezes mais o gasto público em relação ao produto interno bruto (PIB) do que o governo Lula, a despeito da retórica deste a favor do aumento da participação do Estado na economia.

"Bush aumentou em 20% o gasto, enquanto o consumo do governo brasileiro no último trimestre de 2008 subiu apenas 0,5%", compara o economista, que não diferencia gasto público corrente de investimento público: "Ambos têm impacto na demanda agregada", salienta.

Para Gonçalves, Lula "perde tempo" ao pedir que o colega norte-americano, Barak Obama, regularize o crédito e abdique do protecionismo: "Todo mundo está atrás de crédito. O Brasil precisa de crédito para funcionar (mal). Se Lula fizesse curso de introdução à economia não diria nada. Está muito mal assessorado", critica, acrescentando que retomar a Rodada de Doha, como defende o presidente brasileiro, é impossível: "Os EUA precisam se proteger para colocar economia de volta nos trilhos", frisa.

Para o economista, a conduta do governo em relação à crise é "lamentável" Daí, achar difícil que a economia se recupere até o segundo trimestre: "No primeiro trimestre, as coisas já não vão bem. Nada sugere desempenho melhor. O que existe é uma fortíssima desaceleração."

E destaca que, se confirmadas as previsões para o PIB em 2009, de 1% a 1,5%, os empregos gerados serão insuficientes até para absorver os jovens que ingressarão no mercado de trabalho.

Para o presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-RJ), Paulo Passarinho, o segundo semestre dependerá dos juros e do gasto público: "Temos déficit nominal de 1,5% do PIB e baixar juros compensaria, com sobras, a perda de arrecadação prevista, de R$ 25 bilhões."


***

Comentário:

A intervenção de verdade do governo Lula sobre a crise teria que ser demitindo Henrique Meirelles e equipe do Banco Central e por fim ao superávit primário de 3,8%.

Com as mudanças teríamos além de mais recursos disponíveis também teríamos uma taxa de juros decente (que inclusive permitíria uma economia de recursos públicos, à medida que diminuí a dívida pública)que poderiam ser canalizados para o PAC e outros projetos de obras públicas, para desoneração fiscal dos setores atingidos com a crise, para empréstimos e crédito pelo BNDES e bancos oficiais e para o seguro-desemprego e bolsa-família.

Na poderosa Índia, a fome infantil é comum

Recebi de uma lista de email que faço parte é um artigo do New York Times, selecionado por minha amiga mestre em Economia pela UFU, Fernanda Calasans.

Nas palavras dela "Mais um exemplo da distância entre crescimento econômico e desenvolvimento."


Na poderosa Índia, a fome infantil é comum

NEW YORK TIMES
Somini Sengupta
Em Nova Déli (Índia)

Crianças pequenas, doentes e abatidas são há muito tempo um problema da Índia - "uma vergonha nacional", segundo o primeiro-ministro do país, Manmohan Singh. Mas, mesmo após uma década de crescimento econômico galopante, os índices de desnutrição infantil continuam sendo piores aqui do que em vários países africanos subsaarianos, e representam um paradoxo em uma orgulhosa democracia.

A China, a outra potência econômica asiática, reduziu drasticamente a desnutrição infantil, e hoje em dia apenas 7% das crianças com menos de cinco anos de idade estão abaixo do peso, o que é um indicador crítico da desnutrição. Já na Índia, apesar do crescimento econômico robusto e das boas intenções do governo, este índice é de 42,5%.

domingo, 15 de março de 2009

Conjuntura econômica e crise financeira serão debatidas no dia 16

O grupo PET-Economia da UFF apresenta amanhã, dia 16 de março, às 19h, uma mesa-redonda com o tema: "Conjuntura econômica e a crise financeira".

O debate contará com a presença do professor Paulo Nakatani, presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP) e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Marcelo Carcanholo, Carlos Pinkusfeld e Victor Leonardo, professores da UFF.

O evento será realizado no auditório da Faculdade de Economia, Rua Tiradentes, 17, Ingá, Niterói, e é aberto ao público.

