terça-feira, 30 de setembro de 2008

A rejeição ao pacote econômico pelo Congresso dos EUA , suas razões e conseqüências

O governo Bush apresentou um pacote de socorro ao mercado financeiro que consistia na prática numa “socialização dos prejuízos”. Compraria os créditos podres e emprestaria as instituições financeira com um custo ao contribuinte num total estimado inicialmente em 700 bilhões de dólares. Há alguns especialistas dizendo que no final esse socorro pode girar acima de 1 trilhão (só a título de comparação o PIB do Brasil gira num valor não muito maior que isso). O Congresso dos EUA rejeitou.
A maioria dos votos contrários veio justamente do Partido Republicano, partido do presidente Bush. É bom lembrar que os EUA, suposta melhor democracia do mundo, possui apenas dois partidos que se alternam no poder a mais de 150 anos. O outro partido, o Partido Democrata, atualmente tem a maioria das cadeiras nas duas câmaras do Congresso, resultado da impopularidade do presidente Bush, que levou os eleitores na última eleição legislativa ao voto na oposição. O projeto de lei para ser aprovado precisava de um número mínimo de votos e dependendo assim dos votos de ambos os lados, o que não aconteceu. Embora os democratas tenham votado em sua maioria a favor, os republicanos não fizeram o mesmo.
Havia um intenso debate se com o pacote não haveria uma espécie de proteção aos banqueiros e executivos que se arriscaram ao extremo e agora seriam premiados com o socorro à custa do cofre público. Num país onde as elites seguem a risca a ideologia neoliberal soava um soco no estomago do cidadão médio e trabalhador. “Quanto estão bem exigem que o Governo fique longe de seus negócios, quando estão mal chantageiam e esperneiam pedindo socorro”. Ainda mais, num projeto apresentado pelo governo Bush, que é visto como o culpado por isso permitindo a farra do mercado financeiro, e com um socorro bilionário aos bancos, Também há no projeto compensações aos executivos e banqueiros que perderem o controle administrativo dos bancos. Enquanto que no mesmo projeto não incluiria nenhum tipo de ajuda aos devedores desses bancos, cidadãos médios e pobres que podem perder suas casas devido às dívidas das hipotecas.
Essa visão pesou na estratégia dos políticos, especialmente os republicanos (automaticamente vinculáveis ao governo Bush), o medo de não se reeleger diante da mácula de proteger banqueiros e executivos, apesar do projeto ter sido bastante negociado entre os dois partidos, pela pressão dos ricos (os financiadores das suas campanhas). Os republicanos usaram uma desculpa - o discurso da líder democrata responsabilizando os republicanos por serem os culpados pela crise e pela necessidade aprovar um pacote desse tipo - e votaram em sua maioria no NO. O que obrigará a reformulação do plano e demora de qualquer forma de socorro.
A questão do NO foi que ninguém quer ficar com a culpa pela crise ou pelos ônus do socorro. Os ricos ficaram surpresos. E essa demora pode agravar a crise, e o grande sinal foi a baixa nas bolsas no dia de ontem.
O pior efeito se deu sobre a bolsa de São Paulo, mas acho que apenas desinflou de vez as ações que havia sumido artificialmente devido a alta das commodities dos últimos três anos, não havendo mais espaço para novas grandes baixas, pois a economia real no Brasil não passa por grave crise.
As baixas de ontem mostraram que o mercado não sabe para onde ir. Os executivos e banqueiros sentiram-se desorientados e meio desamparados, achando que a crise pode ser prolongar e aprofundar. Sabem que o prolongamento da crise pode empurrar os EUA não apenas uma recessão, mas para uma mini-depressão pela contaminação nos bancos comerciais internos e no mercado financeiro da Europa.

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