quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

O remédio amargo de Obama ao problema palestino

Essa entrevista com o Brzezinski pode dar umas pistas de como o governo Obama se comportará junto ao conflito Israel - Palestina

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Fim do conflito exige remédios amargos
Zbigniew Brzezinski: ex-assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos; para Brzezinski, não haverá trégua temporária nem acordo definitivo entre Israel e Hamas sem participação dos EUA
Nathan Gardels, The Global Viewpoint
Zbigniew Brzezinski é o Henry Kissinger dos democratas americanos. Polonês de nascimento, ele ocupou o importante cargo de assessor para Segurança Nacional dos EUA durante o governo Jimmy Carter (1977 -1981), forjando a fama de falcão da política externa dos EUA. Nesta entrevista, ele analisa saídas para o conflito na Faixa de Gaza, comenta as opções da Índia frente a ameaças de grupos extremistas paquistaneses e diz como Barack Obama deve lidar com estes desafios.

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Como presidente eleito, Barack Obama prepara-se para entrar na briga geopolítica enfrentando duas crises iminentes - a guerra entre Israel e o Hamas, e a tensão crescente entre Índia e Paquistão, após os ataques de Mumbai. Como obter um acordo de paz entre Israel e palestinos com um grupo armado hostil e negativista, como o Hamas?

Nunca haverá um acordo. A menos que se coloque na mesa um projeto amplo com soluções que sejam atraentes para a maioria dos israelenses e dos palestinos. Essas soluções devem estar num nítido contraste com as consequências desse ciclo implacável de violência que hoje presenciamos novamente em Gaza.
No momento, está muito claro que as duas partes no conflito nunca chegarão a um acordo por si mesmas. Os palestinos estão divididos e isso dificulta sua capacidade de negociar um acordo eficaz. Os israelenses relutam, isso porque alguns estão satisfeitos com a situação tal como ela se apresenta hoje, enquanto outros aproveitam esse impasse para, silenciosamente, expandir os assentamentos na Cisjordânia.
A única maneira de as coisas avançarem é a comunidade internacional, liderada pelos Estados Unidos, colocar na mesa um projeto de um eventual acordo, que deveria ter por base quatro pontos fundamentais: nenhum direito de retorno dos refugiados palestinos; esta é uma pílula que os palestinos vão precisar engolir, mas ela pode ser adocicada pelo reconhecimento internacional de seu sofrimento. Em segundo lugar, Jerusalém deve ser compartilhada de modo equitativo como a capital de dois Estados, Israel e Palestina. É verdade que esta é uma pílula amarga que israelenses terão de engolir. Mas sem isso, nenhuma paz será considerada justa.
Em terceiro lugar, um acordo territorial justo com base nas diretrizes de 1967, com algumas mudanças, permitindo a incorporação por Israel de algumas comunidades mais urbanizadas, além do que foi decidido em 1967. Em troca, os palestinos seriam recompensados com outro território, talvez na Galileia e na região de Neguev. Em quarto, um Estado palestino desmilitarizado e com a instalação de forças americanas ao longo do Rio Jordão, garantindo, assim, a segurança dos israelenses. Esse tipo de acordo teria o apoio da maioria dos israelenses e palestinos, e isolaria os extremistas de ambos os lados.

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A possível alternativa de Obama ao conflito será transformar os territórios ocupados palestinos por Israel em um protetorato estadunidense, tal como vem sendo implantado no Iraque e Afeganistão - trocar a dominação indireta pelo imperialismo ianque exercido pelo regime sionista para uma dominação direta sob a botina dos marines. Em resumo: não há nos planos estadunidenses uma proposta séria e democrática de solução do "problema palestino".

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