Outras informações pelo telefone (21) 2629-9896 ou pelo site www.uff.br/peteconomia.

Frase do dia

“Só é possível avançar quando se olha longe.”


(José Ortega y Gasset, escritor)

sábado, 14 de março de 2009

Frase do dia

A adaptação as adversidade é importante. Mudança é a chave da sobrevivência.

“Os elefantes demoram a se adaptar, já as baratas sobrevivem em qualquer ambiente.”


(Peter Drucker, pai da administração moderna)

sexta-feira, 13 de março de 2009

Debate: "A evolução da crise econômica e seus efeitos em ambiente de parque produtivo desnacionalizado"

DEBATE:

“A EVOLUÇÃO DA CRISE ECONÔMICA E SEUS EFEITOS EM AMBIENTE DE PARQUE PRODUTIVO DESNACIONALIZADO”

com

- Reinaldo Gonçalves – (Prof. titular do Instituto de Economia da UFRJ);

- Armando Castelar (Analista da Gávea Investimentos e Prof. do Instituto de Economia da UFRJ).

O debate será realizado por ocasião da entrega do V PRÊMIO CORECON/RJ DE JORNALISMO ECONÔMICO- 2008, no dia 26 de março (quinta-feira), às 18h30, no auditório do CORECON/RJ.

Av. Rio Branco, 109/19º andar – Centro/RJ.

O Jornalista Rogério Lessa do Jornal MONITOR MERCANTIL obteve o primeiro lugar no concurso, com a matéria intitulada “A HERANÇA MALDITA DO MODELO NEOLIBERAL”, publicada no dia 27 de dezembro de 2008. O segundo lugar foi para os Jornalistas Luciana Rodrigues e Agnaldo Novo do JORNAL O GLOBO com a matéria intitulada “MONTADORAS MAIS DEPENDENTES DOS MERCADOS EMERGENTES; Setor deve investir mais de R$20 Bi no país; A VOLTA POR CIMA”, publicada no dia 12 de maio de 2008.

Em 2008, o tema do concurso foi “A DESNACIONALIZAÇÃO DO PARQUE PRODUTIVO: quem comanda as empresas brasileiras?”

O debate é aberto ao público e terá início, imediatamente, após a entrega da premiação.


Informações adicionais: (21) 2103-0111 de 9 às 18 horas

Preobrajenski - livros e pensamento

por Almir Cezar Filho
Livros e Breve biografia 

Bolchevique russo, Preobrajenski - Evgenii Alexeyevich Preobrazhensky (1886-1937) - foi o maior responsável pela re-escrita da teoria marxista sobre a economia agrária, particularmente enfatizando a possibilidade da “acumulação socialista” para a substituição do período capitalista (1926) de expansão industrial sobre o excedente do camponês (via preços, não coerção), uma proposição contrária as idéias da Nova Política Econômica e que o levou a um período de exílio na Sibéria. 

Com seu fim, ele brevemente tornou-se um favorito de Joseph Stalin, que o permitiu voltar a vida pública. Previu e criticou a crise causada pelos planos de industrialização de Stalin, que o levou a ser preso em 1936, e subsequentemente fuzilado sem julgamento em 1937.
  • "O ABC do Comunismo", com Nikolai Bukharin, 1920
  • "Anarquismo e Comunismo", 1921
  • O artigo "As perspectivas da Nova Política Econômica", 1922.
  • "Da NEP ao Socialismo", 1922.
  • O artigo "A importância do estudo teórico da economia soviética", 1926.
  • "Nova Econômica", 1926 - seu melhor trabalho
  • O Declínio do Capitalismo", 1931.
  • ”A Crise da Industrialização Soviética - artigos selecionados”, 1980 (póstuma).

