sábado, 6 de dezembro de 2008

As dificuldades de leitura e entendimento dO Capital

por Almir Cezar Filho

Frequentemente amigos comentam comigo sobre a dificuldade de ler e entender O Capital de Karl Marx. Reclamam da linguagem exageradamente sofisticada e por hora rebuscada, das densidades dos conceitos a cada parágrafo e por fim, uma grande reclamação é o emprego de uma matemática difícil, onde as contas não batem, que muitas vezes um mais um vira cinco.

Além do mais, tem que saber um pouco de matemática para encarar O Capital. Embora Marx não tenha sido um matemático, e apesar disso, trabalhou bem os números, mas não apresentou soluções matemáticas que simplificassem os teoremas e esquemas de reprodução do capital e de transformação dos valores em preços. Colocava tudo em equações múltiplas, sistemas algébricos (duas equações que compartilha as mesmas variáveis), com as soluções das variáveis uma em função da outra.



O problema das contas do O Capital envolvendo as unidades de medidas

Não serei estraga prazeres ou arrogante, mas as contas de Karl Marx são usando como unidade do regime monetário inglês do século XIX ou até de antes.

Esse regime não usava unidades decimais, mas um onde um tipo onde a moeda valia em unidades de outra determinada maneira não decimal. Exemplo é que 1 xelim não valia 10 ou 1000 penis. Hoje uma 1 libra vale 100 cents. Outro exemplo, no Brasil do mesmo período, 1 mil-réis valia mil réis, mais um vintém valia 20 réis, 1 cruzado valia 500 réis, um conto de réis valia 1000 mil-réis, 1 pataca valia 320 réis.

A Inglaterra só irá adotar sistema decimal de medidas (exceto na moeda que adota a algumas década influenciada pelo dólar) agora com a União Européia. Os EUA adotaram primeiro, influenciados pelo Iluminismo e a proposta de reforma decimal métrica francesa da Revolução. Um dólar vale 100 cents.

O problema das contas principalmente é na leitura das equações

Quem lê historicamente e sociologicamente não entende, sem uma bagagem matemática (a álgebra). Entretanto, quem lê matematicamente, mas não sem uma bagagem histórica e sociológica muito menos. Tem que saber o que são as categorias marxianas ali presentes; são justamente elas que assumem a forma matemática através de variáveis e de coeficientes das equações (os "a" e "b" e os "x" e "y").

Para piorar, os marxistas que traduzem O Capital para "linhagem de gente" (interpretações, manuais básicos e resumos e resenhas) sempre procuravam analisar os teoremas e equações em termos de álgebra linear sob forma de equações simultâneas. O ideal seria sob a forma de diferenças lineares, que gerariam matrizes e gráficos - ao invés das problemáticas equações múltiplas - bem mais fácil de ser lidas mesmo para quem sabe pouco de álgebra fundamental.

Qualquer livro sobre O Capital e a Economia Política de Marx ajuda muito. Não sugiro nunca uma leitura crua dO Capital, o que a meu ver, resulta num exercício de masoquismo, ou pior, de achar que ali está algo errado.

Até mesmo Piero Sraffa escreveu de maneira mais simples quando de seu livro "Produção de Mercadoria por meio de Mercadoria", que apresenta uma solução dos teoremas ao dilema de Ricardo do valor-trabalho (fonte primária de onde Marx partiu para formular sua própria solução). Sraffa de formação marxista repele o valor-trabalho marxista e cria o conceito de "valor mercadoria padrão", a meu ver um grave desvio metodológico.

Mandel é uma ajuda no entendimento da Economia Política marxista. Sugiro duas leituras, uma muito matematizante, é o livro de Morishima e Catephores, onde aprendi que as soluções dos esquemas e teoremas de Marx não devem ser feitos por sistemas simultâneos e sim por álgebra linear, e o outro muito bom é o do professor Belluzzo. Ler Preobrazhensky em "A Nova Econômica", não tem contas, mas explica todas as categorias análiticas empregadas por Marx numa linguagem mais acessível, pois as questões metodológicas retiradas dO Capital e aplicados a uma sociedade socialista.

Os livros que ajudam a entender O Capital


Morishima, Michio e Catephores, George. "Valor, Exploração e Crescimento: Marx à luz da Teoria Econômica Moderna". Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980.

Belluzo, Luiz Gonzaga de Mello. "Valor e Capitalismo - um ensaio sobre a Economia Política". São Paulo: Brasiliense, 1980.

Preobrazhensky, E.. "A Nova Econômica".

Bukharin e Preobrazhensky. "ABC do Comunismo".

Mande, Ernest. "Introdução a Economia Marxista"

Um comentário:

  1. O amigo Vinicius lembrou de um nome fundamental para o entendimento dO Capital - Roman Rodolsky.
    Outro nome, devo acrescentar, é de Isaak Rubin.
    Dois nomes centrais para crítica da Economia Política do século XX.

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