sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Neoliberais caras-de-pau dizem que AL não deve adotar medidas anti-cíclicas

por Almir Cezar Filho

Àqueles que não entendem o porquê a posição do Banco Central brasileiro devem ler essas duas matérias abaixo que li na internet. Há uma lógica de pensamento neoliberal e isso vem de fora.

Enquanto nos países centrais os Bancos Centrais e Tesouros estão operando políticas anti-cíclicas (reversão do ciclo econômico) - como forte ampliação do gasto público e redução de impostos e drástico corte nas taxas de juros - os economistas conservadores (que ainda têm cara-de-pau de sair da toca depois do recente debacle do sistema financeiro) estão propagandeando que o Brasil e os países latino-americanos devem tomar cuidado com políticas anti-cíclicas, que ela seriam de antes da pecularidades dessa região na verdade pró-cíclicas, que elas afetariam o esforço de estabilização macroeconômica iniciado nos anos 1990. O ideal seria o Brasil pegar empréstimo junto ao FMI e não usar usar o receituário anti-crise, aguardar sentado a contaminação, continuar com o posicionamento neoliberal das políticas e rejeitar as políticas anti-cíclicas.

Ao meu ver na verdade esses ideologos cara-de-pau estão defendendo as posições dos grandes bancos e especuladores na América Latina que contraíram títulos públicos e posições em câmbio, e precisam que elas estejam protegidos, à medida que podem ser afetados colateralmente as medidas das políticas anti-cíclicas. Como infelizmente as autoridades macroeconômicas da AL se formaram ou estão organicamente ligadas as organismos acadêmicas ou instituições financeiras seguiram sem dó o velho receituário, negando a nova realidade, e procurando justificativas como as duas apresentadas abaixo para manter suas orientações econômicas, orientações que agridem o povo e empurraram a economias nacionais para uma recessão maior da que seria inevitável - tudo na defesa do interesses de um pequeno, mas cobiçoso, grupo.


Para 'Economist', FMI pode ajudar o Brasil em meio à crise
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200812120948_BBB_77692284

Um artigo na mais recente edição da revista britânica The Economist sugere que recorrer ao FMI, ao Banco Mundial ou ao Banco Interamericano de Desenvolvimento pode ser uma boa idéia para ajudar países latino-americanos - entre eles o Brasil - em meio à crise financeira internacional.

De acordo com o texto, intitulado "Preparing for a Tougher Times" (Preparando-se para Tempos Mais Difíceis, em tradução livre), apesar de acreditarem no início da crise que poderiam escapar do pior, a realidade mostrou ser diferente, e os governos da região agora já enfrentam a perspectiva de uma contração econômica.
Mas a Economist diz que a capacidade dos governos de países latino-americanos de injetar recursos na economia a fim de preservar as conquistas dos últimos anos, como a redução da pobreza, é limitada e varia de caso a caso.

Segundo o artigo, o Brasil não é um dos países que está numa das situações mais confortáveis na região.

"Os governos vão enfrentar a restrição representada pela queda da renda dos impostos", diz o texto. "O Brasil está comprometido com um superávit fiscal primário de 3,8% do PIB, com o objetivo de continuar a reduzir o peso de sua dívida. Se diminuir essa meta, isso poderia comprometer a habilidade de o Banco Central reduzir a taxa de juros."

"Nos últimos anos, o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o FMI tiveram pouco trabalho na América Latina porque os governos podiam levantar dinheiro nos mercado de capital. Isso mudou."

"Seria trágico se eventos externos levassem a América Latina a jogar fora a estabilidade econômica que trabalhou tão duro para conseguir", conclui a Economist.

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Revista: corte de juros pode não servir para emergentes
http://br.invertia.com/noticias/noticia.aspx?idNoticia=200812120951_BBB_77692300&idtel=

Em sua edição mais recente, a revista britânica The Economist afirma que medidas anticíclicas, como cortes de juros e aumento de gastos do governo, podem não ser as melhores políticas a serem adotadas por economias emergentes para frear os efeitos da crise.
No artigo intitulado "Can emerging economies now afford counter-cyclical policies?" (Podem as economias emergentes adotar políticas anticíclicas, em tradução livre), a publicação afirma que as medidas anticíclicas - ações normalmente adotadas por governos para minimizar efeitos de "ciclos econômicos", nesse caso com a crise global financeira - podem ser enganosas para os emergentes.
"Diferente dos Estados Unidos, onde a taxa de juros pode cair e o déficit orçamentário aumentar sem maiores calamidades, os mercados emergentes sempre tiveram que se preocupar com a perda de confiança dos investidores e o colapso de suas moedas".
Ainda comparando as economias emergentes com os EUA, a revista afirma que quando o Federal Reserve (o banco central americano) planeja as taxas de juros, se preocupa com a inflação e o crescimento, e não com a estabilidade do dólar.
"Já os políticos de economias emergentes não podem se dar a esse luxo. Nesses países, que são suscetíveis a inflação alta, a estabilidade monetária ajuda a manter os preços e os débitos com o exterior".
Por essa razão, afirma a revista, as economias emergentes devem normalmente aumentar as taxas de juros sob uma ameaça de uma desaceleração, em um esforço para defender suas moedas.
"Essa política monetária pró-cíclica ameaça a economia, infligindo perdas a bancos e para seus clientes, mas pode ser o menor dos males. Países ricos podem suportar uma ameaça a suas moedas com uma negligência benigna, já as economias emergentes não".
A revista ainda afirma que economias emergentes "prudentes" conseguiram aproveitar o tempo em que suas moedas tinham maior aceitação para ter vantagens agora. A publicação cita o Brasil como exemplo, que diminuiu sua dívida em moeda estrangeira e que, com a desvalorização do real, viu a carga de seus débitos diminuir.

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