A teoria da Revolução Permanente

Não à recessão sem juro alto e aperto fiscal

http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58768
Jornal Monitor Mercantil, 12/03/2009 - 21:03

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, disse que sua "expectativa não é de recessão para este ano". Pochmann não quis adiantar, porém, uma projeção para o produto interno bruto (PIB), mas disse que não esperar que este primeiro trimestre traga uma taxa negativa. Por isso, disse que seria "difícil" haver uma recessão técnica, caracterizada por duas queda em dois trimestres seguidos.

No entanto, o economista Marcos Coimbra, integrante do Centro Brasileiros de Estudos Estratégicos (Cebres), enfatiza que dificilmente o país escapará da recessão sem abandonar antigos dogmas neoliberais, como o superávit primário e a "maior taxa de juro real do mundo".

Para Pochmann, fatores que não se repetiriam no primeiro trimestre deste ano influíram para a queda do PIB no quarto trimestre do ano passado, na avaliação de Pochmann. Seria o caso de um ajuste de estoques que considera já realizado, remessas de recursos de subsidiárias brasileiras de empresas transnacionais para as matrizes em outros países e efeitos das altas da taxa de juros decididas no primeiro semestre.

Pochmann reconheceu haver uma defasagem de quatro a sete meses entre a decisão de aumentar os juros e seu efeito sobre a atividade econômica: "A (alta) da taxa de juros se manifestou mais no quarto trimestre do ano passado, mas já ocorreu. Não ocorrerá mais neste trimestre", argumentou.

Coimbra avalia que o país "perdeu um tempo precioso" por ter demorado a começar com a queda da taxa básica (Selic): "É uma discussão estéril ficar especulando se haverá recessão ou não. O fato é que as conseqüências dessa política econômica serão danosas e a pior delas é o desemprego, pois não temos uma rede de proteção social", resumiu.

Pochmann esteve no Rio para apresentar o Sensor Econômico, indicador do Ipea que avalia a expectativa socioeconômica do setor produtivo do país. A pesquisa revelou que houve queda na confiança dos trabalhadores em relação aos próximos 12 meses. O empresariado, por sua vez, espera câmbio estável, menos inflação e queda de até 3 pontos percentuais na taxa de juros.

Frase do dia

Frase de hoje é para os derrotistas e deprimidos.

“Sucesso é a habilidade de ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo.”

(Winston Churchill, ex-primeiro ministro britânico)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Hidrovias ajudariam o país a sair da crise

por Almir Cezar Filho

O Brasil embora tenha um enorme potencial de transportes fluvial, aproveita-o muito pouco. Esse potencial se aproveitado poderia livrar o país da dependência do transporte rodoviário e ajudaria no desenvolvimento de novas regiões, no combate a crise econômica, com a redução dos custos das mercadorias transportadas e acesso a novos mercados.

O país tem um enorme potencial hídrico não-aproveitado. A atual movimentação de carga por nossos rios e mares poderia ser oito vezes maior do que é hoje. Como exemplo, há a Hidrovia Tietê-Paraná – crucial para o Porto de Santos, o principal porto do Brasil e o maior da América Latina. Com cerca de 2,4 mil quilômetros de extensão, a Hidrovia Tietê-Paraná cruza áreas onde estão concentrados 77% da produção nacional de açúcar e álcool e 37% da de soja.

Os dados são contraditórios à realidade brasileira. Há a perspectiva de investimentos privados da ordem de US$ 1 bilhão para a viabilização de algumas dessas hidrovias como a Tietê-Paraná. Entretanto, a cifra na realidade, não é um valor muito alto se comparado com os US$ 4 bilhões que o estado está gastando apenas na duplicação de alguns trechos da BR–116.

O aproveitamento desse potencial traria maiores benefícios econômicos aos produtores brasileiros na atual crise financeira – uma barcaça típica equivale a 15 vagões de trem e 56 caminhões, além do custo de frete ser 2,6 vezes mais barato que o transporte ferroviário e quase 4 vezes mais que o rodoviário.

O transporte hidroviário ajudaria em muito as atividades econômicas mais afetadas pela crise. Devido à crise, as chamadas "commodities" sofreram uma queda brusca de preços no mercado externo. Reduzir os custos no transporte e na distribuição das mercadorias aumentaria a competitividade dos produtos agrícolas brasileiros.

