segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A crise é originária da esfera financeira? (2)

Almir Cezar

Tenho um amigo kaleckiano* que diz que a origem de todas as crises no capitalismo surgem na esfera financeira e depois contaminam a esfera produtiva. Não concordo com ele: acho que a esfera financeira é apenas onde as crise primeiro sinaliza sua aparição.

Acredito que as crise surjam na produção, na queda da taxa de lucro, ou no que Kalecki diria "na queda da margem de lucro". Queda esta proporcionado, consequência, da superprodução relativa, proporcionada pelo sub-investimento dos capitalistas (investimento menor do que o necessário para manter a demanda efetiva no patamar que garanta as taxas de lucros no nível previsto pelo capitalista).

Nos últimos anos a economia estadunidense teve seu crescimento sustendo pela demanda efetiva aquecida pelo recorrente e alto déficit público (que no longo prazo não se sustentam) e no consumo privado em alta pelo crédito fácil. Não havia aumento da produtividade do trabalho (que é menor que por exemplo do que a da Europa), crescimento do salário real, das margens de lucro e do crescimento dos gastos com infra-estrutura e departamento I (setor produtor de bens de capital).

Os ciclos econômicos e financeiros são naturais no capitalismo. Contudo são evitáveis, se o capitalismo for superado enquanto sistema, ou se houver interferência estatal. Entretanto a burguesia não suporta por muito tempo a interferência permanente do Estado sobre a economia.

Se a causa da crise é na compressão da margem de lucro, logo a origem da crise está na esfera produtiva. Que se alastra em seguida rapidamente para a esfera financeira, de onde soa o "gongo" da crise aos capitalistas. O que a partir daí reatroalimenta por sua vez a crise na produção, com o escasseamento do crédito e financiamento, aumento da incerteza e medidas imprudentes ou nefasta dos capitalistas na tentativa de se antecipar a possíveis prejuízos.

(*) kaleckiano - seguidor de Michael Kalecki, economista marxista polonês que junto com Keynes foi o fundador da moderna Macroeconomia ao proceder a análise dos ciclos econômicos a partir dos agregados econômicos

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