Outro ponto forte é o desenvolvimento de outras regiões do país e uma maior integração nacional e mesmo internacional. Além disso, soluções intermodais para o transporte poderiam viabilizar um acesso mais barato ao Porto de Santos, como a outros portos vista que este anda sobrecarregado, e uma maior integração com diferentes países da América do Sul e, eventualmente, até uma saída alternativa para o Pacífico através do Equador e Peru, facilitando acesso a novos mercados, alternativos aos EUA, UE e Japão, extremamente mergulhados na crise.

As culpas do Banco Central

12/03/2009 - 07:00
Luís Nassif Online - Coluna Econômica - 12/03/2009
http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2009/03/12/as-culpas-do-banco-central/#more-29339

Ontem o governo da Nova Zelândia cortou os juros básicos em 3 pontos percentuais. A taxa era de 6,5% ao ano, caiu para 3,5%.

Enquanto isto, com a produção industrial registrando quedas recordes, com o PIB do quarto trimestre de 2008 mostrando queda recorde, com os preços sob controle, reunido ontem o Copom (Comitê de Política Monetária) resolveu reduzir a taxa Selic em apenas 1,5 ponto percentual, caindo para ainda expressivos 11,25% ao ano.
***

Durante a tarde, a FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) divulgou um estudo comparativo entre as diversas economias mundiais. Constatou que a queda do PIB (Produto Interno Bruto) brasileira foi a segunda maior do mundo, desde o início da retração da economia global. Saiu de um crescimento de 1,7% no terceiro trimestre para uma queda de 3,6% no quarto.

Mesmo assim, não se identificava uma recessão clássica, daquelas definidas nos livros-texto.

Alguns dias atrás, o economista Yoshiaki Nakano havia identificado bem as razões da expressiva queda dos investimentos e da produção industrial nos últimos meses.

Constatou que houve queda discreta no consumo e praticamente nenhuma queda em serviços.

Qual a razão, então, de queda tão grande? Dois motivos, segundo ele. Primeiro, o corte repentino das linhas externas, que apavorou as empresas, muitas delas enroladas com operações especulativas. Depois, as altas taxas de juros do Banco Central, que aprofundaram o temor geral das empresas.

***

Criou-se, então, a situação estranha do consumo se manter, dos serviços conservarem o dinamismo e da indústria parar.

Em um segundo momento, o que era um reflexo psicológico transforma-se em crise de fato. As empresas demitem, aumenta o desemprego, reduzem as encomendas, afetam a cadeia produtiva gerando mais desemprego. E aí a demanda passa a ser afetada, de fato.

***

O governo, através do Ministério da Fazenda, conseguiu ser rápido em várias frentes.

O movimento falhou justamente devido ao Banco Central e sua inacreditável incapacidade de entender a economia em tempo real. Em dezembro, quando a atividade econômica despencava - conforme os dados confirmam, agora - o BC falava em “atividade robusta”, porque só conseguia enxergar a economia através dos dados oficiais - que em média refletem o que se passou dois ou três meses antes.

Para ter o pulso da economia no momento, é necessário um conhecimento e uma experiência que passam ao largo do BC. Seus diretores conversam apenas com o mercado - entendido por tal os gestores de fundos e os economistas ligados a instituições financeiras. São capazes de conversar com o economista do Bradesco, não com o presidente do banco. Jamais conversaram com donos de supermercados, com diretores de siderúrgica, com entidades da construção civil, com executivos de multinacionais para saberem o que se passava no presente.

***

Com isso, sempre correm atrás dos fatos. Conseguiram transformar a marolinha em uma crise. Era hora de uma queda de 3 pontos na Selic, algo que produzisse impacto.

Com um ano de atraso, derrubam a taxa em apenas 1,5 ponto.

Noticiário: Sinais de Recessão no Brasil. Parte da culpa disso é do Banco Central

Brasil é o 2º país mais afetado pela crise

11/03/2009 - 21:03
http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58701

Um estudo apresentado nesta quarta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo diz que o Brasil é o segundo país mais prejudicado pela crise internacional. Em comparação com vários países, entre os quais Alemanha, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Canadá, China, México e Coréia, o Brasil foi o que apresentou maior retração acumulada do produto interno bruto (PIB) desde o início da desaceleração da economia mundial.

De acordo com a pesquisa, o Brasil acumulou queda de 5,3 pontos percentuais do PIB (soma de todos os bens e riquezas produzidos no país) desde que a crise começou a afetar seu crescimento, no fim do ano passado. De um crescimento de 1,7% ocorrido no terceiro trimestre de 2008, o país apresentou variação do PIB de -3,6% do quarto trimestre.

Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram diferença acumulada de -2,8 pontos percentuais. De um crescimento de 1,2% no terceiro trimestre de 2007 - o último antes do início da desaceleração - o país fechou o quarto trimestre de 2008 com queda de 1,6% no PIB.

Levando em consideração as premissas do estudo, o Brasil só tem melhor resultado do que a Coréia, que acumula diferença de -7,2 pontos percentuais. O resultado, porém, foi acumulado em quatro trimestres de retração da economia. No Brasil, isso ocorreu em um trimestre.

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Nem com recessão, Meirelles?

Jornal Monitor Mercantil, 11/03/2009 - 21:03
http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58705

COPOM REDUZ JUROS EM APENAS 1,5 PONTO, COMO SE CRISE FOSSE SÓ MAROLINHA. PARA CNI, QUEDA É FRUSTRANTE - Embora excessiva para a ortodoxia do Banco Central, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, mostra que, se depender do BC, o Brasil não conseguirá sair da recessão em que já se encontra neste primeiro trimestre.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou a redução de "frustrante". Já o Ministério da Fazenda esperava queda de dois pontos.

Apesar dos desastrosos números do produto interno bruto (PIB) no último trimestre de 2008 e da produção industrial, em janeiro, divulgados na véspera pelo IBGE, o Copom manteve o Brasil na esdrúxula condição de um dos raros países do mundo com juros com de dois dígitos.

Em plena recessão, a queda devolve a Selic ao piso de 11,25% anuais, registrado entre setembro de 2007 e abril de 2008, quando a taxa já era o maior juro real do mundo.

Ao contrário da reunião de janeiro, a decisão de agora da diretoria colegiada do BC foi unânime e tomada em um tempo relativamente curto, cerca de duas horas.

A unanimidade pode ser explicada pelo fato de a decisão dos burocratas do BC ter sido tomada sob forte pressão política. Se a queda fosse ainda menor, poderia expor uma divisão no interior do Copom.

No comunicado distribuído depois da reunião, o Copom, no entanto, tenta se descomprometer com novas quedas dos juros, ao concentrar seu o foco na inflação e não na atividade econômica.

"O Comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária", dizem os burocratas.

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ONU já teme risco de "default" dos emergentes

Jornal Monitor Mercantil
http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=58714

"Os números do Brasil e de outros países em desenvolvimento estão mostrando que entramos definitivamente na primeira grande recessão global desde a Segunda Guerra Mundial", afirmou o prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz. Nesta quarta-feira, o economista anunciou que a comissão que ele preside na ONU para reformar o sistema financeiro apresentará uma proposta para criar um mecanismo para financiar os países em desenvolvimento e evitar um default.

Stiglitz, porém, alerta que a proposta da Europa de reforçar o FMI com US$ 500 bilhões não será suficiente para evitar a recessão global. "A crise não surgiu nos países emergentes. Mas agora eles serão os mais prejudicados. A crise é bem mais profunda que se imaginava", disse.

O pacote de propostas será divulgado na próxima semana, antes da reunião do G-20, em Londres. A idéia da comissão, formada por economistas de todo o mundo, é a de sugerir medidas de curto e longo prazo para reformar o sistema financeiro. A primeira delas é incrementar de forma substancial o financiamento aos países emergentes.